A visita do setor Um

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Às quatro e alguma coisa da manhã meu melhor amigo e eu já estávamos caminhando rumo o sul da floresta, pois lá havia maior concentração de animais (cerca de três ou quatro espécies). Quando começamos a caçar - aos 12 anos, aproximadamente - não sabíamos como procurar nossas presas, éramos... Amadores. Agora - aos 18 anos -, Lance e eu sabemos como chamar a atenção deles para que fiquem na posição que precisamos para dar uma única flechada - ou pedrada - fatal. Hoje somos... Profissionais.

Escolhemos o período da madrugada porque é quando os animais estão calmos e sonolentos. Mas hoje, por alguma razão, eles estão agitados e ariscos.
- O que será que eles têm? - eu disse à Lance.
- Eu não faço ideia. - ele parece pensar à respeito. - Eles parecem assustados com alguma coisa vindo do norte.
Analisei o que ele disse e avistei um esquilo médio e gordo o suficiente para render uma semana no jantar. Posicionei minha flecha no arco e mirei. Eu teria acertado se não fosse um alto e estrondoso ruído de motor não o tivesse feito se afastar antes que minha flecha acertasse sua cabeça.

- Droga! - xinguei. - Aquele era perfei...

- Espera! - Lance me corta - Olha. - aponta para um lugar. Eu olho e vejo que se trata da estrada que leva até o nosso bairro. Mas não era a estrada para quem ele apontava. Quatro carros, com roncos de motores intimidadores, passavam pela estrada de barro seco. O primeiro carro e o último eram do tipo... Escolta. Os dois do meio eram pequenos e aparentemente importantes, visto que precisavam de escolta.

- Quem são? - perguntei, já me esquecendo do coelho que me escapou.

- Eu não  sei. - ele disse. - Vamos até lá embaixo ver quem são.

Hesitei. Por algum motivo estranho e desconhecido, a ideia de ir até lá para saber quem são me parecia boa. Muito pelo contrário: parecia-me até perigoso. O céu estava começando a clarear, informando-nos que já passavam das cinco e pouco da manhã.

- Ah, qual é? Vai dar pra trás agora? - ele provocou. Sabe que eu nunca dou para trás.

- Cala a boca e vamos logo! - fingi raiva e comecei a descer da árvore.
Caminhamos, seguindo os rastros dos pneus que os carrões deixaram na estrada de barro seco. Os arbustos escondiam nossos corpos, assim era menos provável que vissem a gente. Não sabíamos quem são, então, todo cuidado é pouco. Chegamos a tempo de ver um cara, que vestia um cachecol de lã azul escura e agasalhos do mesmo material - material que podia custar caro, muito caro -, cumprimentar o nosso... "Prefeito", com um aperto de mão. Ambos tinham a mesma altura que, comparada com a dos caras armados próximos a eles, não era nada. Evien Inart - o homem que comanda o nosso setor - não parecia muito contente por ver o cara do cachecol azul. Parecia mais preocupado. E devo admitir: estava me sentindo da mesma forma.

- Devem ser do setor Cinco. - conclui Lance, sem dar importância.

- Acho que não. O setor Cinco já está aqui para a coleta. Por que mandariam mais? - questionei. - Além disso, eles nunca vieram com escolta, ou com essas roupas que devem custar mais que minha casa.

Ele dá um pequeno riso pela comparação que eu fiz e compreende o que eu digo.

- Vou chegar mais perto. Não sai daí. - ele avisa.

- Lance, não! - sussurrei. Mas ele me ignorou e se afastou.
Começou a sair detrás dos arbustos, e eu me preocupei aind mais. "Não saia detrás dos arbustos, seu estúpido!", eu gritava mentalmente - em vão, claro. Observei aflita ele se agachar e caminhar a passos de elefante, escondendo-se atrás de um dos altos e robustos carros da escolta. Ele estava tentando ouvir a conversa de Evien com o cara do cachecol, quando um ruído de metal sendo destravado chamou a atenção de todos.

Coração De FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora