Prólogo

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O rei seguia com o seu Exército pelas tortuosas estradas que davam para a Floresta Encantada.
​O soberano estava com medo, mas não se deixou abalar. Tinha que mostrar a sua fé para o povo que comandava. Não era a primeira guerra que enfrentava contra os povos do Norte, os trolls. Mas tinha alguma coisa de diferente nessa vez. ​
​Ele sabia os riscos que corria se não conseguisse as terras que tanto almejava. O reino entraria em decadência. Seria obrigado a deixar o trono, perderia a coroa. Ele também pensava na filha. Branca de Neve não estava sozinha no castelo, tinha a sua madrasta, a mulher com quem se casara há alguns meses apenas para ocupar o lugar ao seu lado. Não sentia nada por ela. À noite, ainda se lembrava da sua falecida mulher.
​Era como se ela ainda o assombrasse nos sonhos. Só que ele gostava das suas aparições. Ele realmente a amava.
​A comitiva pára.
​Uma carruagem os encontra no meio de um rio congelado. Uma mulher sai de lá sem precisar da ajuda do cocheiro. Ela sim merecia uma coroa. O rei tenta não encará-la. Ela tinha o mesmo rosto de sua falecida esposa. Os mesmos traços, a mesma força. Ele tentava saber qual amava mais. Mas nunca chegaria a uma conclusão. Ele amou as duas infinitamente. Ainda desejava levar as duas para o altar, mas se castigava com o pensamento. Ele escolheu uma. Na verdade, a mulher de cabelos loiros a sua frente a deixou. Fugiu para a floresta. Ela não se entregaria a homem nenhum. Era jovem demais, independente demais. A família enlouqueceu. Perdeu o controle. Todo o reino falava dela. Que mulher deixaria o conforto de seu castelo e partiria? Partiria para a floresta...
​O rei desce do cavalo e vai até a mulher. Ela faz uma pequena reverência e os dois seguem para a beira da estrada, para dentro da mata. O exército ficou parado, sendo engolido pela neve. De longe, até parecia bonito. As lâminas das espadas perdendo a força, mostrando a sua fraqueza.

– Obrigado por vir.
– Eu não tive escolha, Afonso. – A irmã gêmea da falecida rainha o fita com seu olhar penetrante. O rei não teve como fugir. Ele desmoronou um pouco por dentro. – Este é o meu reino. Não vou deixá-lo morrer.
– Temos que descobrir que encanto foi jogado nele. Tudo está morrendo. Tenho medo que isso chegue a Branca... – Ele dá um suspiro e a moça sente o frio de sua respiração tocar o seu rosto. Eles estavam muito próximos.
– Não se preocupe, cuidarei da minha sobrinha. Mas o que te fez acreditar em magia? Você era um cético.
Lili tocou o seu ombro. Ela não entendia a dor que ele ainda sentia pela perda do seu amor.
– Quando Sophia começou a adoecer, tentei de tudo para salvá-la. Visitei magos de várias regiões, mas eles eram expulsos das terras. Uma força os impedia de entrar.
– Encontrarei a maldição. Que o santo padroeiro de seu reinado o guie. Que venham monstros e seres e que você venha com a vitória. Que a sua espada seja a sua alma. Que o seu sangue bata por quem te ama.
​Ela faz o sinal da cruz em seu peito e sai dali, o deixando sozinho. Afonso ficou a vendo fugir. O véu vermelho preso em seu vestido resistindo ao vento. Ele se lembrava da primeira dança que tiveram. Ela foi a primeira a conhecê-lo. Ele não entendia o porquê dela ter fugido. Aquilo doía nele. Ele queria ter ficado com ela, ter pegado a sua mão e a beijado. Ele queria muitas coisas... 

Lili segue em direção ao reino. Ninguém sabia de onde ela vinha. Mas todos sabiam o que ela trazia em sua cesta: magia. Foram dezoito anos fora. Ela vinha escondida para ver os que amava e voltava do vilarejo comandado pela Vovó. A senhora quem a ensinou tudo o que sabia, a misturar ervas, feitiços de proteção e ataque.
​Ela não tinha medo de sentir o sobrenatural percorrer as suas veias. Pelo contrário, sentia a liberdade. A única vez que sentiu medo foi quando o Lobo invadiu a aldeia e ela pensou em seu filho. Pensou que nunca mais o veria. Ela não podia deixar isso acontecer. Agarrou-se a esse pensamento e junto com outras meninas conseguiram criar uma barreira contra a fera.
​Agora, ela estava de volta. A sua missão era proteger o reino que morria por meio de uma força externa. Lili conhecia o Lobo, suas fraquezas. Mas quem seria ou o que seria que estava fazendo uma terra inteira perder a vida? Só existia um único feitiço capaz de retardar os movimentos da maldição. Até a Vovó tinha suas dúvidas quanto às consequências desse encanto. Mas Lili pagaria o preço.
​Dentro da cesta estava um saquinho com milhares de sementes de macieiras e sete lâmpadas com homenzinhos miúdos. O exército de Lili.

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