— Oi Savannah — O tom de sua voz não era nem um pouco amigável. Meu coração batia forte, podia sentir seus olhos me queimar.
— Oque ele faz aqui, Savannah? — Fred estava com suas mãos na cintura. E agora Savannah?
— Théo dormiu aqui hoje — Engoli seco.
— Sei bem qual é a sua — Seu tom de voz estava alto. Fred se aproximou de Théo e me afastou com o braço. Agora eu estava assustada.
— Fre.. — Ele me interrompeu.
— Não Savannah, eu conheço esse cara não é de hoje, já se aproveitou de muitas meninas por aí.
— Aproveitei? — Riu irônico.
— Não? Vai me dizer que não se aproveitou da Savannah por ela estar muito doente? — Théo me olhou — Savannah já tem problemas o sufiente.
— Não esqueceu de me contar alguma coisa?
— Eu ia te contar.
— Jura? — Eu apenas assenti, ele me olhava furioso — Pra mim já deu — Théo então pegou sua blusa na poltrona e saiu como um jato. Minha mãe apareceu na porta, me olhou assustada.
— Oque aconteceu aqui, Savannah? Théo dormiu aqui?
— Dormiu. Foi apenas um desentendimento mãe, depois falo com você sobre. — Ela saiu e ficou apenas eu e Fred lá.
— Savannah eu.. — o interrompi.
— Minha vez de falar — Respirei fundo — Théo dormiu aqui e foi eu o que chamei, nós quase transamos mas eu passei mal, não rolou. Ele não sabia oque está acontecendo comigo, não fazia nem idéia. Acontece que eu não queria que ele me olhasse como muitas pessoas me olham depois que sabem, olhar de pena. "Ela vai morrer tão nova" "Não terá a oportunidade de ter uma família, coitada". Não, não quis que ele me visse dessa forma. A morte é uma coisa tão natural, a diferença é que ela me alertou antes. Não vou te pedir desculpas, por que não me arrependo do que fiz, eu quis ,porém de qualquer forma não rolou. Se quiser ir embora, eu vou entender, a porta está aberta. — Finalmente consegui respirar novamente.
— Já que é assim — Suspirou — Está bom — Caminhou até a porta. Sentei de cabeça baixa, fechei meus olhos e ouvi a porta fechar. Naquele momento estava prestes a chorar mas daí eu ouvi sua voz — Não vou embora, não me dê chance pra eu ir embora, eu não vou. — Se ajoelhou na minha frente — Lembro que já te fiz sofrer uma vez, me arrependo muito disso. Daí ontem você apareceu, como sempre linda, instigante e eu pensei "como pude fazer aquela menina sofrer?", não perdi tempo de ir falar contigo. Parecia que era a primeira palavra que trocamos. Fiquei digamos que mais enfeitiçado por ti. — Esboçou um sorriso. Pegou em meu queixo e me olhou nos olhos — Quero fazer que os seus últimos dias sejam os melhores, não importa de como difícil isso seja, esse é o meu desejo, princesa. — O abracei forte e comecei a chorar, eram lágrimas de alegria. Fred tinha mudado, pra melhor é claro. Se fosse antes, ouvir isso dele seria um prêmio, outra, iria embora na mesma hora.
— Você mudou — Sussurrei.
— Não mudei, só deixei o cara que estava lá dentro sair — Acariciou meu rosto.
— Demorou em — Sorri.
— Ele pede desculpas pela demora — Beijou minha testa — Estou te esperando lá embaixo, o dia está lindo pra uma praia. — Se levantou e saiu. Fiquei alí deitada olhando pro teto, sem acreditar no que tinha acabado de acontecer. Como o Fred pode ter mudado tanto? O Théo nunca mais vai querer nem olhar na minha cara, embora eu sempre dar tocos nele isso me afetou. Oque ele deve estar fazendo agora? Não queria que as coisas saíssem como saiu, mas e o Fred? quem diria... — Mordi meus lábios — Eu vivi pra ouvir aquilo, eu estou viva, mas quer saber.. Foda—se. Todo mundo vai morrer um dia mesmo. Tomei um banho quente, fiz minhas higienes e saí do banheiro enrolada na toalha. Ísis entrou no meu quarto e trancou a porta, já sabia muito bem oque ela veio fazer aqui.
— O Théo dormiu aqui? — Havia um sorriso em seu rosto.
— Muito curiosa mocinha, faça 18 pra eu te contar — Ri. Pera aí, eu não vou estar viva nos dezoito anos dela — Parei de rir no mesmo momento.
— Estou grande o sufiente pra saber. Eu já transo, esqueceu?
— Ísis, não é porque você transa que você é madura o sufiente pro assunto — Dei um peteleco na cabeça dela.
— Tudo bem — Fez uma voz irritante — Me conta logo! — Insistiu.
— Quase transei com o Théo ontem e o Fred chegou aqui hoje me chamando pra uma praia, que aliás, já estou muito atrasada.
— Sério isso? Não vai contar?
— Quando eu chegar, prometo que conto — Ri — Fofoqueira.
— Quando chegar me chama — Revirou os olhos. Ísis saiu do quarto e eu fui me arrumar. Coloquei um vestido azul turquesa meu que estava larguinho mesmo, para praia não iria ter problema e um biquíni preto por baixo. Peguei meus óculos e desci. Eram 12:00 e Fred estava dormindo no sofá todo desajeitado. Pigarrei e ele acordou no mesmo momento assustado caindo no chão, não pude evitar, acabei rindo.
— Não vale rir, vacilona. — Resmungou.
— Não sofre — O abracei.
— Assim eu fico é feliz por cair — Riu e beijou o topo da minha cabeça — Vamos.
Fomos de carro até a praia que não era muito longe, eu não estava com fome, mas era horário de almoço e o Fred insistiu que eu comesse. Partimos pra um restaurante não muito longe dalí, saímos do carro e entramos no ambiente. Era Self—service, coloquei minha comida e o Fred o dele, quem olhava pro prato deve iria achar que ele estava pondo comida pra nós dois.
— Só vai comer isso? — Ergueu uma de suas sobrancelhas.
— Estou sem apetite.
— Trate de comer, só comendo isso você não sai daqui hoje — Realmente, havia muita pouca comida em meu prato mas eu não estava com fome. Coloquei mais um bocado de comida, sentamos e comemos em silêncio.
— Me diz, continua surfando? — Quebrei o silêncio e coloquei um punhado de comida na boca.
— Contínuo, aliás minha prancha está em bar lá perto da praia. Vou começar a competir mês que vem — Sorriu e voltou a comer.
— Vai competir por aqui mesmo? — Fred sempre foi um bom surfista.
— Califórnia. Mas pode deixar que vou ficar indo e voltando, não precisa morrer de saudades — Sorriu
— Saudades? Jamais — Sorri.
— E você, como está as coisas?
— A doença.. — Me interrompeu.
— Não quero saber da doença, quero saber de você.
— Antes de sair da empresa, fechei um contrato com um cosmético da França. Negócio fino sabe? Mas agora deixei tudo nas mãos do Ryan — Me encarou — Vou ensinar minha irmã a fazer pelo menos prato e quero começar uma aula de violão, saber uma nota será o sufiente pra mim — Sorri.
— Sua irmã a cozinhar? Não foi ela que quase botou fogo na casa uma vez?
— Foi sim — Ri — Ela só é um pouco atrapalhada, logo aprende. Vou ensinar oque ela precisa saber
— Não quero estar por perto quando isso acontecer.
— Não vai pedir um bocado da comida dela depois — Pisquei.
— Faria isso comigo? — Se fingiu estar abalado.
— Não duvide da minha pessoa — Sorri e meu celular começou a tocar, era Ryan.
— Vai lá atender, eu espero.
— Obrigado — Levantei, fiquei em frente o restaurante e atendi o telefonema.
Início de ligação *
Ryan: Aonde você está?
Savannah: No restaurante, vou partir pra praia já já, porque?
Ryan: Com quem?
Savannah: Fred — Ri.
Ryan: Safada.
Savannah: Calado, não quer vir a praia?
Ryan: Quero, achei que não fosse convidar. Estou indo com um amigo
Savannah: Amigo? Só amigo?
Ryan: Está querendo saber demais já, vou levar a sonsa da Amora. Vê se aquele encosto de encruzilhada desencalhá logo.
Savannah: Faz isso, vou desligar agora. Beijão, até mais!
Ryan: Beijo!
Ligação finalizada *
Voltei para a mesa, terminamos de comer e partimos para a praia. Armamos uma tenta lá e pegamos as cadeiras de praia que estavam alugando por lá. A praia estava um pouco vazia, depois apareceu Ryan, com seu "amigo" musculoso Kai e Amora solitária surfista. Ficamos lá na praia, estava gostoso e todos davam altas risadas com o Ryan. Foi anoitecendo e começou aparecer uma galera por lá, do nada aquilo se tornou em um luau. Me sentei perto do Fred e deitei minha cabeça em seu ombro, sua acariciava meu ombro e tudo era motivo pra um beijo e cheiro. Ficamos alí agarradinhos e eu recebi uma mensagem no celular de um desconhecido. Abri a mensagem disfarçadamente.
* Desconhecido: Precisamos conversar.
* Savannah: Quem é?* Théo: Théo.
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Presa ao fim
RomanceNeste exato momento me encontro no hospital "Santa fé" do Rio de Janeiro, com um diagnóstico de câncer de cólon em mãos. O pior é que o câncer já se espalhou e são 99% de chances de eu não permanecer viva. Minha mãe está ao meu lado soluçando de tan...