O boicote à Rede Globo proposto no início do corrente mês me pareceu - com o devido e máximo respeito às opiniões contrárias - fruto da ingênua (ou seria ignorante?) mania de muitos brasileiros em depositar a culpa de tudo que é mazela numa única instituição, pública ou privada, ou pessoa.
Aqui atendo-se, contudo, ao âmbito das entidades privadas, ninguém nega que a Globo ou o boteco do vizinho tem como primeiro objetivo lucrar. Tampouco é novidade o desrespeito e tratamento desumano que a busca pelo lucro pode causar. A maioria aqui provavelmente já sentiu na pele a tortura psicológica que um atendimento de operadora de telefonia celular representa na sanidade de um ser humano. No entanto, daí a erigir como pecado mortal a atividade empresarial e jogar na fogueira do Satanás tudo quanto é negócio (Fifa, Globo, Mcdonald´s, Coca-Cola etc.) é atitude, na minha humilde opinião, ignorante e injusta.
Como tudo nessa vida, as empresas têm seu lado positivo também. Quem gera emprego? Quem financia os grandes projetos sociais? Quem mais contribui com o desenvolvimento (mais que o governo) do País? Ademais, ao contrário do que muitos pensam, a vida de 99% dos empresários não é nada fácil e exige MUITO sacrifício. Tenho certeza mais do que absoluta que muitos, se soubessem a dureza que realmente é, sequer optariam por por enveredar no ramo, se lhes fosse dada a oportunidade. O brasileiro só quer saber de criticar negativamente as grandes empresas. Essas críticas são importantes, necessárias e justas muitas vezes, mas é tão difícil ler ou escutar criticas positivas como "contraponto", que soa um pouco injusto ninguém reconhecer a excelência de termos uma empresa como a Embraer (para citar apenas essa), fabricante de avião, que pouquíssimos desenvolvidos e nenhum outro país emergente tem. O argentino admira e inveja a Petrobrás - como certa vez ouvi de um taxista portenho - outrora motivo de orgulho para o brasileiro. E por que não falar bem também da Globo que, com todos os seus erros, exerceu e exerce papel importante, sim, na História de nosso País?
Por outro lado, estamos em pleno século XXI e esse papo de "contra burguês, vote 16" ou "fora capitalistas" já está manjado. Implantar o comunismo (na prática EXATAMENTE como foi pensado em tese) é minar a criatividade e poder de superação próprios do ser humano. A competição e o consumo são próprios da natureza humana e necessários para a nossa evolução. Ressalva a ser feita: como quase tudo na vida, exige moderação. A competição e o consumo desenfreados e irresponsáveis são assassinos, sim. Daí a necessidade de fortalecer alguns ramos do Direito (como o do Consumidor, o Trabalhista, o do Meio Ambiente etc, o Administrativo e suas agências reguladoras etc), de criar um Estado intervencionista até certo ponto (para equilibrar essa "fome humana" e garantir direitos fundamentais básicos).
Pode demorar até chegarmos nesse Estado "social-capitalista", mas não consegui convencer-me, ainda, de existir um sistema melhor. Controlar a produção e a distribuição dos bens em sistema de igualdade e cooperação e querer que todos os trabalhadores sejam proprietários dos bens de produção¹ é o mesmo que jogar um país ou uma sociedade no ostracismo, isso SE um dia conseguíssemos implantar essa utopia. É frear e estagnar a evolução da própria humanidade, que nunca será igual. Isso não existe. Infelizmente? Sim, infelizmente. Mas é a realidade. E cuidado com as pessoas com motivos espúrios e falsos moralistas que se escondem atrás de ideologias que são verdadeiras falácias, disfarces para atender a interesses próprios. Vamos nos preocupar mais e principalmente uns com os outros, de maneira a cada um fazer sua parte, e lutar por um MÍNIMO (e não por um patamar idêntico para todos, que não existe) de dignidade para todos e menos com essa moda de gerar ódio, violência e depredação do patrimônio dos outros. Um dia poderá ser o seu.
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1 - http://mundoestranho.abril.com.br/materia/qual-a-diferenca-entre-comunismo-e-socialismo-existiu-algum-pais-realmente-comunista
