Capítulo 26

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Pego uma mochila no armário e começo a encher de coisas padrão para "Aventuras ", mas que não sei se vou realmente precisar usar aonde vou. Na verdade, eu nem sei pra onde vou, só sei que tenho que ir pra algum lugar.
Lanterna, garrafa d'água, um canivete, casaco, dinheiro, meu firex ( é um tubo que produz fogo, mas ele não tem fim, foi inventado ano passado, e é bem caro), meias, uma troca de roupa, bolo e frutas secas em um pote, um mapa da Cidade Alta e por fim meu pingente de lua e as fotos do pai. Acho que peguei tudo.
Estou no começo das escadas, na ponta do pé quando me lembro da carta. Volto correndo ao quarto e pego ela na gaveta. Respiro fundo para aliviar a tensão, estou todo rígido e meu estômago dói. Fecho a porta com cuidado, espero que correndo de volta eu não tenha acordado ning...

-  Onde você pensa que vai, Lucas?

Oh oh.

- Ahn, eu só, eu só...Eu tava só indo...

Por quê fico tão nervoso mentindo? Nunca consegui enganar ninguém na minha vida toda. Lino se aproxima de mim, de pijamas e um robe, mas muito bem desperto.

- Sabe que horas são?
-Sei...mais ou menos. Quando saí do quarto da primeira vez, o relógio marcava as 28/7, mas já deve ter passado um tempo desde que..

Ele me interrompe com um aceno de mão.
- O que é isso com você? Está fugindo?
- O quê? Não! Quer dizer, mais ou menos, mas não fugindo fugindo, só que tenho que fazer uma coisa.
- E essa 'coisa' não podia esperar até de manhã?

Assim não vamos a lugar nenhum, é preciso mudar a estratégia e contar toda a verdade.

- Lino, olha, quero que confie em mim, sim? Eu tenho recebido alguns sinais estranhos, e notado coisas que eu nunca tinha notado antes e acho que elas me levam ao meu Grande Motivo, entende? Além do mais, esse aniversário eu ganhei um colar estranho é um relógio do pai que é muito curioso. Tem alguma coisa que o mundo está tentando me dizer, e eu preciso escutar. Pelo menos dessa vez.

Respiro no final, tomando ar. A expressão de seu rosto é ilegível.

- Que colar é esse?
- Depois de tudo que falei, é isso que pergunta?

O que há com esse colar que hipnotiza as pessoas? De qualquer modo, tiro ele de dentro da camisa e mostro o pingente .

- Oh! Você ganhou esse do pai?

Ele está chocado, posso ver. Suas sobrancelhas arquearam, seus olhos se abriram muito e a boca também.

- Não,  da mãe. Do pai foi o relógio de parede.

Ele assente lentamente. Está pálido e sério.
- Eu não queria te acordar, me desculpe.

Tento suavisar, mas ele encara o vazio ao meu lado, e não parece ter me escutado.

- Eles não quiseram me dizer nada.

Ele sussurra tão baixo que não tenho certeza de que foi isso mesmo que eu ouvi.
- An, Lino, tá tudo bem?
- Eu não pude ser. Ele pôde. Eles não se importaram comigo.

Ele continua falando naquela espécie de transe, baixo e numa voz monótona. Estou começando a me assustar de verdade, nunca o vi assim.

Então abruptamente, ele parece retornar a si, e me encara.
- Está tudo bem, Luke, não precisa se incomodar. Eu vou voltar para a cama.

O quê?

Em momento está brigando comigo, no outro está aéreo e no seguinte diz que vai dormir? Que diabos...
E tem o jeito que falou meu nome, como se fosse amargo dizê-lo. E tinha também uma pitada de alguma outra coisa, talvez desprezo ou até...inveja. Sentimentos que claramente não combinam com ele.
Mas logo ele sorri e me deseja boa noite. Quando estou descendo as escadas, olho para trás e o vejo sorrindo.
Um sorriso frio e malicioso, tão rápido quanto um raio, cruzou seu rosto amável.
- Tome cuidado, irmão.

Ele diz a distância. Aceno com a cabeça e fecho a porta atrás de mim. Devo estar louco, ou com sono, ou imaginando coisas. O Leandro que eu conheço seria incapaz de sorrir daquele jeito sinistro.
Mas o pior de tudo, é que tenho certeza do que vi.

Antes que o tempo acabeOnde histórias criam vida. Descubra agora