Bunker

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Nota.: um brownie (além de ser aquele bolinho), é um ser pertencente ao mundo das fadas, podendo receber outro nome em outras culturas. Utilizei sua concepção do folclore britânico que o considera um ser fantástico pequenino e ligado ao trabalho doméstico.


Fiquei recostado na poltrona remexendo os bolsos em busca de mais cinco reais. Parando pra pensar, não fazia sentido algum, comprar uma poltrona que faz massagens se você tem que ficar depositando dinheiro a cada cinco minutos. O Beto saiu detrás do balcão segurando uma nota de cinco mangos e aquela garrafa escrota que agarrava com tanto prazer.

"Você não vai me fazer beber isso novamente vai?".

"Admita que é uma ocasião especial". Disse o brownie com um sorriso que mal podia disfarçar a própria tristeza.

"Alguma droga do passado. Tô ligado". Agarrei o dinheiro de suas mãozinhas antes que ele começasse sua tagarelice sobre as melhores bebidas e os grandes nomes da história da humanidade.

"Só para constar, esse é um conhaque Brugerolle de 1795, exemplar único. Napoleão abria uma dessas com seus soldados sempre que venciam uma batalha". Fiquei calado por um tempo olhando a expressão solene do meu amiguinho, dando um tempo para ver até onde ele se inflaria com tamanha soberba.

"Não me lembro de ter autorizado essa compra Corirbertolorizanefronte". Esse é o seu nome verdadeiro e só o uso quando quero amendrontá-lo. Sempre funciona.

"Você estava montando aquela garota com o nariz cheio de giz quando autorizou". Busquei na memória. Nada.

"O meu nariz ou o dela?".

"Isso importa agora?". Ele deu de ombros abrindo o lacre da garrafa.

"Claro que importa seu merdinha!". Ele tentou sorrir maliciosamente com a mesma taxa de sucesso que uma criança tem quando quer ser sarcástica.

"Você mandou que eu comprasse não somente uma  garrafa, como também um iate".

"Um iate?".  Tentei esconder a minha surpresa, mas era tarde demais. Já devia ter arregalado os olhos.  Por um momento desconfiei que ele estivesse me roubando, mas brownies têm aversão por dinheiro.

"Sim, mas não comprei. Você quase não sai desse buraco. A menos que você estivesse planejando me mandar de volta..." .

"Nem passou pela minha cabeça". Menti.

Girei a bebida no copo e tomei de um só trago. Que diferença ia fazer fingir que era um apreciador de conhaque quando na verdade só tomava a bebida quando estava perdido em pensamentos? Beto pareceu adivinhar por onde minhas dúvidas navegavam.

"Juro que não tive nada a ver com o lance da loteria".

"Sei sei. Você já disse isso um milhão de vezes.". Mas sempre ficava bolado com essa história sem pé nem cabeça. Um dia voltando da faculdade, minha namorada me liga terminando nosso namoro, ali mesmo por telefone, como quem pede uma pizza. Tinha ido de ônibus e resolvi torrar os vales transportes em bebida numa barraquinha próxima da parada de ônibus. Acho que foi nessa época que comecei a gostar de conhaque. De qualquer maneira, me lembro de ter que voltar a pé, mal segurando meus livros e mastigando um espetinho de carne enrolado na farofa. Achava que o Beto era um rato, que vinha me seguindo o caminho inteiro até em casa, na esperança que eu vacilasse para ele sair correndo com o espeto. Então joguei um pedaço no mato onde achava que o rato estava só pra ver o que acontecia. O mato se moveu, o Beto apareceu e disse:

"Porra mano, ta querendo foder comigo? Pra quê jogar comida no chão?". Fiquei paralisado por alguns segundos, achando que estava projetando a minha frente uma imagem de um Topo Gigio mafioso. Foi tipo contato de sei lá quantos graus, alucinação braba, Alice no País das Maravilhas, essas merdas. Ele ficou me olhando e perguntou:

Beto e o fabuloso bunkerOnde histórias criam vida. Descubra agora