Caffé Mocha

Prólogo

Chovia muito naquele final de tarde. As gotas escorriam pela janela da igreja como as lágrimas escorriam dos rosto de todos que haviam a conhecido. Morreu jovem - tirada da vida e do convívio daqueles que amava muito cedo. Uma fatalidade, diziam. Um infortúnio do destino.

Ninguém nunca espera que os filhos morram antes dos pais. Ninguém espera que as pessoas que ainda tinham tudo pela frente para viver partam desse mundo. E isso pode acontecer num segundo. Num simples piscar de olhos. No estalar de um dedo. E ninguém nunca está preparado. Como estar, afinal? Como suportar a dor da perda?

Como continuar vivendo quando sua rocha não está mais ali, te prendendo a Terra?

Quando uma pessoa jovem morre, sempre fica aquele sentimento de tristeza latente pairando pelo ar. Como seriam as coisas se ela ainda estivesse ali? Porque fora arrancada desse plano tão precocemente?

Algumas pessoas acreditam que viemos á Terra com uma missão e partimos quando a concluímos. Talvez a missão dela estivesse concluída, mesmo que parecesse um tempo tão curto para quem ficou por aqui. Mas talvez sua alma já soubesse que não teria muitos anos naquele plano. Já soubesse que desceria para ensinar, resolver, mudar a vida de alguém e depois retornaria ao campo dos céus, esperando ser designada para outra missão.

Era nisso que Lauren se agarrava para suportar a morte da melhor amiga, que partira num terrível acidente de barco dois dias atrás. Custou muito a acreditar que, daquele dia em diante, não veria mais o sorriso branco e divertido da mulher. Que não poderia mais correr para seus braços quando o mundo se tornasse um fardo grande demais para carregar sozinha. Lauren só não estava mais desolada que a namorada de Cassandra. A latina havia passado as últimas duas horas enrolada em uma bola num canto afastado na igreja, temendo se aproximar muito e ser escorraçada de lá pela mãe de Cassie.

Lauren não entendia com que direito Anne fazia aquilo - não quando tinha virado as costas para a garota tantos anos atrás. Não quando a colocou para fora de casa quando Cassie assumiu para todos que jamais casaria com um homem, que jamais conseguiria se apaixonar por um. Não quando seu coração batia mais forte por uma colega de classe das duas.

A morena fora uma das únicas pessoas que ficou ao seu lado. Ficou ao seu lado desde quando se conheceram nos corredores do colégio. Ficou ao seu lado em cada coração partido, cada lágrima de tristeza ou de alegria, cada único momento naqueles dez anos. Coisa que sua mãe, que sua própria família não havia feito.

Então lhe revirava o estômago ver Anne fazendo a cena de mãe arrependida quando nunca se dignara a ligar para a filha naqueles anos todos, quando não se preocupara em ser parte de sua vida. Ao contrário da latina que chorava a partida de seu coração. Era extremamente doloroso ver Camila daquele jeito.

Lauren queria ir a confortar de alguma forma, mas temia que a latina a empurrasse da mesma forma que havia feito antes. Seria muito doloroso. Então deixara o serviço para a melhor amiga dela - uma mulher baixinha, de cabelos castanhos claros e olhos cor de mel. Tinha a conhecido poucos meses atrás, quando Cassie havia as convidado para seu jantar de noivado.

- Lauren?

Ouviu seu nome sendo chamado e virou para encontrar a baixinha a encarrando com os olhos tristes. - Oi, Ally.

- Queria te pedir um favor. - mudou no lugar de forma desconfortável e Lauren acenou para que continuasse. - Você pode ficar um pouco com a Mila? Eu acabei de receber uma ligação do meu marido e preciso ir buscar nosso filho na avó. Sei que ela recusou sua ajuda antes, mas você é a coisa mais próxima que ela tem de Cassandra.

- Eu posso sim. Já não aguento ficar aqui olhando para a mãe da Cassie.

Uma careta de concordância foi trocada entre as duas e então Ally fez seu caminho para a saída, sendo acompanhada pelo olhar desamparado de Camila, que voltou-se para Lauren após alguns momentos.

O que a morena viu ali quebrou o resto dos frangalhos de seu coração. Camila estava completamente destruída com a morte de Cassie e com o que acontecera quando Anne fizera aquela cena terrível na porta da igreja. Os olhos castanhos ansiavam por um conforto que Lauren sabia não poder oferecer.

Mas tentaria. Naquele momento, olhando a escuridão naquele olhar, fizera uma promessa a si mesma. Jamais deixaria a latina desamparada e faria de tudo para que Camila pudesse se despedir corretamente da noiva.

Nem que para isso tivesse que passar por cima de Anne Cavanaugh.