Simplesmente...

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  12:05 minutos, Cozinha de lua.

  Estou cansado de ser vilipendiado, incompreendido e descartado

Quem diz que me entende nunca quis saber

Aquele menino foi internado numa clínica

Dizem que por falta de atenção dos amigos, das lembranças

Dos sonhos que se configuram tristes e inertes

Como uma ampulheta imóvel, não se mexe, não se move, não trabalha

  Cantarolo baixinho Clarisse de Legião Urbana enquanto termino de refogar a minha cenoura. termino de preparar meu almoço, arroz integral, ervilhas e  guizado de cenoura, ser vegetariana é uma experiência muito boa, você deve experimentar.

   Almoço sozinha, pensando no meu belo Sr. M. Naqueles olhos, naqueles lábios, na forma que ele fala. Por que será que gosto dele? Acho que é porque ele é super inteligente. Sinceramente tenho um fraco enorme por garotos inteligentes, prefiro os inteligentes que os bonitos.

  Termino de almoçar, arrumo a cozinha e subo para meu quarto. Termino minhas tarefas, leio alguns capítulos de um livro que peguei na biblioteca pra me distrair, - Era dos Extremos, O breve Século XX  1914/1991- e me lembro em um salto que tenho um encontro marcado com o Bem.

  "Droga garota, qual o seu problema? Sair com um garoto que você não gosta? " Pensei seriamente em desmarcar. Mas ele não estava online no whatsapp.

  "Bem vou ter que encarar isso não é?"

   Tiro a roupa da escola, coloco um shorts jeans e uma camiseta  azul  escrito "I'm ice" em letras  brancas. Calço um all star preto, meias com um pé vermelho e outro amarelo, pego meu celular  e meus fones de ouvido e  vou em direção a escada.

  Quando passo pela sala ouço barulhos na cozinha, vou até la e vejo a televisão ligada em um telejornal da região.

  " E a taxa de criminalidade na cidade só aumenta. Hoje pela manhã, um jovem foi encontrado morto nas raízes do grande carvalho da praça Marechal Saldanha Peixoto. Seu corpo foi encaminhado ao IML, e já foi identificado, o jovem tinha 17 anos e se chamava Otávio Henrique da Costa  Oliveira. Seu corpo mostrava sinais de agressão e ...

  Não consegui mais ouvir depois daquilo. Como? Ele? Que brincadeira de mal gosto é essa? Meu Sr. M ? O meu Otávio? Não poderia ser... Com certeza deve ser outro... Devem existir vários garotos de 17 anos na cidade com esse nome...

  Desligo a televisão e saio correndo de casa. Tranco a porta desajeitadamente e corro.

  Corro sem rumo por um tempo, sem pensar em nada exatamente. Quando percebo, meus pés haviam me levado à casa de Mariana.

  Meus olhos estão embaçados. "Mas que droga.. Quando é que eu comecei a chorar?" 

  Bato na porta desesperadamente. Ana me atende. Ela está com um semblante triste. "Não.. por favor.. não."

  Me lanço em seu abraço. E choro. Choro tudo que não chorei quando minha mãe morreu. Choro tudo que sempre me recusei a chorar. Choro como se não houvesse amanhã. Choro e choro... E é só o que sei fazer. Ana me abraça sem dizer nada. E eu simplesmente choro.





O Sr. MistérioOnde histórias criam vida. Descubra agora