Melancólico e com o copo cheio, aquele homem - de pouco mais de trinta e cinco anos -, pensava. Diante de seus olhos se passava um filme com os melhores momentos dos últimos meses que teve o prazer de passar ao lado dela, a única mulher que já amara com tanta intensidade.
Sentado em sua velha poltrona de veludo vermelho, bem acompanhado de seu conhaque, ele também observava o céu pela janela escancarada a sua frente. Gostava de se sentar exatamente ali, com as fotos espalhadas pela mesa, apenas observando o que lhe foi tomado. A memória dela era tão intensa que era quase palpável, e ele sentia raiva pelas coisas que dissera no calor do momento, ah, como sentia... Mas ele tinha sido sincero... não tinha?
Naquele momento tudo do que tinha certeza era: estava com o seu coração na mão, e temia por deixa-lo morrer. Sabia que precisava dela mais do que os peixes precisam d'água, e os homens de ar. Era ela quem o mantinha a salvo, com os pés no chão, e não o deixava se perder.
Bem baixo, quase inaudível, tocava uma bela melodia. A preferida de Jon, claro, pois era a preferida de Melanie. Melanie... Ah, como ele sentia falta dela. Ele lembrava-se do olhar, oh, o olhar... Aquele mesmo olhar que o enganou. Os lábios rosados e úmidos que lhe traziam desejo, eram os mesmos lábios que o ofenderam. Sentia falta de vê-la sorrindo e dançando, perdida em suas manias que a faziam ser única.
Jon lembrava-se fielmente daquela noite em que dançaram, pela primeira vez, uma de suas músicas favoritas, que agora havia substituído a melodia instrumental de antes.
Flashback ON
Era tarde já, e o rádio choramingava uma canção do The Police, bem baixinho, e Melanie observava a escuridão pela janela da sala, enquanto bebericava de uma taça de vinho e tragava um cigarro.
Naquela época a relação dos dois não era das melhores, e Melanie tinha medo. Só conhecia o nome Jonathan Adams, mas não sabia ainda quem o homem por trás dele realmente era.
Quando percebeu que a porta tinha sido aberta e alguém havia entrado, Melanie virou-se e passou a encará-lo; sua mente, repleta de questões, e seu coração disparado. Jon encostou a porta atrás de si e caminhou até o centro do quarto, mantendo seus olhos em Melanie o tempo todo. Ele sentia-se intrigado com ela, e, principalmente, em como sentia-se perto dela. Quase como se não fosse ele quem estivesse ali, mas sim outra pessoa.
Outro homem.
Talvez Melanie estivesse um pouco alterada devido a bebida, não sabia e nunca saberia se a vontade de se aproximar de Jon era devido ao álcool, mas não importava naquele momento, pois ela sentiu-se intrigada com aquele homem diante dela. Quis chegar mais perto, e, ao sentir aquele perfume, característico de Jon, respirou fundo.Jon pegou a taça da mão de Melanie e a bebeu, depois deu suas costas a mulher por alguns segundos, apenas para depositar a taça vazia em cima da mesa. Voltou-se para ela e, sem saber direito como prosseguir, reparou na música Every Breath You Take, que tocava baixa, servindo como trilha sonora para aquele momento. Aproximou-se e a encarou diretamente nos olhos, enquanto depositava suas mãos na cintura de Melanie e ela abraçava seu pescoço, fechando seus olhos.
Assim, ao som de The Police, começaram a se mover com calma pelo quarto.
Melanie manteve sua respiração lenta e pesada, com seus olhos ainda fechados, enquanto tentava controlar o que sentia e pensava. Tê-lo assim, tão próximo de si era perigoso, mas tudo o que seu corpo desejava era o toque de Jon. Não teria como saber o que se passava em sua cabeça nesse momento, mas ela sabia, com toda a certeza, que aquele calor, aquela química, era real.
Era quase palpável.
Quando ela abriu seus olhos o viu parado a menos de um palmo de distância. Os olhos de Jon, de um azul profundo e intenso, estavam depositados sobre os dela. Seu coração disparou, sua respiração acelerou, e quase como num acordo mútuo seus corpos se chocaram num misto de raiva, amor e paixão. Melanie deixou que as mãos de Jon viajassem pelo seu corpo, tocando cada centímetro dele, enquanto se beijavam apaixonadamente. Cambalearam, sem se desgrudar por um segundo se quer, até que encontraram a cama. Jon jogou Melanie nela e, sem mover seus olhos dos dela, tirou sua calça e a largou em um canto qualquer. Segundos depois as roupas de Melanie foram jogadas para longe, assim como a última peça de roupa dele. Sua pele, tão quente e macia, fazia o coração dela disparar - como nunca tinha antes - a cada nova parte descoberta por suas ávidas mãos.
A cada beijo e toque uma sensação nova era descoberta, e era incrível a maneira com que o corpo de Melanie respondia aos estímulos de Jon. Sua pele, arrepiada com sua respiração quente sobre seu pescoço; seu coração, que batia furioso; e seus pulmões que clamavam por ar de uma forma tão desesperada. Melanie pode dizer com certeza que estava completa - e intensamente - entregue a ele e aquele momento, pelo qual esperou mesmo sem saber. Tudo por causa de um olhar, um sorriso e um beijo roubado.
Flashback OFF
Pela total quebra de barreiras e limites entre seus corações, foi assim, sem dizer qualquer palavra, que aquele momento virou uma das melhores memórias de Jon. Ele não sabia, mas Melanie sentia-se da mesma forma.
Lá, naquela sala, ambos permitiram-se sentir aquilo que mais tarde chamariam de amor, de forma desinibida. Totalmente entregues ao momento.
Mas, ali naquele instante, Jon queria gritar, jogar seu copo na parede e vê-lo se estilhaçar enquanto sentia uma brutal vontade de arrancar seu coração com as próprias mãos, apenas para que a dor de não tê-la ali fosse embora.Encheu seu copo mais uma vez com conhaque e o bebeu como se sua vida dependesse daquilo, mantendo sempre aquele olhar amargurado preso em seus olhos.
Em sua cabeça ecoou outra memória, desta vez Melanie ria alto, e por um segundo Jon pensou tê-la ouvido realmente ali.
"Éramos felizes", pensava ele. Gostaria de poder entender como tudo mudou de repente, e perguntava-se onde foi parar o amor. Aquele mesmo amor que lhe trouxe felicidade em tempos de outrora.
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Depois de nós
Short StoryJá dizia Friedrich Nietzsche: há sempre alguma loucura no amor, mas há sempre um pouco de razão na loucura. "Posso dizer com certeza absoluta de que estava completa - e intensamente - entregue a ele e aquele momento, pelo qual esperei mesmo sem sabe...