O dispertar

113 25 5
                                    


...

Acordei, hoje é meu aniversário e estou feliz pelo jantar que vai acontecer lá em casa, tudo vai ser perfeito e eu vou estar perto das pessoas que eu mais amo na vida fazendo umas das minhas coisas favoritas que é comer, só tem um, porém, no momento estou amarrado em cadeira e tanto meu pescoço quanto minhas costelas doem muito, está tudo escuro e em silêncio, minha boca se encontra amordaçada e por mais que eu tente, todo e qualquer pedido de socorro soam como um simples ruído em meio ao vaco.

Não sei a quanto tempo estou ali, não sei se é dia ou se é noite, mas por ter um galo cacarejando lá fora suponho que seja de manhã. Não faço a menor ideia pelo qual motivo meu pai está fazendo isso comigo, chego a achar que nem tem motivo já que ele não deu explicações, quando eu era criança ele adorava esse tipo de castigo, como queimar minhas mãos quando eu quebrasse algo, me deixar dentro de um quarto o dia inteiro trancado sem beber nem comer nada , ou até mesmo furar as pontas dos meus dedos com alfinetes para me castigar por ter pegado algo que não devia, e ele só parou depois que eu cresci e descobri meus direitos e com isso ficou com medo de continuar com aquele tipo de coisa. Meu pai foi criado por um Sargento do exército que acreditava que a violência era a melhor maneira de educar, e a única diferença que havia nos dois era que meu o pai era muito mais medroso e covarde.

Me perguntava se minha mãe sabia daquilo, mas com certeza ela sabia, Dona Estela nunca foi de me proteger quando estava sendo torturado pelo meu pai, o máximo que ela fazia era gritar para ele me fazer chorar mais baixo, para não atrapalhar a leitura dela. Por muito tempo eu ocultei todas essas lembranças e cheguei a duvidar se seriam sonhos ou realidade, até aquele momento, eu nunca contei essas coisas para ninguém, meus avós maternos com certeza não iriam gostar de saber já que eles eram os únicos que eu sentia que gostavam de mim naquela família, e talvez derive desse motivo o fato de que eu nunca podia ir visita lós quando criança.

É natural do ser humano interpretar tudo que ele não consegue ver direito a sua imagem, e por isso as vezes de madrugada quando eu estava no meu e olhava fixamente para algum ponto sempre achava que tinha alguém ali me observando, mas naquele momento sentia como se eu estivesse rodeado por pessoas e podia jurar que cada vez apareciam mais e todas pareciam ter olhos vermelho e uma olhar triste , o escuro nunca foi meu melhor amigo já que foi nele que eu sempre depositei todos os meus medos e traumas.

Quando senti alguém abrir a porta fingir estar dormindo, ao entrar a luz de fora pude notar que eu estava virado de frente para uma parede azul, isso significava eu estava no meu quarto da casa de Saquarema. A porta logo foi fechada de novo e o quarto voltou ao breu que estava antes, estava tudo em silêncio e queria acreditar que não havia ninguém ali além dos adoráveis homens sombra, mas estaria me enganando já que sentia a vibração dos leves passos e o calor que estava sendo liberado por algum corpo ali presente. Ouvi barulho de uma cadeira de ferro sendo arrastada para perto de mim, aquele barulho estridente me fazia ter vagarosos arrepios, como não enxergava apenas ouvia e tentava distinguir cada som, sabia que naquela altura do campeonato havia alguém sentado na minha frente me encarando no escuro e o máximo que eu poderia fazer era esperar que o ser em questão se manifestasse.

- Kevin? Me diz que tudo isso é uma mentira. - Soou a voz da minha mãe fraca, em meio àquela escuridão sem fim.

Como eu não podia falar fiquei sem responder. Depois de algum tempo quietos, ela usou a luz da tela do seu celular para iluminar um pouco o local e então quando viu que eu estava amordaçado começou a chorar e abaixou a cabeça a apoiando sobre minhas pernas, ouvia ela falar que aquilo era uma mentira e que meu pai havia apenas havia enlouquecendo e eu continuava ali quieto com as lagrimas correndo pelo meu rosto esperando que ela me desamarrasse logo. Alguns minutos se passaram e ela levantou a cabeça novamente, àquela altura o celular já tinha a apagado a tela e quando ela voltou a acender vi o rosto da minha mãe todo borrado com maquiagem, assim que ela viu as lagrimas no meu rosto pareceu surpresa e voltou a falar.

Notas de um amor.Onde histórias criam vida. Descubra agora