"But when the pain cuts you deep
When the night keeps you from sleeping
Just look and you will see
That I will be your remedy..."Duas semanas haviam passado desde o enterro de Cassie. Aquela manhã era curiosamente muito parecida com aquele triste dia - chuvoso, frio, pesado. Lauren sentia-se claustrofóbica dentro de seu apartamento. Era um sentimento muito comum aos seus dias desde que Cassie havia partido daquele mundo.
Custava tanto a acreditar.
Levantou de supetão do sofá onde já estava há horas, determinada a sair um pouco e espairecer, mesmo com o clima pouco propício. Mas ficar ali era infinitas vezes pior do que enfrentar a leve chuva que despencava dos céus. Parecia um castigo divino; condenada a uma existência onde havia perdido a melhor amiga que por acaso era noiva da mulher por quem tinha uma queda e jamais superaria a perda.
Alguns chamavam aquilo de karma e Lauren não conseguia encontrar força de vontade e si própria para negar o inevitável. As vezes era como a vida era. Tão simples quanto 1 + 1.
Lauren nunca foi realmente uma fã de matemática.
Calçou o coturno gasto que descartara ao lado da porta e pegou o celular que largou de qualquer jeito sobre o pequeno balcão da entrada. Logo ganhava os corredores pintados de amarelo desbotado e se perguntava se um dia eles deixaria de parecer tão sem graça - faltava cor naquelas paredes e cor no mundo.
- Bom dia, senhorita Lauren. - Oliver, o porteiro, a cumprimenta educadamente quando a morena chega na recepção. Ele tinha mais de setenta e cinco anos, cabelo ralos brancos escondidos no quepe e uma barriga premoniente que tentava disciplinar com o cinco de couro negro. - Vai sair nessa chuva?
- Não está tão forte, Olie. - a morena sorri para o senhor. - E eu preciso sair um pouco de casa. Ficar aqui está lentamente me deixando louca.
- Ainda triste com a morte de sua amiga? - pergunta carinhosamente.
- Um pouco. - dá de ombros, sentindo os olhos arderem com a lembrança da melhor amiga. - Faz duas semanas hoje. Eu só estou me sentindo deprimida demais para continuar sozinha no apartamento, pensando que a qualquer momento Cassie pode me ligar e me chamar para tomar um café ou se convidar para assistir um filme na minha televisão.
- É duro perder quem se ama, criança. - o senhor dá um tapinha consolador no ombro da morena e oferece um sorriso pesaroso. - Eu sei bem disso, vivi muito anos e perdi muitas pessoas que amei. É por isso que posso lhe garantir uma coisa. Depois de um tempo a dor diminui, mesmo continuando a existir. Ela nunca vai sumir, mas com o passar dos anos você aprende a administrar a dor, aprende a viver com ela e um dia acorda e lembrar da pessoa não machuca mais. Lembrar da pessoa te conforta.
Lauren ficou pensando naquelas palavras longas horas depois que deixou o prédio onde morava e ganhou as ruas de Chicago. De alguma forma, as palavras de Oliver a consolaram. Acalmaram seu coração que sangrava; um dia ela acordaria e lembrar de Cassie já não lhe traria dor.
Resolveu parar num pequeno café quando a chuva que antes era calma apertou - não faria mal algum tomar uma boa xícara de café e comer alguma coisa. Não lembrava de ter feito nenhuma das duas naquele dia desde que acordara. Simplesmente não sentia fome.
O lugar era quente e aconchegante como Lauren lembrava; havia ido ali tantas vezes que a garçonete nem precisou anotar seu pedido. Só lhe ofereceu um sorriso e menos de cinco minutos depois aparecia com um sanduíche natural e um copo fumegante do seu café favorito - o delicioso Caffé Mocha.
Não conseguia lembrar desde quando aquele se tornara seu pedido favorito, mas provavelmente vinha desde o dia que descobrira a maravilha que era combinar seus prazeres não tão secretos - café e chocolate. Desde então, o Caffé Mocha fizera parte do seu cardápio fixo.
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Caffé Mocha
FanfictionAlgumas pessoas são como o café e o chocolate. Podem parecer coisas opostas em primeiro momento, mas quando combinadas formam uma mistura única. Essas eram Camila e Lauren. Pessoas diferentes, unidas com um só objetivo: reconstruir seus corações qu...