Eu estava almoçando com Felipe no salão cujos peixes pulavam do chão feito de água, sempre víamos um tipo de tartaruga, mas com o casco coberto por agulhas nadando no ar próximo a gente. Raízes de árvores, que haviam entrado pelos enormes vitrais nas paredes, serviam como mesa, já que os inteligentes aqualaestes colocaram tábuas de madeira para ter onde comer. Aquilo me lembrava de quando passamos pelas pontes em cima das raízes de árvores parecidas com as daquele salão, era a mesma situação. Luka, o potuco de Felipe, comia desesperadamente algumas sementes de cratyei, um legume marrom muito apreciado por aqui, e pedaços de uma fruta chamada amanduyectu também muito gostosa, tem a aparência de uma maçã, mas com uma espécie de tentáculos da mesma cor. Confesso que deu nojo quando a vi, mas o desprezo some quando se prova, uma fruta muito gostosa apesar desses tentáculos moles.
– Eu juro que faria de tudo para voltar lá agora – eu falava. Felipe já estava a par de toda história do lago. Eu o contei que eu e Laura mergulhamos na água, fomos parar no carro dos meus pais e que eu ainda a beijei. – Senti uma sensação de infinidade, como se eu estivesse protegido e tivesse um mundo fora do carro que não pudesse me fazer mal.
– Mas e quanto à Laura? – Felipe falou num tom desconfiado enquanto impedia Luka de pular no seu prato e comer sua carne – Acha mesmo que ela não se lembra de nada? Para mim, ela sabe muito bem que beijou você e finge que não lembra.
– Por que ela faria isso?
– Vergonha, claro! Se você olhou nos olhos dela e sentiu que estava a par de tudo, é porque ela entrou com você no desejo, não era somente uma impressão.
– Talvez tenha ido para um outro desejo, ela tem família e muita coisa a desejar.
– Acho melhor a gente parar de discutir esse assunto, você ganhou um beijo e ainda fica reclamando.
– Não estou reclamando – eu sorri – Só estou querendo saber se ela me beijou porque quis ou porque fazia parte do desejo. E não reclame VOCÊ! Está todo íntimo da Sofia.
– Não me fale dessa louca, essa garota é maluca, arranja desculpa só para me dar uns tapas, pelo menos ela é bonita, não é? Antes ela que a Joyce.
– Bem mais! A propósito, tem falado com a Joyce? – perguntei, afastando de mim o prato já vazio – Ela é aqualaeste também.
– Nunca mais a encontrei, grudenta demais! Pelo menos aqui, com vocês, eu posso apreciar a beleza da Sofia, mesmo não a tocando.
Eu ria com os casos amorosos de Felipe. Quando acenou para trás de mim, Balta passava pelas minhas costas.
– Thomas, eu quero falar com você, é urgente – o olhar do tigre estava obscuro, cansado e parecia sentir dor.
– Haydee não está morta! – foi a primeira coisa que eu falei, na verdade, gritei, foi meio assustador.
– Como? – a aparência do tigre mudou da água para o vinho.
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Aquala e o Castelo da Província (vol. I)
AdventureExtraterrestres. Será que eles realmente existem? De onde vêm? Será que são do jeito que os humanos imaginam? E se muitos deles já vivessem disfarçados entre nós, escondendo sua verdadeira identidade? Thomas Flintch é um menino pobre de 14 anos que...