Um pequeno trastorno

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Pronto, acho que já posso ir dormir...
Depois de trancar e destrancar minhas 9 trancas 12 vezes (porque é sexta), acho que já estou seguro.
Finalmente deitado, droga, a janela está trancada direito? E se alguém entrar? Eu não vou me aguentar, melhor verificar.
É tudo tão cansativo quando se tem toc (transtorno obsessivo compulsivo), especialmente aqui, esse apartamento apertado, não confio nesse bairro, amanhã é sábado, é dia de ir no analista, é tanta coisa em mente...
Janelas trancadas? Sim
Porta trancada? Sim
Gás desligado? Sim
Remédios tomados? Sim.

Acordo cedo para fazer meu café, torradas feitas com perfeição e meu chá com leite com exatos dois cubos de açúcar, arrumo e desarrumo mesa, acho que agora está tudo perfeito, já são 7:00

Me arrumo, verifico tudo e vou para a análise.
No caminho ao metrô tento desviar de todas as rachaduras e imperfeições da calçada, continuo meu caminho até a primeira estação, está parcialmente lotado, eu odeio essa situação, mas estou tentando me controlar, consigo um lugar para me sentar, ainda bem, odeio ficar em pé.
Quando chego na 3ª estação a visto uma garota, de longe não consigo saber como é seu rosto, ela corre para entrar no metrô, por fim consegue, o senhor que estava ao meu lado cede o lugar para ela, é fácil entender, uma garota tão bonita merece se sentar, olhei para ela, e algo dentro de mim mudou, nunca havia me sentido assim, ela estava soada, mas não me incomodei.
Ela tinha grandes olhos castanhos claro, e seu cabelo era escuro, usava uma blusa bem maior que ela, e estava com uma bolsa rosa grande, ela estava tão desajeitada que quase me intrigou, mas pela primeira vez em anos não me importei com aquela bagunça.

Ela me olhou e riu
Eu achei estranho, mas resolvi ficar calado
-Oi, eu estou muito feia? Isso me preocupa, você não para de me olhar, não sei se isso é bom ou ruim. - ela falou e eu fiquei sem reação.

"Anda idiota, diz algo, seu esquisito" pensei comigo mesmo

-não, não, não, não, droga, quero dizer, você é bonita, quero dizer, me desculpa.- foi a única coisa que consegui dizer

-obrigado... Eu acho, bem, meu nome é Felícia- ela estava meio sem graça, fiquei com medo de ter assustado ela- eu não costumo conversar com estranhos, mas você parece legal

-meu é Richard, Rich, Rich, Rich, Richard- respondi várias vezes, até uma delas parecer boa o suficiente.

-haha, tudo bem senhor Richard, você poderia me dizer em qual estação fica essa academia de ballet?- ela me mostrou um folheto meio amassado

-estação 5. - eu respondi, dessa vez sem repetir ou gaguejar, ela me olhou séria, ela tinha tantas expressões fasciais, aquilo me assustava um pouco- você desce na estação 5, fica um quarteirão a baixo da rua 30, acho que é lá.

-obrigado, é a primeira vez que pego metrô, sou nova aqui.- dá para perceber, ninguém conversa com estranhos por aqui- você é meio caladão, gostei de você.

-não deveria dar bola para alguém que acabou de conhecer, não sabe quem eu sou

-você não parece o tipo de cara que vai me matar, minha estação é logo alí, você quer meu número? Para me ligar... Mais tarde?

Fiquei muito agitado, era muita informação nova.

-quero.- disse umas 18 vezes.

Ela riu de novo, e me entregou um papelzinho azul, por algum motivo ela já tinha o próprio número escrito, guardei na minha agenda e agradeci, a estação dela chegou, ela desceu, eu a observei da janela, ela acenou e saiu correndo em direção às escadas.

Ainda estava meio confuso com tudo que havia acontecido. Hoje meu analista teria muito o que escrever

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⏰ Última atualização: Jan 15, 2016 ⏰

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