Pássaro Vermelho - Corações Indomáveis

Capítulo I

Em algum lugar da Europa

Gwyn Vaughan levanta um pouco a barra do seu longo e pesado vestido e corre esbaforida em direção a construção do estábulo. Seu rosto delicado estava corado pelo inesperado exercício, não estava acostumada a ter aqueles pequenos acessos, aquilo condizia muito mais com a personalidade livre e rebelde de Gwen, sua irmã gêmea.

As duas eram gêmeas univitelinas, tão parecidas fisicamente, que olhos menos treinados não notariam as sutis diferenças entre uma e outra.

Aproveitando-se dessas semelhanças, Gwen que era a mais levada e tinha as ideias mais descabidas, com seu jeitinho faceiro e sua sutil inteligência, convencia Gwyn a trocar de identidade e em várias ocasiões causavam inúmeras confusões com os empregados e cada travessura era punida com pequenos castigos impostos pelo seu severo pai.

Com o passar dos anos as diferenças  entre as personalidades das irmãs tornaram-se cada vez mais evidentes. Enquanto Gwyn era a mais doce, centrada e voltada para as aptidões domésticas e religiosas, Gwen era o seu oposto, tinha a personalidade forte e gostava de passar o tempo ao ar livre junto com os animais no estábulo ou correndo pelo bosque, subindo em árvores e colhendo amoras selvagens.

Gwyn empurra a pesada porta do estábulo e coloca a cabeça no vão aberto. O cheiro de feno e estrume atinge as suas narinas de maneira nada prazerosa. Por mais que tentasse ela nunca ia se acostumar com aqueles odores e não entendia como a sua irmã passava tanto tempo naquele ambiente.

— Gwen? — chama num sussurro. — Você está ai?

Gwyn não tinha coragem de entrar no estábulo, ela tinha verdadeiro pavor em se aproximar de cavalos, pois quando era muito criança enquanto brincava de pique-esconde com a peralta Gwen, acabara caindo dentro de uma das baias e quase fora pisoteada pelo garanhão favorito do seu pai, desde então tem pavor de se aproximar de qualquer equino.

Um dos cavalos relincha e Gwyn dá um passo para trás assustada.

— Ah! Meu Deus todo poderoso, eu juro que quando encontrar a minha irmã, darei eu mesma uma corça nela.

— Vai dar uma corça em quem, irmã mais velha?

Gwyn leva a mão ao coração e olha para a irmã mais nova com os olhos arregalados pelo susto.

— Minha nossa senhora Gwen qualquer dias desses você me matará de susto!

Gwen coloca as mãos nos joelhos e solta uma sonora gargalhada. A mais velha olha para a mais nova com um semblante zangado, mas a zanga dura apenas poucos segundos, logo depois está caindo também na risada.

— Você precisava ver a sua cara Gwyn, estava muito engraçada. — Gwen seca as lágrimas causadas pelo excesso de risos.

— Também vou achar muito engraçado quando o papai cumprir a ameaça que ele fez há dez minutos. — a mais nova arregala os olhos e Gwyn sorri. — Ele estava soltando fogo pelas orelhas.

— Mas eu não fiz nada de errado dessa vez... — Gwen coloca a mão pensativa sob o queixo. — Pelo menos acho que não.

— Você não tem mesmo jeito maninha, mas dessa vez não é com você. — Gwyn dá um passo para trás e sai do estábulo sendo seguida pela irmã. — Parece que receberemos visitantes e papai deseja que estejamos apresentaveis.

Gwen suspira aliviada e olha em volta a fim de ver se havia mais alguém por perto.

— Você sabe quem está vindo?

— Não faço a mínima ideia, mas deve ser alguém importante pois nossa mãe tirou toda a prataria do baú.

A Marquesa de Vaughan ou lady Phoebe como gostava de ser chamada, ainda conservava a beleza de outrora, o seu pai o marquês Bruce Spicer, arranjara o seu casamento quando ela ainda era uma mocinha de dezesseis anos. Phoebe só conhecera o seu futuro marido no dia do casamento. Quando o marido a beijou nos lábios pela primeira vez, ela soube que ele era o homem que Deus destinara para ela, e aquela união arranjada converteu-se em amor. Em menos de um ano Lady Phoebe segurava as suas gêmeas nos braços e ela nunca tinha visto um pai mais orgulhoso do que o seu amado marido Aeron. Quando as gêmeas contavam cinco anos, Phoebe deu a luz ao pequeno Jeremiah o tão desejado filho homem, aquele que perpetuaria o sobrenome e o título da família.