Floresta Negra - Parte 2

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Ar. Água. Terra... e Fogo.
  Quatro elementos que somente o Avatar pode dominar. Somente ele, a porta entre os dois mundos, pode trazer a paz e o equilíbrio a um mundo repleto de monstros.
  Depois daquele baile idiota que Kehlan havia armado, todos foram colocados para dormir enquanto eu tentava lutar contra Oni. Sem sucesso, eu acabei me ferindo e acordando dentro da floresta negra.
  Meu vestido estava molhado e eu estava começando a ficar com frio. Eu estava desolada, sem saída. Não sabia como fora colocada ali e nem como sair.
  Eu não tinha esperança.
  Caí para o lado, me recostando numa raiz de árvore. Chorei um pouco. Não sabia o por quê de estar ali. Não na floresta, mas na cidade. Queria voltar ao que eu era antes.
  Mas eu não sabia o que eu era antes. Era eu e Rae, ou eu e minha família. Eu sentia saudades deles, é claro. Toda a vez que via um dragão, eu tinha de me segurar para não chorar.
  Sentia saudades de meu pai, de minha mãe, de Azuron e dos meus antigos amigos.
  Ao deitar naquela raiz gigante, senti minhas memórias fluírem melhor. Parte de mim estava se sentindo mais feliz; estava aceitando minha condição.
  Por mais que aquela paisagem obscura estivesse me deixando cada vez pior, havia algo nas profundezas daquela floresta que me revelava algo. Não sei como, mas eu sentia que ela estava falando comigo.
  Me levantei e andei. Aquele lugar parecia um pântano, e mesmo que fosse assustador, eu deveria prosseguir.
  Mesmo assim eu sentia os sussurros sombrios atrás de mim o tempo inteiro dizendo que eu iria cair. Não queria cair.
  Mas caí. Algo estava me enfraquecendo. Caí no chão, sem ver o que estava acontecendo.
- Você não pode perder a esperança, Reina - me disse a voz de Ino. Levantei minha voz, e de fato era ele. - Eu sei agora. Sei o que devo fazer.
  Eu não soube o que aconteceu depois, pois apaguei. Mas eu me senti sendo carregada, provavelmente por Ino. Ele me levava por vários locais da floresta pantanosa, sem desistir e sem me soltar.
- Você talvez não se lembre de tudo, Reina - ele disse. - Mas talvez isso dê uma ajuda.
  Ele chegou a um lago pequeno. Ajoelhou devagar e me depositou nas águas. Senti-as cobrir minhas orelhas apenas. Ele acariciou minha cabeça e suspirou.
- Asore, se estiver me ouvido... eu sinto muito por tudo o que te fiz - ele se levantou.
  Fez movimentos de ida e vinda, puxando a água para um lado e outro, fazendo-a brilhar e me fazer sentir melhor.
  Eu me sentia cada vez mais fraca, cansada e com sono, mas não me permitia dormir.
- Durma, Reina. É melhor para você. Por mais que seja a vontade de Oni, durma.
  Por um momento vi minha mãe em Ino, me pedindo para dormir. Ela, então, me cantava uma música de dormir.
- A rosa vermelha está a se desabrochar/ Se não dormir ela irá murchar/ Mas mesmo pequenina ela é feroz/ Corre como o vento, ela é veloz...
  Ela me abraçava e me beijava. Me dava boa noite e desejava bons sonhos a mim. Seria aquilo que Oni estava incutindo em minha mente? Boas memórias?
  Não. Tudo durou muito pouco.
  Eu de repente me vi no ponto de vista de Asore. Eu caminhava na floresta com os garotos. Jovens daquele jeito, nem pareciam os homens que eram hoje.
- Aonde estão me levando? Estão me assustando! - disse Asore.
  Kehlan se virou para ela.
- Fique calma, Asore. Tudo vai dar certo.
  E logo em seguida eu a vi correndo e correndo. Tentou atirar uma pedra para trás, para quem a seguia. Eu não reconheci, mas logo soube que era o Oni.
  Mas de repente eu vi outra cena da vida de Asore, mas dessa vez ela não estava com os garotos, mas com sua família, na mesa. Tinha seus pais e uma irmã mais nova, com uma expressão irritada.
- A Asore estava treinando dominação, papai - disse a irmã. - Por que eu não posso, também?
  O pai fez uma careta para ela.
- Ela é o Avatar, minha filha. Ela deve aprender os elementos.
  A irmã de Asore a olhou com uma cara feia.
- É tudo culpa sua! - e saiu da mesa, irritada.
- Espere um pou...
  A visão mudou. Agora Asore estava no centro da floresta negra e Oni estava à sua frente.
- O que você quer comigo e com meus amigos?!
  Ele riu, sua velha risada maquiavélica.
- Você sabe muito bem o que eu quero, Asore... - e então, as sombras que revestiam-no sumiram e suas vestes caíram, como se ele fosse só um boneco. De repente, o dono da verdadeira voz surgiu das sombras, mas eu não pude gravar seu rosto. - Eu quero trazer o lorde das sombras de volta!
  Abri meus olhos, desesperada. Quando olhei ao redor, Ino não estava lá. As águas me trouxeram mais memórias, mas nenhuma resposta, somente mais perguntas.
  Eu tentava processar todas aquelas informações, mas não era fácil.
  Com muito esforço eu me levantei. Decidi que iria buscar a todos e salvá-los, com ou sem a interferência de Oni.

Avatar - A Lenda de ReinaOnde histórias criam vida. Descubra agora