Deixando de lado a idéia de templos ou lugares preparados, encontrar o diabo é mais fácil do que parece. O lugar mais popular para se realizar a negociação da própria alma é a encruzilhada.
A encruzilhada é um lugar onde duas estradas se cruzam, formando um ângulo reto, também conhecido como "bifurcação da estrada".
Por todo o mundo existem relatos sobre a crença mágica de tais lugares. Por serem localizadas em locais que não tem um dono, literalmente uma terra de ninguém, são consideradas o local perfeito para se realizarem rituais e feitiços. O uso de encruzilhadas como altares, onde são feitas oferendas é registrado em abundância no folclore europeu, africano e brasileiro.
Na Grécia antiga monumentos de pedras em nome de Hermes em sua forma Priapus eram erguidos em encruzilhadas. Em Roma o deus Mercúrio era o guardião das encruzilhadas. Na Índia era Bhairava, uma versão antiga de Shiva, que tomava conta das encruzilhadas nas cercanias das vilas, falos e olhos de pedra eram erigidos para representá-lo como guardião das fronteiras. Na Guatemala o Senhor do Mundo Subterrâneo Maia, Lorde Maam, disfarçado pelo catolicismo como Maximon ou São Simão, pode ser encontrado sentado em uma cadeira, em uma encruzilhada do lado de fora das igrejas. Nos cultos Afro, quase em todos os grupos culturais possuem versões próprias da entidade das encruzilhadas. Legba, Ellegua, Elegbara, Exu, Nbumba, Nzila, Bompogira (abrasileirado para Pomba-Gira), são alguns dos nomes desses espíritos que abrem caminhos, guardam as encruzilhadas e ensinam coisas.
Esta idéia pré cristã de se tronar servo do diabo (e aqui nos referimos a entidades pagãs que habitam os terrenos à noite, como o Der Teufel alemão) impressionaram muito a cultura dos povo antigos, com o tempo a cristandade adicionou a "alma" e "Satã" nas histórias, hoje muitos antropologistas deram a esses deuses das encruzilhadas um novo nome de designação: espíritos zombeteiros, entidades que seriam não confiáveis, malandras e enganadoras. Mas assim como a igreja fez, isso serve apenas como uma máscara para uma criatura muito mais antiga.
O principal conceito de encruzilhadas é que é o ponto onde estradas se cruzam, hoje a crença no demônio e em espíritos assumiu um papel muito mais psicológico do que material. Hoje a crença no demônio é visto por muitos como superstição, ele é mostrado como uma parte sombria da própria psiquê. Mas isso é uma visão recente. Numa época não muito distante generais consultavam desuses antes de entrar em batalhas, reis se utilizavam de astrólogos para saberem se determinada empreitada era auspiciosa ou não, e até hoje em culturas ainda ligadas à religião de forma menos hipócrita que a nossa tratam esse aspecto "invisível" da vida com seriedade. Fora das vilas e cidades os caminhos não eram planejados ou construídos, era trilhas criadas pelas próprias pessoas, pelo ato de caminhar. O solo ficava marcado e essa marca era seguida. Quanto mais pessoas passassem por ali mais larga e evidente ficava a trilha, até se tornarem estradas e serem asfaltadas. Em locais de encruzilhadas a marca ficava ainda maior, o solo mais fundo, era como se a membrana que separasse dois mundos se tornasse mais fina. Encruzilhadas eram locais onde o caminho dos vivos se cruzava com o caminho dos espíritos.
Ao encontrar uma encruzilhada, e não simplesmente a esquina de sua casa, basta enterrar a caixa e esperar pelo demônio. Simples assim. Vamos deixar claro de novo que o demônio com o qual você irá negociar não é O Demônio, Satã, ou seja lá o nome judaico/cristão pelo qual você o conheça. Demônios são citados nos trabalhos de Platão (428/427 aC - 348/347 aC) e de muitos outros autores, nunca com uma conotação maligna. A própria palavra "Demônio" deriva do grego δαίμων (daimōn), que tem sua origem provavel no verbo daiesthai, que significa "dividir, distribuir". A raiz Proto-Indo-Européia deiwos significa "celestial", "brilhante", "que ilumina" manteve seu significado em muitas culturas e línguas: Deva (sânscrito), Deus (latim), Tiw (alemão), Duw (celta), etc. Apesar de hoje em dia a palavra moderna para demônio ter a mesma conotação da sua variante latina, na Grécia Antiga δαίμων significava "espírito", "ser superior" muito semelhante ao significado de genius em latim (o Sagrado Anjo Guardião de Crowley).