Prólogo

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Olhei para o meu celular novamente, confirmando que já haviam se passado 45 minutos. Meu coração parecia que ia sair pela boca, minhas mãos estavam tremendo, eu estava suando frio e estava com uma vontade horrível de chorar. A única coisa que me segurava era o pensamento de que só ia piorar minha situação no meio de toda aquela gente.

E o pior de tudo: estava morrendo de fome.

Eu, muito provavelmente, havia levado um bolo de um garoto estúpido.

A moça que estava me atendendo se aproximou da minha mesa pela terceira vez com aquele sorriso convencido de quando você vê que uma pessoa levou um bolo, mas não quer aceitar.

- Está pronta para fazer seu pedido?

- Vou esperar mais um pouco, obrigada. – dei um sorriso sem graça, esperando lá no fundo que ele só tivesse se atrasado.

Ela murmurou um "tudo bem" tentando disfarçar o riso e eu suspirei. Os olhares de compaixão das pessoas ao meu redor só pioravam com o passar dos minutos. Alguns olhavam com pena e outros tentavam esconder os risos por trás das mãos. Eu me sentia horrível, humilhada. Não costumava aceitar sair com meninos, sendo extremamente tímida e desajeitada quando perto deles. A única razão de ter aceitado aquilo foi por causa da pressão das minhas amigas.

Nunca mais aceito conselho delas, alias.

Desbloqueei a tela do celular novamente, fuçando minhas redes sociais para passar o tempo e tentar me distrair. Quando ouvi o casal de velhinhos atrás de mim fofocando, no meio de algumas palavras a palavra "pobrezinha" se sobressaiu, perdi as estribeiras. Quando bufei, jogando meu celular na bolsa pronta para ir embora dali, passar no mercado perto de casa e me entupir de besteiras enquanto me trancava no quarto assistindo séries, a cadeira a minha frente foi preenchida.

- Sinto muito pelo atraso, amor, o tráfico está doido lá fora. – o garoto falou tão alto que até o cozinheiro deve ter escutado – Sou o Harry, só continue com isso, está bem? Quem quer que não tenha aparecido é um idiota. – adicionou silenciosamente.

Claro que continuei, porque ele estava sendo tão doce e fofo me salvando e, sinceramente, porque ele era a coisa mais linda que eu já tinha visto. Tinha os cabelos encaracolados jogados para trás, olhos verdes claríssimos e quando sorria formavam covinhas no canto de suas bochechas e eram as coisas mais mordíveis desse mundo. Eu queria lambê-las.

- Então, o que vamos pedir? – levantou o cardápio, me impossibilitando de ver o seu rosto.

- Ahn, e-eu não sei. – balbuciei, ainda sentindo a palma das mãos suarem – Estou morrendo de fome.

Ele sorriu de lado e eu quis me matar.

- Ah, eu também. Podemos pedir uma porção grande de batatas fritas ou você vai querer salada ou algo assim?

Fiz uma careta para a última opção.

- Batatas, por favor. Não coloquei a porcaria de um vestido e um all-star para sair de casa e comer alface.

Harry pareceu extremamente satisfeito com minha resposta e até levemente surpreso. Chamou a garçonete com seus dedos extremamente longos – tive que notar – e ela retornou com uma cara azeda dessa vez. Fiquei observando os traços dele enquanto ele fazia o pedido. Apesar de eu mal saber conversar com meninos feito gente, tinha algo nele extremamente leve que fazia eu me soltar, perdendo um pouco da vergonha. A timidez ainda estava aqui dentro, mas em menor quantidade.

- Ainda não me disse seu nome. – voltou sua atenção para mim assim que a moça se afastou.

Um pouco mais recuperada, decidi zoar com a cara dele.

- Meu pai me ensinou a não dizer meu nome a estranhos.

- Mas eu não sou estranho. – fez uma cara de falso ofendido – Sou o cara que te salvou.

- Tudo bem, super-homem – levantei minhas sobrancelhas e sorri esperta – Porque você não adivinha então?

Harry se debruçou na mesa, apoiando os braços ali. Seus olhos brilharam, aceitando o desafio. A proximidade daquele gesto fez eu me sentir levemente desconfortável, o que só piorou quando aqueles olhos ficaram passeando pelo meu rosto. Tive que me segurar para não desviar o olhar ou morder os lábios, subitamente consciente de cada falha da minha face.

- Você tem cara de Emma. – disse.

- Há! Nem chegou perto.

Ele encostou as costas na cadeira, soltando um suspiro frustrado.

- Olivia.

- Nope.

- É uma pena, adoro esse nome.

Arqueei uma sobrancelha para ele.

- Okay, okay. Diana?

Dessa vez só balancei o rosto, um sorriso presunçoso se instalando nele.

Harry bufou, estreitando os olhos.

- Sophie?

- Sua resposta está errada.

- Droga! Sempre quis ter uma namorada chamada Sophie e então as pessoas poderiam nos chamar de Sorry. – Harry abaixou o rosto com um sorriso afetado e eu gargalhei alto, tampando minha boca com a mão ao receber alguns olhares feios.

- Sinto muito te decepcionar. – sorri e ele acenou uma mão como se não fosse nada demais.

- Tudo bem, desisto. Minhas habilidades de detetive não são tão boas assim. – ele soltou o ar parecendo um pouco decepcionado. Fiquei com pena dele então acabei falando.

- Charlotte. – dei um chute fraco na perna dele por debaixo da mesa. Ele voltou a olhar para mim com curiosidade – Mas todos me chamam de Charlie. Sempre achei que Charlotte era nome de patricinha. – dei de ombros observando as covinhas reaparecerem no rosto dele.

- Hm – ele fez cara de pensativo – Charry não soa tão mal, soa?

- É a pior coisa que eu já ouvi em toda minha vida. – ri.

- Você realmente sabe como quebrar o clima, Charlotte – frisou meu nome, balançando a cabeça – Posso ver porque ganhou um bolo.

Dessa vez meu chute por debaixo da mesa não tinha sido tão fraco. Aquilo doeu.

- Ouch! Eu estava brincando! – tinha um pouco de culpa no olhar dele e eu gostei daquilo – Quem te deu um bolo é o maior boboca da face da Terra. Perdeu a chance de ter um maravilhoso encontro com uma das garotas mais incríveis que já conheci.

Encarei-o sem graça. Harry segurou meu olhar por vários segundos até nosso pedido chegar. Depois disso, seu olhar quente voltava para mim várias vezes e eu tentava fingir que não notava, olhando para a comida, mas estava falhando miseravelmente.

Agora estava chovendo e estávamos os dois parados na porta do restaurante, nos despedindo. Claro que Harry pediu meu telefone e eu dei com prazer. Não sabia direito, mas tinha algo nele que fazia eu me sentir tão confortável que eu esquecia de sentir vergonha, timidez, ansiedade ou o que quer que fosse. Não podia perder a única pessoa que fazia eu me sentir assim.

Acenei para ele uma última vez e entrei no táxi.


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⏰ Last updated: Jan 14, 2016 ⏰

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