Capítulo 9

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Ana ouviu perfeitamente o chamado, mas preferiu fingir que não. Deu mais 3 ou 4 passos, até que foi alcançada por Guilherme.

– Ana? Você tá indo embora? – perguntou assustado.

– Lembrei que esqueci o fogão ligado em casa. – E essa foi a mentira mais ridícula que ela havia dito em tempos.

– Hã? Fogão? Ai Ana, fala a verdade... O que tá acontecendo?

– Não é nada... Bom, na verdade, é sim. Eu não deveria ter vindo nesse churrasco, só me dei conta disso agora. Mas não faz mal, to indo embora.

– Não vai embora, fica! Acabei de chegar também.

– Ué, mas você não ia jogar bola com os meninos cedo e depois vinha direto pra cá?- Ana não queria começar um interrogatório, mas era impossível resistir às vezes. A vontade de perguntar costumava ser mais forte que ela.

– Sim, eu ia fazer isso! Mas desanimei... Já joguei bola com eles ontem. Eu tinha combinado de jogar de novo, mas o sono bateu forte. O despertador tocou e eu continuei dormindo...

– Sei...

– E você? Nem me falou que vinha no churrasco! O Gustavão te chamou?

– Na verdade, até chegar em casa ontem, eu não sabia mesmo que vinha. Foi a Livinha que me convidou.

– Eu teria te chamado também, se soubesse que ele tinha chamado várias meninas. Pensei que seria um churrasco só de cerveja, cheio de homens. Não queria que você ficasse sem graça...

– Não faz mal.

– Você parece chateada... Tá brava comigo?

Ana deu aquela reviradinha de olhos. Eu não pareço, eu estou. E eu estou MUITO!

– Não to brava, é que...

– O que?

– Não pude deixar de ver você conversando com a Marcela na hora que eu cheguei.

– Ah, então é isso?

– Isso o que?

– Por isso que você ficou brava e ia embora? – Ele deu um risinho.

– ÓBVIO QUE NÃO! – Ana acabou falando um pouco mais alto do que esperava.

– Tá bem, já entendi. – Ele riu mais uma vez. – Não tem nada, Ana. É que a Marcela tá organizando as coisas pra se mudar e achou uma mala com roupas minhas por lá. Ela queria devolver.

– Ela vai se mudar pra onde? – Ana só ouviu a parte do "se mudar" e já estava torcendo para que fosse pra outra cidade. Sendo otimista, uma mudança de Estado seria o ideal.

– Ah, não perguntei direito. Mas acho que ela vai passar um tempo na casa da vó dela, no interior. Desde que o vô faleceu, a vó vem se sentindo muito sozinha e tal... Já faz tempo isso, foi na época que estávamos juntos.

Ana se sentiu mal imediatamente. Estava torcendo tanto pra ela ir embora que nem se importou com o motivo. Agora estava se sentindo uma louca neurótica.

– Poxa, que situação... Espero que a vó dela fique bem.

– Ah, ela vai ficar. Mas vamos ali pro churrasco, o pessoal já tá olhando pra gente faz muito tempo.

Ana levantou os olhos e imediatamente viu algumas pessoas tentando disfarçar que estavam encarando. Ela riu e resolveu deixar a birrinha pra trás. Antes que ela pudesse dar um passo, ouviu Guilherme dizer pertinho do seu ouvido:

As dores e as delícias do primeiro encontroOnde histórias criam vida. Descubra agora