Ana ouviu perfeitamente o chamado, mas preferiu fingir que não. Deu mais 3 ou 4 passos, até que foi alcançada por Guilherme.
– Ana? Você tá indo embora? – perguntou assustado.
– Lembrei que esqueci o fogão ligado em casa. – E essa foi a mentira mais ridícula que ela havia dito em tempos.
– Hã? Fogão? Ai Ana, fala a verdade... O que tá acontecendo?
– Não é nada... Bom, na verdade, é sim. Eu não deveria ter vindo nesse churrasco, só me dei conta disso agora. Mas não faz mal, to indo embora.
– Não vai embora, fica! Acabei de chegar também.
– Ué, mas você não ia jogar bola com os meninos cedo e depois vinha direto pra cá?- Ana não queria começar um interrogatório, mas era impossível resistir às vezes. A vontade de perguntar costumava ser mais forte que ela.
– Sim, eu ia fazer isso! Mas desanimei... Já joguei bola com eles ontem. Eu tinha combinado de jogar de novo, mas o sono bateu forte. O despertador tocou e eu continuei dormindo...
– Sei...
– E você? Nem me falou que vinha no churrasco! O Gustavão te chamou?
– Na verdade, até chegar em casa ontem, eu não sabia mesmo que vinha. Foi a Livinha que me convidou.
– Eu teria te chamado também, se soubesse que ele tinha chamado várias meninas. Pensei que seria um churrasco só de cerveja, cheio de homens. Não queria que você ficasse sem graça...
– Não faz mal.
– Você parece chateada... Tá brava comigo?
Ana deu aquela reviradinha de olhos. Eu não pareço, eu estou. E eu estou MUITO!
– Não to brava, é que...
– O que?
– Não pude deixar de ver você conversando com a Marcela na hora que eu cheguei.
– Ah, então é isso?
– Isso o que?
– Por isso que você ficou brava e ia embora? – Ele deu um risinho.
– ÓBVIO QUE NÃO! – Ana acabou falando um pouco mais alto do que esperava.
– Tá bem, já entendi. – Ele riu mais uma vez. – Não tem nada, Ana. É que a Marcela tá organizando as coisas pra se mudar e achou uma mala com roupas minhas por lá. Ela queria devolver.
– Ela vai se mudar pra onde? – Ana só ouviu a parte do "se mudar" e já estava torcendo para que fosse pra outra cidade. Sendo otimista, uma mudança de Estado seria o ideal.
– Ah, não perguntei direito. Mas acho que ela vai passar um tempo na casa da vó dela, no interior. Desde que o vô faleceu, a vó vem se sentindo muito sozinha e tal... Já faz tempo isso, foi na época que estávamos juntos.
Ana se sentiu mal imediatamente. Estava torcendo tanto pra ela ir embora que nem se importou com o motivo. Agora estava se sentindo uma louca neurótica.
– Poxa, que situação... Espero que a vó dela fique bem.
– Ah, ela vai ficar. Mas vamos ali pro churrasco, o pessoal já tá olhando pra gente faz muito tempo.
Ana levantou os olhos e imediatamente viu algumas pessoas tentando disfarçar que estavam encarando. Ela riu e resolveu deixar a birrinha pra trás. Antes que ela pudesse dar um passo, ouviu Guilherme dizer pertinho do seu ouvido:
VOCÊ ESTÁ LENDO
As dores e as delícias do primeiro encontro
ChickLitAna trabalha como revisora numa editora e tem uma rotina bem tranquila. Sua atividade favorita é assistir séries na TV e mergulhar no mundo dos livros. Depois de um desentendimento amoroso que a deixou muito mal, Ana ficou um bom tempo sem ter nenh...