Capitulo 1 - Passado e Presente

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Numa grande varanda de mármore num palácio nas nuvens está uma rapariga de pele branca e de cabelos pretos, com madeixas azuis escuras que mal se notam. Os olhos são da mesma cor das madeixas no cabelo. Ela está ao lado de um globo terrestre e com umas olheiras bem grandes debaixo dos olhos escuros. Esta descrição pode parecer estranha para alguns mas garanto que ela (mesmo com as olheiras) era muito bonita.

Essa rapariga chamava-se Vanessa e era a criadora da Noite. Era a sua responsabilidade trazer a noite todos os dias.

Uma outra rapariga interrompeu a paz na varanda. Ela chama-se Cecília e era a criadora do dia. Ela trazia o dia, como a sua irmã mais nova fazia com a noite.

- Então, Vanessa? - perguntou a irmã mais velha de Vanessa, Cecília - Vai dormir, tenho que maravilhar o mundo com o meu sol!

Cecília era completamente diferente da irmã, o tom de pele era mais escuro, os cabelos dela eram loiros e os seus olhos eram cor de avelã.

Vanessa devia estar exausta de controlar a noite e pronta para dormir um bocado, mas desta vez ela não se sentia assim...

- Não...

- Disseste alguma coisa? - perguntou Cecília.

- Não! - repetiu Vanessa.

- Que estás para aí a dizer? - perguntou Cecília.

Vanessa virou-se para Cecília, com a expressão carregada de raiva.

 - Hoje todos vão acordar e deparar-se com a minha lua e as minhas estrelas! Não com o teu estúpido sol!

- Que estás a dizer? O meu sol não presta? - perguntou Cecília num tom de troça - Não estou a ver ninguém acordado de noite para ver as tuas estrelinhas...

- Eu tive demasiado trabalho a fazer todas estas coisas! E tu só fizeste o sol e ficas-te logo nas boas graças de toda a gente! Não é justo!

- Pff! Isso só quer dizer uma coisa...

- O quê? - perguntou Vanessa, deixando o cansaço transparecer.

- Que por mais que te esforces eu vou ser sempre melhor do que tu! - concluiu Cecília, já com uma expressão de quem estava a perder a paciência - Agora vai dormir!

E com um empurrão, Cecília tomou o lugar de Vanessa na varanda.

Mas Vanessa não ia aceitar isso.

- Não! Como é que sabes que eles não gostam do que eu faço? Eles nunca devem sequer ter visto a noite!

- Por amor dos deuses, vai dormir... - disse Cecília, num tom aborrecido.

- Não! - exclamou Vanessa - Eles ainda podem ver o que eu vejo na noite. Eles podem passar a gostar de mim também!

- Não sejas estúpida...

- Se tu chamas estupidez aquilo, muito bem! Mas vou fazer todos verem a beleza da noite!

- Tu não podes... - tentou dizer Cecília.

Mas ela falou primeiro.

- Não posso qual quê! É meu direito eles adorarem-me! Sou tua irmã! - disse Vanessa.

- Vanessa...

- Vanessa, nada! Eu sou a Deusa da Noite!

Cecília não estava á espera desta reação. O cenário para Vanessa seria assim tão negro?

E os olhos de Vanessa começaram a ficar negros, mas tão vivos, como o carvão incandescente. Os seus cabelos, autrora pretos mas com brilhantes madeixas azuis, agora estava a ficar de completamente preto. A pele começava a ficar cinzenta. Ela não aguentava mais aquela solidão.

Bem, havia uma pessoa... Mas naquele momento, ela deixou de crer saber. Deixou de crer de tudo, da única pessoa que amava, das consequências, de tudo...

- Agora sai-me da frente, Cecília! - gritou Vanessa - Os meus dias nas sombras acabaram! Eu já esperei demais!

- V-va-vanessa? - Cecília, que começava a ficar assustada. Que diabos se estava a passar?!

- ACABOU! - gritou Vanessa com os olhos a ficar mais brilhantes.

- Guardas! - gritou Cecília.

- Cala-te! - grita Vanessa numa voz estranhamente mais adulta.

As mãos de Vanessa ficaram com um brilho amarelo e assim que viu isso, ela apontou os dedos á irmã, que caiu inconsciente no chão. 

Assim ela caiu,  uns guardas com um aspeto medieval entraram no quarto que dava acesso á varanda, olharam surpreendidos para o cenário que tinham na frente. Vanessa mudou de expressão e disse:

- Traidora! Apanhei a conspirar contra a humanidade. Tive que me defender!

E foi assim que Vanessa consegui o controlo completo do dia e da noite. Dissolveu o Concelho das Nuvens e tornando-se conhecida como a ''Deusa da Noite'' para os humanos pois condenou a Terra a viver numa noite eterna.

Nunca ninguém pode esquecer aquele dia. Muitos iam trabalhar ou para a escola mas o sol não nascia. Então, para espanto de toda a gente, a Deusa da Noite apareceu e anunciou que a Deusa do Dia tinha sido acusada e condenada por traição. E que agora era ela quem controlava tudo.

E isso também queria dizer que o dia não ia voltar a nascer.

Todos iriam sobreviver, claro. Mas qualquer pessoa que fosse apanhada a honrar o dia ou qualquer coisa a ver com Cecília, seria presa e condenada á morte.

Muitos se preguntaram que afinal tinha acontecido a Cecília. Ela era uma deusa, não podia morrer. Se calhar estava nas prisões de um dos Castelos das Nuvens abandonados, que autrora controlavam o tempo que cada continente do mundo.

O discurso de Vanessa, não deixou de surpreender toda a gente, e até havia gente que nem fazia a mínima ideia de quem ela era.

Muitas coisas mudaram, não só na Terra, como no Palácio das Nuvens, onde as duas deusas costumavam viver. Vanessa ainda vivia lá mas tinha bloqueado o acesso ao Palácio.

Mas isso foi, á muito tempo. Muito tempo atrás.

No presente, catorze anos depois.

Sofia acordou ás 9:00 horas em ponto. Abriu as cortinas e deu uma olhadela ás estrelas antes de se começar a vestir para ir para a escola.

Sofia tinha uma pele muito clara e olhos de um azul escuro quase mágico. O estranho, era que ela tinha nascido com diversas madeixas azuis brilhantes no cabelo negro, que era como a asa de um corvo.

Ela vivia uma vida pataca com os seus pais adotivos que ela amava mais do que tudo no mundo. Os pais dela tinham dito que ela tinha sido encontrada por eles, depois da ''Noite Eterna'' começar num cesto, perto do Rio Luar.

Aparentemente antes havia uma coisa chamada dia que era muito luminoso e não tinha estrelas nem lua e era ai que as pessoas viviam as suas vidas e á noite dormiam...

- Que estranho... - pensava Sofia, cada vez que ouvia essa história.

Mas depois a deusa Vanessa ditou a sua sentença... uma noite eterna. Sofia ainda sonhava que alguma vez, ainda ia ver o sol e o dia. Só para ver como é que era quando os pais tinham a idade dela. Mas por agora, era de noite, e ela tinha que ir para a escola.


A Deusa da NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora