Prólogo

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Sou um escritor e resolvi escrever um livro sobre um cara inteligente. Claro, não seria uma autobiografia. Talvez seria. Mas suponhamos que não - vamos nos apegar aquele resto de capacidade que os humanos tem de serem humildes. Não que eu não seja. Mas, para a minha tristeza, penso que quando acabo de falar "Não que eu não seja."  deixo de ser. 

- Que infelicidade a minha. Sou um monstro - Sussurra o meu pensamento e logo percebo que humildade mesmo é quando...

Meus pensamentos de um filósofo amador foram interrompidos quando vejo uma mulher na escadaria do Museu Municipal. Ela tocava um violoncelo e um outro garoto ao lado dela, um violino. Acredito que seria mãe e filho. Existia um certo amor entre os dois. Mas um amor puro. Como de mãe e filho. Seus instrumentos se completavam como se não conseguissem viver um sem o outro. E era o que tornava aquela interpretação da Monlight Sonata tão linda. 

As pessoas que passavam, colocavam algumas cédulas e moedas nos cases dos instrumentos. Mas o encosto do banco da praça não me deixou sair para ajudar esses "miseráveis talentosos". Não sei quanto eles conseguiram juntar, mas pela demora em colocar dentro da bolsa desajeitada e um tanto quanto velha, daquela mulher, deveria ser uma boa quantia. Fiquei quase a tarde toda os observando. Foram lindas interpretações: Bethoven, Chopin, Vivaldi, Bach... Outros e outros. Não sei se foi ameaça de chuva, porém, caiu uma gota de água exatamente na maçã esquerda do meu rosto. No entanto, acho que chorei mesmo. 

A beleza que encontrei ao observar a tarde daquela provável mãe juntamento com o seu provável filho não terminou por ali. Continuei a obsevá-los de longe. Entraram num supermercado e saíram com várias sacolas. Pelo que pude ver, compraram biscoitos, sucos, comidas prontas, pagaram e saíram. Foram para um abrigo ficaram na porta de uma grande fila com homens, mulheres, velhos e crianças - disputando a tapas por uma noite debaixo de um teto e uma prato de sopa. Quando as cotas acabaram, eles faziam o caminho inverso da fila entregando, para aqueles que não conseguiram entrar, biscoitos e outras coisas que acabaram de comprar.

Quando tudo havia acabado eles saíram tristes. Entraram num carro de modelo parecido com o meu e foram embora. Fiz o mesmo. Cheguei em casa. Estacionei. Fiquei um pouco sentado no meu banco de couro e lembrei daqueles moradores de rua. Assoprei uma vela invisível. Entrei em casa. Tomei banho. Tomei uma sopa feita pela minha esposa - sem filas, sem frio, sem cotas, sem tapas. Fui dormir. E percebi que talvez deveria ser mais humilde.

- Não que eu não seja - sussurrei. 



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⏰ Última atualização: Jan 21, 2016 ⏰

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