Zayn encarou seus fones de ouvido. Vinha sendo assim já há algum tempo. Era noite, noite de um domingo. A luz do quarto já apagada, a república de estudantes em silêncio, a vizinhança ressonando seus primeiros roncos, mas lá estava ele, com o cérebro a mil.Não que não estivesse cansado, porque estava, mas todas as noites pareciam iguais. Prometia a si mesmo que iria deitar cedo, dormir bastante e ir com um ótimo humor para a faculdade no dia seguinte. Neste, no entanto, era possível encontrá-lo deitado com um dos braços sobre o tampo da mesa, ouvindo de longe o professor discutindo Shakespeare com os outros alunos enquanto ele, assustado, acordava de três em três segundos, com medo de estar até babando um pouquinho.
Zayn andava tendo alguns problemas para pegar no sono, no que se dizia respeito aos últimos dois anos. Um para seu último ano no Ensino Médio e outro para seu primeiro ano na faculdade. Nada traumático lhe acontecera, no entanto, para lhe atormentar ao fechar os olhos. Era só aquela ansiedade maluca, de certa forma incômoda, que o mantinha acordado, mexendo várias vezes em todos os aplicativos do seu celular, checando se algo novo havia acontecido enquanto ele não estava lá, tipo no último um minuto e meio. E lá ele permanecia, às vezes por duas ou três horas depois de já ter deitado, totalmente ligado e desperto, por mais que sentisse que às vezes havia um punhado de areia entre suas pálpebras, obrigando-o a fechar os olhos.
O resultado, é claro, era palidez e belas olheiras no dia seguinte, o que Louis sempre acabava por comentar.
"Por acaso você está usando drogas e não me convidou?" perguntou ele, certo dia, numa terça-feira, enquanto fazia alguns ovos mexidos para o café da manhã. "Ou você é o carinha que anda pichando coisas pela cidade, no meio da noite? Aquelas frases reflexivas, do tipo 'Você realmente já acordou hoje?' são muito a sua cara...".
Para comentários assim, Zayn só conseguia reagir de um jeito: parava de comer seu cereal, revirava olhos, levantava da mesa, deixava sua tigela e a colher na máquina de lavar louças e seguia para fora da casa, deixando o amigo para trás.
Contudo, no último mês, ele havia descoberto uma solução um tanto peculiar para seus problemas. Numa rápida pesquisa no Google sobre alguns recursos alternativos para combater ansiedade, acabou por achar uma página que tinha vários vídeos muito estranhos. Todos tinham uma sigla esquisita no título, a tal ASMR, e ao clicar para assistir alguns deles, Zayn se viu encarando na tela do seu celular várias pessoas falando com a voz suave, às vezes até sussurrando, batendo levemente as unhas ou as pontas dos dedos em todo o tipo de objeto, desde produtos de maquiagem, capas de livros e até plásticos bolhas barulhentos.
Aquilo o intrigou de imediato. Afinal, que porra era aquela? E antes disso, por que havia tantas pessoas no mundo fazendo aquele tipo de vídeo? Aproximadamente 2.400.000 resultados era o que aparecia quando procurava a tal sigla no YouTube, e digamos que isso significava um número um pouco maior do que ele realmente esperava.
Confuso, ele buscou tentar entender um pouco melhor do que aquilo se tratava. Ao jogar a palavra na rede e clicar nos primeiros links, descobriu que ASMR era uma sigla para Autonomous Sensory Meridian Response, o que nada mais era do que uma sensação muito boa de formigamento na cabeça e nas extremidades do corpo, que acabava por relaxar a pessoa quando se assistia a alguém fazendo determinadas atividades ou ao escutar alguns tipos de sons. Algumas pessoas chegavam a chamar de orgasmo cerebral, o que era ainda mais intrigante.
A esse tipo de vídeo, era normal haver algumas recomendações iniciais, tais como sempre usar fones de ouvido – para aumentar a imersão nos sons presentes no áudio, que podia variar de um ouvido para o outro – e estar numa posição confortável – geralmente deitado na cama ou em alguma poltrona aconchegante.
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Triggers
FanfictionNa qual Zayn tem problemas para dormir e Liam tem um canal de vídeos no YouTube que pode ajudá-lo a relaxar.