Meu parceiro.

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-Eai... – aquele silêncio predominava no vagão do trem.
-O que você quer? – Jack estava quase dormindo.
-Me conte mais dessas espadas loucas.
-Não são espadas. – Ele bocejou. – São artefato dos Deuses.
-Tá tá, o que seja. Aonde vocês conseguiram?
-Você não vê notícias ou algo do tipo não?
-Desculpa, morava na rua.
-Existe uma corporação que está crescendo cada vez mais, ela luta contra o governo da capital de maneiras indiretas, como por exemplo o prefeito da sua cidade. Com a caída dele, algo vai influenciar na capital, nem que seja apenas 0,1%. Nós não estamos preparados para peitar os despertantes oficiais, até porque poucas pessoas são compatíveis com esses artefatos.
-Não entendi direito, mas... eu quero artefato! – Ele abriu a boca.
-Você está louco? – Ele falou muito alto, sorte que estávamos a sós no vagão. – Sabe quanto tempo a gente treina para podermos usá-los?
-Essa corporação é uma escola? – Ignorei-o.
-Eu e Jack treinamos por volta de 6 anos para conseguirmos uma arma. – Lisa acordou.
-Eu vou pegar em dias. – Falei.
-Isso é impossível! – Lisa retrucou.
-Há um jeito. – Jack parecia arrependido de falar sobre isso.
-Me conte! – Estava empolgado.
-Há um "torneio" todos os anos, é uma arena muito bem-feita e rígida, feito de ametisth, o minério quase impossível de se quebrar. Enfim, os alunos de todas as escolas do mundo participam desse torneio. 
-Então eu só preciso ganhar né? – Excitei.
-É verdade. – Lisa sorriu. – Pena que precisa de dois para participar do torneio.
-Ué, um de vocês entra comigo.
-Não pode participar os alunos que já possuem seus artefatos. – Jack precisou dizer o óbvio para mim.
-Não tem problema, eu vou sozinho.
-É regra. – Lisa suspirou. - Desista, ninguém vai querer ser parceiro de um cara que nem é aluno.
-Eu vou falar com o diretor! – fiquei de pé, o chão tremeu e eu bati meu braço na cabeça de Jack, que por sinal estava quase pegando no sono.
-Já chega! – Jack levantou mais puto do que nunca. – Eu já can...
Ele foi interrompido por gritos nos vagões mais próximos.
-O que está acontecendo? – Perguntei.
-Parece que alguém sabotou o trem! – Lisa estava segurando firme na barra de ferro que tinha em cima de nós.

"Atenção passageiros, parece que o trem pegou a curva errada e está se dirigindo para um lugar sem saída..." 

Eu podia sentir sentir a voz de tristeza do motorista ao ter que dar um aviso desses...

Jack colocou a cabeça para fora.

-Ferrou. – Ele disse tirando sua cabeça de fora com uma cara apavorante.

-O que? – para ele estar preocupado, deve ser algo bem perigoso.

-Penhasco. – ele sentou na poltrona que tinha no vagão (a propósito, nós invadimos esse trem, não temos dinheiro para usar trens de luxo ).

-Não é possível.. – Lisa ficou triste.
-Se eu tirar vocês dessa vocês me levam nessa escola aí?
-O que você está falando cara? – Jack estava desistindo. – Não têm o que fazer.
-Vou considerar isso como um sim. – Pulei pela janela. Ouvi gritos da Lisa chamando por mim.
Então... fiquei pensando. Por onde começar?
Eu estava no teto do trem e finalmente entendi o que aconteceu. O trilho não estava errado, o que estava errado era a falta de uma ponte.
-Que crueldade. – Falei baixo.
-Quem é você? – Alguém parecia estar atrás de mim.
-Hm? – Virei para trás.
Era um homem estranho, eu acho. Sua pele era verde e tinha olhos amarelos. Aquilo no traseiro dele era uma cauda?
-Cosplay? – Perguntei.
-Está zoando comigo? – Ele tinha dentes muito maiores que os de um ser humano. – Eu sou um Orc! Não sabe dizer só de ver?

-Orca? Mas isso não é um animal marinho? – não entendi.

-Vou te matar! – O tal do Orca veio pra cima de mim de quatro, como se fosse quadrupede.
Pulei por cima dele, que acabou deslizando no teto do trem, batendo a cabeça de leve.
Comecei a rir.
-Você é engraçado, pode me dar um autógrafo?
-Droga.. – O cara estava preocupado. – Tenho que pular daqui, já já o trem vai cair...
-Ã? Trem? – meu cérebro começou a captar as coisas. – Aaaaaaaaaaa.
-Adeus seu humano imundo. – O cara pulou do trem e correu para a floresta que tinha ali perto.
Não liguei muito para aquilo, estava preocupado com o trem.
Acho que era tarde demais, os gritos estavam mais fortes mas eu não conseguia entender o porquê. Até que meus pés já não estavam mais encostados no teto do trem. Estávamos caindo!
Um pouco antes de chocar no riacho, usei toda a minha força para que a telecinese aguentasse o peso de tudo aquilo. Acredite, foi pior do que ir ao banheiro quando você está seco, foi uma força que eu achei que meus olhos iriam explodir.
Consegui erguer o trem até o outro lado do penhasco, mas não consegui colocar no trilho. Eu estava tão desgastado que acabei desmaiando ali mesmo.
***********
-Finalmente acordou. – Disse uma voz que eu reconhecia.
-É você Jack? – Minha visão estava embaçada.
-Eu. – Ele riu. – Não era eu o cego?
-Parece que o jogo virou para você. – Lisa comentou.
-Onde estamos? – Perguntei á eles.
-CDR. – Jack disse como se eu soubesse muito o que significava.
-Que?
-Corporação dos Revolucionários. – Lisa explicou.
-A escolinha? – Reanimei.
-Nós prometemos. – Jack sorriu, o que era quase impossível.
Levantei da cama.
-Que dia é o torneio? – perguntei.
-Então... – Jack olhou para mim com uma cara triste.
Só me faltava o torneio já ter sido realizado, eu não iria aguentar até o próximo ano.
-Vai ser daqui 3 dias... – Lisa continuou.


Eu comecei a gritar de felicidade no meio da enfermaria. Os dois ficaram me olhando sem entender nada.
-Você entende o que isso significa? – Jack puxou a gola de minha camisa.
-Sim. – Tirei a mão dele de lá. – Que eu vou ganhar um artefato de não sei o que mais rápido.
-Você não tem jeito! – Lisa deu de ombros.
-São pessoas de todas idades Greed! – Jack ficou me balançando. – Pessoas do mundo inteiro veem aqui para adquirir essas armas! Eles podem ser até mais fortes do que um usuário expert.
-Assim que é bom! – Andei até a saída. – Se fossem fracos não teria graça.
Assim que eu saí da enfermaria, Jack perguntou para uma pessoa que estava se escondendo nas sombras:
-O que achou dele?
-Interessante. – A voz indefinida começou a dar risada.
Fala sério... Eu estou numa escola ou num palácio? O lugar era tão grande que eu nem sabia por onde começar a procurar a diretoria.
Haviam apenas adolescentes por volta da minha idade passando pelas salas, aparentemente são alunos que ainda não possuem artefatos.
Comecei a ouvir um barulho na sala do lado, que era revestida de um material diferente do da sala passada, como se fosse projetado para explosões ou algo do tipo.
-Próximo! – Um garoto que estava igual a mim, sem uniforme, estava aparentemente lutando com os alunos do colégio, como se procurasse por algo. Ele parecia ter a minha altura e era loiro também, tenho medo de que ele seja algum irmão gêmeo perdido por ai, porque, na minha opinião, ele me lembra um pouco.
-Ei. – Cheguei para um dos alunos que estava na rodinha, assistindo o garoto xingar todo mundo. – O que está acontecendo aqui?
-Um cara que eu nunca vi por aqui está lutando com todos os alunos que ele acha que podem ser fortes... esse cara é maluco!
-Valeu. – Sorri. Sim, eu estava excitado.
-Parece que você está causando muitas confusões para quem nem estuda aqui. – Cheguei perto dele.
-Oh.. – Ele parece ter gostado da minha aparição. – Parece que você é de fora também.
-Digamos que eu estudei no colégio street.
-Oi? – Ele ficou confuso.
Eu quis dizer rua, mas não faz sentido explicar isso pra ele.
-Porque está lutando com esses caras? – Perguntei.
-Preciso de uma dupla que seja forte para participar comigo.. – Sua voz ficou depressiva. – Mas esses caras são bem chatos..
-Acredito que eu possa te divertir um pouco então.. – Levantei a manga do meu braço que não tem tatuagem, para não causar confusão.
Ele estava com uma katana em seu cinto, mas parece não ter desembainhado ela.
-Não vai usar a espada? – Perguntei.
-Só se você for digno para isso.
Não consegui me segurar, avancei em sua direção com toda velocidade que eu tinha, antes que eu pudesse desviar, um homem apareceu mais rápido do que eu e me segurou pelo pescoço. Ele fez a mesma coisa com o Garoto.
-O que é isso? – Perguntei.


-Vocês... – Era um velho de uns 50 anos, seu rosto estava com algumas cicatrizes que mostravam que ele já participou de várias lutas durante sua vida. Algo nele me assustava, mas eu não sabia o que. – Vamos para a diretoria.
Pelo que as pessoas comentavam em nossa volta, o velho era o diretor da escola e todos ficaram honrados ao vê-lo. Parece que ele não sai muito da casinha.
Chegando lá, o garoto começou a falar antes do diretor:
-Você é o professor desses caras? – Ele parecia estar nervoso. – Porque eles foram muito fáceis.
-Com certeza foram fáceis para você Luke.. mas você estava no bloco 1, ou seja, apenas iniciantes ficam por lá.
-Serio? – Luke parecia ter caído num penhasco sem fim.
O diretor riu.
-Não fica assim, logo você acha alguém.
-Eu precisava falar com você, diretor.
-Pode me chamar de Randolph.
-É... – não via necessidade disso mas.. – Sr. Randolph, eu posso participar do torneio sozinho?
-Infelizmente eu não posso deixar isso acontecer... Não é nada pessoal mas temos que seguir as regras.
-Onde fica o último bloco? – Perguntei.
-Eu também quero saber! – Luke se manifestou.
Depois que o diretor nos explicou onde ficava, eu e Luke saímos juntos procurando.

**********

-Viu só Rand. – Uma voz diferente apareceu. – Eles são interessantes, não?

-Que lado será que eles vão escolher?. – Randolph parecia preocupado.

**********

Enquanto estávamos andando, eu resolvi falar:
-Eu vi sua posição antes.
Ele ficou surpreso.
-Então você percebeu? – Ele riu.
-Se o diretor não tivesse aparecido, eu teria quebrado sua espada. – Falei.
-Ah é? – Ele olhou para mim sorrindo. – E eu teria cortado você em pedaços.
Começamos a rir juntos. Nunca achei que esse cara fosse ser tão gente boa.
-Você quer ser meu parceiro? – Ele me perguntou.
-Nem. – Ele me olhou surpreso com a resposta.
-Porque?
-Pois será mais divertido lutar contra você.
-Gostei da ideia. – Ele fechou seu punho e apontou para mim. – Não vá perder para ninguém até chegar minha vez.
Eu respondi ele com meu punho.
-Pode deixar! – Nós nos separamos.
Eu estava era no bloco 8, onde o pessoal do último nível frequenta. Com certeza a tensão aqui é muito maior do que no bloco 1.
-Quem é você? – Um grupo de jovens delinquentes se aproximaram de mim.
-Estou à procura de um parceiro para o torneio, alguém aí está afim?
Uma parte do bloco ficou em silêncio, como se eu tivesse falado algo que não devia.
-Você sabe quem eu sou? – O cara mudou seu tom de voz.
-O cara que vai querer ser meu parceiro?



-Você vai ver só o parceiro! – Seu braço não era mais um composto por pele, aquilo era metal.
Ele ameaçou dar um soco em mim, porém, foi tão lento que eu desviei só com a cabeça e passei o rodo nele, fazendo-o cair de um jeito patético.
-Esquece. – Bocejei. – Vou procurar por outro.
Seus amigos vieram por trás, como se eu não estivesse ouvindo. Virei dando um chute na lateral de um, que voou no outro ao seu lado.
-Sério que esse é o bloco 8?
-Não vá se achando. – Um cara mais velho que eu estava encostado na parede. – Esses caras são do bloco 3.
-Porque todo mundo ficou quieto quando eu respondi ele então?
-Porque eles são discípulos do Konga.
-Quem? – Fiquei me perguntando quem era o coitado que se chamava Konga.
O chão começou a tremer a cada cinco segundos. Isso era passo de alguém?
-Você que mexeu com meus discípulos? – Um cara alto, muito alto e forte, muito forte estava parado em minha frente.
Eu sorri largado.
-Você parece ser muito forte! – Falei empolgado. – Quer ser meu pa..
Antes que eu terminasse de falar, ele deu um tapa com a parte superior da mão, como se estivesse espantando um mosquito. Eu voei até a parede, grudando nela devido a força que ele me lançou. Sangue começou a escorrer pela minha testa.
Ele parecia aqueles lutador de sumo, só que em vez de gordura, era músculo.
Voltei para o chão. Limpei o sangue da minha cara e corri até ele.
-Vou te bater tão forte que vários ossos vão quebrar nesse seu corpinho desnutrido! – O gigantão disse.
Quando eu cheguei na distância perfeita para ele me socar..
-Velocidade 2! – Gritei.
O tempo parou, ou melhor, eu fiquei tão rápido que faz parecer que o tempo parou, mas não.
Agachei do soco do Konga e levantei dando o troco nele, socando-o para o teto. E ali ele ficou.
Todos os alunos estavam me observando, surpresos com o que acabou de acontecer.
-Parece que não vai ser aqui que eu vou arranjar um parceiro né. – Resolvi sair do bloco.
Eu achei um lugar perfeito para pensar! Era no telhado da "escola". Parece que era proibido subir aqui mas e daí? Nem sou daqui mesmo.
Fiquei debruçado sobre a grade, observando o grande campus á minha frente. Eu achava que essa Corporação fosse um pouco mais.. "assustadora".
-Até quando você vai ficar me observando? – Falei para a pessoa que estava nas escadas me espiando.
-Quando você me percebeu? – Era uma garota, seu cabelo era ruivo e seus olhos castanhos claros que combinavam perfeitamente com sua personalidade.
-Desde quando eu acordei na enfermaria. – Respondi.
Ela ficou surpresa.
-Procurando um parceiro? – Ela sorriu para mim.
-Pois é.. – Fiquei pensativo, numa hora dessa Luke deve ter conseguido alguém já.
-Quer me testar? – Ela me ameaçou.
Essa garota era chamativa demais, não sei porque mas eu tinha um péssimo pressentimento sobre ela.

Corri até ela e a chutei o mais forte que eu podia. Por algum motivo eu podia sentir que eu podia liberar tudo nela.
Meu chute não fez efeito, pelo contrário, minha perna que doeu.
-Você deixou seu corpo de metal também? – Perguntei.
-Por favor. -Ela sorriu. – Não me compare com esses lixos.
-Bom, acho que para quem conseguiu aguentar meu chute sem nenhum arranhão...acho que você está contratada.
-Eu ainda tenho muita coisa para mostrar! – Ela parecia confusa.
-Eu sei identificar quem vale a pena. – Comentei.
Ela saiu de sua posição de luta.
-Meu nome é Greed, espero que nos demos bem.
-Eu sou Ruby, igualmente.
Seu nome faz jus à sua aparência, pensei.




As aventuras de Greed: O despertarOnde histórias criam vida. Descubra agora