Os saltos da minha bota faziam um barulho ensurdecedor enquanto eu caminhava pelo corredor que, apesar de cheio, se encontrava em um silencio deprimente. Tentei não olhar para ninguém, mas podia sentir os olhares deles sobre mim. Eu sabia o que eles estavam pensando, e o que estavam sentindo. Raiva, ódio, desejo, tristeza. Senti um refluxo subir, mas contive o mesmo. O policial encarregado de me levar até o meu destino perguntou se eu estava bem, respondi que sim e continuei meu caminho. Eu não estava bem. Nada estava bem. Depois de anos eu iria reencontrar ele.
Ao entrar na pequena sala branca senti meu coração se descompassar quando botei meus olhos no homem à minha frente, sentado à mesa com as mãos algemadas e a cabeça baixa. O policial que me guiou me alertou que eu teria no máximo dez minutos e depois precisava sair. Concordei e então ele saiu. Respirei fundo e me sentei na outra cadeira de frente para o presidiário. Ele levantou a cabeça e me fitou profundamente, me fazendo sentir uma pontada de dor ao ver o estado que ele se encontrava. Ele devia ter perdido em média uns quinze quilos ou mais, seu rosto estava tão cadavérico que me deixou assustada, seus olhos antes tão cheio de vida e alegria estava definitivamente mais tristes e sombrios.
– Você virou uma linda mulher, afinal de contas – sua voz rouca e baixa preencheu meus ouvidos. Céus, como eu havia sentido falta daquela voz.
– Desculpa não vir antes, mas você havia pedido para ele não me deixar vir – falei um tanto ríspida. Mesmo não querendo, era difícil segurar a mágoa que me atormentava.
– Eu queria evitar que me visse dessa forma – sorriu fraco. – Acho que não deu muito certo, não é? – apesar do riso fraco eu sabia que ele, mais do que eu, estava magoado.
– Muita coisa não deu certo desde que eu perdi você e logo depois perdi ele – voltei meu olhar para suas mão algemadas, não aguentando encará-lo por muito tempo. – Eu senti a sua falta – coloquei minhas mãos sobre a dele e senti uma lágrima escorrer dos meus olhos.
– Você nunca me perdeu. Eu perdi vocês – senti minhas mãos serem apertadas e um carinho gostoso se instalar ali.
– Eu preciso da sua ajuda – o encarei de novo. – Eu sei que você esconde algo de mim – dessa vez ele que desviou seus olhos dos meus.
– Eu não sei do que está falando.
– Você sabe – larguei suas mãos e bati na mesa. – Que droga! Para de tentar me excluir das coisas. Vocês dois mentiram pra mim e olha só no que deu! Eu estou sozinha e sem respostas – A raiva percorria as minhas veias. Ele não falava nada, apenas fitava um canto qualquer da sala enquanto eu esperava pela sua ajuda, uma dica qualquer que fosse.
– Ei moça, seu tempo acabou – o policial adentrou a sala, me alertando que eu tinha que ir embora. Já havia acabado o tempo de visita. Meu coração se apertou, eu queria ficar mais. Eu queria respostas e queria poder ter mais tempo com ele, mas não podia. Levantei da mesa relutante e fui até a porta.
– Katherine... – ele me chamou e eu me virei, encarando uma última vez seus olhos tristes. – Não se meta nessa história, você não está preparada ainda. É muito perigoso – seus olhos estavam marejados e eu podia ver que suas mãos tremiam levemente.
– Eu não vou desistir dele e nem de você – falei decidida e, mesmo com lágrimas nos olhos, ele sorriu.
– Eu te amo – falou, fazendo com que eu me acalmasse e algumas memórias de todas as vezes que ele falou isso voltassem.
– Eu também te amo pai. Eu também te amo... – disse e saí da delegacia, deixando o homem para trás.
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Drive
General FictionEm um mundo onde a rivalidade reina, não existe sorte. Correr riscos é o preço que se paga por querer a liberdade. Numa estrada onde não existe perdão e nem limites de velocidade, ela se jogou. Decidiu fazer de tudo para ser ouvida. Até onde você ir...