Capitulo 1

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Cada noite a morte chegava, lenta e dolorosa, e a cada manhã, Maddox despertava em sua cama, sabendo que teria que morrer de novo mais tarde. Aquela era sua maior maldição, e seu castigo eterno.

Passou a língua pelos dentes, desejando que fossem uma navalha sobre a garganta de seu inimigo. Já tinha transcorrido a maior parte do dia. O tictac do relógio era um som venenoso, porque cada segundo era um aviso zombador de dor e mortalidade.

Faltava pouco menos de uma hora para que a primeira facada atravessasse seu estômago, e nada que pudesse fazer ou dizer podia mudar isso. A morte viria por ele.

- Malditos deuses - murmurou. Incrementou o ritmo dos levantamentos de pesos que estava fazendo.

- Canalhas todos eles - disse uma voz familiar às suas costas.

Os movimentos de Maddox não diminuíram pela indesejada intromissão de Torin. Vamos, abaixo. Vamos, abaixo. Levava duas horas desafogando sua frustração e sua ira
com o saco de boxe, na fita e no banco de musculação. As gotas de suor lhe caíam pelo peito e pelos braços. Deveria estar tão exausto de ânimo como o estava fisicamente, mas suas emoções só se fizeram mais escuras, mais poderosas.

-Não deveria estar aqui. - disse. Torin suspirou.

-Olhe, não queria interromper, mas aconteceu algo.

-Pois se ocupe disso.

-Não posso.

-Seja o que for, tente. Eu não me encontro em boa forma para ajudar.

Durante aquelas últimas semanas, faltava muito pouco para que ele se perdesse em sua personalidade assassina, e ninguém estava a salvo a seu redor. Nem sequer seus amigos. Sobretudo, seus amigos. Não queria fazer isso, mas algumas vezes, não tinha poder para dominar seus impulsos de bater e mutilar.

-Maddox...

-Estou no limite, Torin. - disse. -Faria mais mal que bem.

Maddox conhecia suas limitações. As conhecia há milhares de anos. Desde aquele desgraçado dia em que os deuses tinham escolhido a uma mulher para levar a cabo uma tarefa que deveriam ter encomendado a ele. Pandora era forte, sim, a soldado mais forte de seu tempo. Mas ele era mais forte, e mais capaz.

Entretanto, o tinham considerado muito fraco para cuidar do dimOuniak, a caixa sagrada que continha demônios tão vis e destrutivos que nem sequer podiam ser confinados no Inferno.

Maddox nunca teria permitido que a destruíssem. Ante tal afronta, a frustração se apropriou dele. Se apropriou de todos eles, de todos os guerreiros que viviam ali. Tinham se entregado a luta pelo rei dos deuses, tinham matado com maestria e o tinham protegido. Deveriam tê-los escolhido como guardiães. Que não o tivessem feito tinha ocasionado aos guerreiros uma vergonha que não podiam tolerar.

Só pensavam em dar uma lição aos deuses aquela noite em que roubaram dimOuniak de Pandora e liberaram a horda de demônios no mundo despreparado. Que estúpidos tinham sido. O plano para mostrar seu poder tinha fracassado, porque a caixa se perdeu na batalha, e os guerreiros tinham sido incapazes de capturar a um só dos espíritos malignos.

Logo tinha reinado a destruição e o mundo tinha ficado envolto em sombras, até que o rei dos deuses tinha intervindo: tinha amaldiçoado a todos e cada um dos guerreiros e os tinha condenado a levar um daqueles demônios dentro de si. Um castigo adequado. Os guerreiros tinham desatado o mal para vingar seu orgulho ferido; assim, a partir de então deviam contê-lo.

E desse modo tinham nascido os Senhores do Submundo. Maddox devia encerrar a Violência. Aquele demônio se converteu em uma parte de si mesmo, como os pulmões ou o coração. O guerreiro já não podia viver sem seu demônio, e o demônio não podia funcionar sem o guerreiro. Eram duas metades de um todo.

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