Vovô Coveiro

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Tereza era uma loirinha de nove anos que morava com os avós em Cornélio Procópio, interior do Paraná, uma cidadezinha tão pacata que a maior diversão dos habitantes no final de semana era passear pelo cemitério arborizado.

A avó Geralda era uma portuguesa carola que se casou ainda no Brasil Imperial e ganhou alguns escravos de presente. O estimado avô Miguel era espanhol, devoto de São Cipriano e único coveiro de Cornélio Procópio. E ele era um bruxo, disso Tereza tinha certeza, pois sempre via-o recitar orações que faziam fumaças surgirem e se movimentarem pela sala iluminada por candeeiros.

E, todos os dias, a pequena atravessava a longa alameda ladeada de pinheiros murmurosos, levando o almoço do pobre avô. A alameda dava-lhe medo, por ser fria e escura, mas não o cemitério.

Se vô Miguel ficava ali o dia inteiro, não poderia ser medonho. E ela gostava de passear e brincar pelos jazigos, vê-lo trabalhar nas covas e dos crânios cabeludos que ele desenterrava.

Mas, um dia, o cemitério tornou-se medonho. Vô Miguel ainda não tinha visto a tamanha maldade feita ali, mas Tereza, sim.

Brincando de pular de um jazigo ao outro, a pequena deparou-se com uma cova aberta e um belo rapazinho, de pele ainda fresca, lá dentro deitado. Mas ela não reparou em sua beleza, mas sim no peito aberto em cruz e nas quatro velas negras entorno dele.

O cemitério, um lugar gostoso de brincar e passar as horas, tornou-se o palco do horror e da maldade de pessoas bastante humanas que ainda viviam com a mentalidade na idade das trevas.

Foi o crime mais hediondo cometido na cidadezinha. E vô Miguel, bruxo que orava por proteção, teve que proibir a netinha de visitá-lo e trazer-lhe seu almoço.

FIM

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