Maddox gritou.
As chamas o devoravam dos pés a cabeça, derretendo sua carne e o reduzindo a cinzas. Era consciente de tudo... sempre o sentia. Seguia sabendo quem era, o que era, e que teria que retornar àquele fogo no dia seguinte.
A agonia era quase mais do que podia suportar. As colunas de fumaça se elevavam pelo ar, pulverizando fuligem por toda parte. Com repugnância, pensou que aquela fuligem lhe pertencia. Era ele mesmo.
Logo, muito em breve, recuperou seu corpo de homem, um homem que novamente se inflamou. Novamente, se derreteu, da carne ao músculo, provocando faíscas douradas e alaranjadas. E novamente, outra brisa enegrecida devolveu tudo a seu lugar, de modo que o processo completo começasse outra vez. E outra vez, e outra, e outra.
Durante todo o tempo, Violência rugia dentro de sua cabeça, desesperado por escapar. Já não estava saciado como o estava no momento da morte de Maddox. E mesclando-se com seus rugidos, estavam os uivos de outras almas condenadas que sofriam enquanto as chamas os devoravam.
Os demônios, aquelas criaturas aladas e asquerosas de olhos vermelhos, rostos esqueléticas e chifres amarelos, foram de um prisioneiro a outro, rindo, provocando-os, cuspindo-os.
E eu tenho um desses monstros dentro de mim. Salvo que o meu é pior.
Os outros demônios também sabiam.
-Bem-vindo, irmão. - lhe diziam, antes de o lamberem com suas línguas de fogo.
Antes, Maddox sempre tinha desejado se dissolver em um nada quando as chamas o abrasavam. Não queria voltar nunca para o inferno nem ao mundo. Desejava que sua desgraçada existência terminasse, e que a dor cessasse por fim. Antes sempre tinha
desejado isso, mas aquela noite não.
Aquela noite, o desejo eclipsava à dor.A imagem de Ashlyn apareceu em sua mente, provocando-o mais que os demônios.
Comigo não encontrará nada mais que felicidade, parecia que diziam seus olhos, enquanto separava ligeiramente os lábios como se quisesse receber um beijo.
Era um mistério que ele desejava resolver. Era deliciosa, tão feminina que despertava todos seus instintos masculinos. E surpreendentemente, tinha lutado para ficar com ele. Inclusive tinha lutado por lhe salvar dos outros. Maddox não entendia por que, mas de todo o modo gostava da idéia.
Possivelmente não tivesse sabido o que queria fazer com ela no princípio, mas agora sim. Queria saboreá-la. Inteira. Isca ou não. Caçadora ou não. Simplesmente, desejava, de tanto sofrimento, merecia um pouco de felicidade.
Nem sequer em seus dias de guerreiro de elite dos deuses tinha desejado a uma mulher mais que a outra. Depois, sempre tinha aproveitado aquilo que podia, quando podia consegui-lo.
Entretanto, desejava a Ashlyn especificamente. Desejava Ashlyn
naquele momento. Onde Lucien a teria deixado? No quarto junto ao seu corpo? Estava na cama, nua, envolta em lençóis de seda? Assim era como ele ia toma-la, pensou então Maddox. Não fora do castelo, como era seu costume. Não no chão frio e cheio de ramos. Em uma cama, rosto a rosto, pele com pele, investindo e deslizando-se lentamente.Ao penar nisso, o corpo lhe ardeu, ardeu de uma maneira que não tinha nada a ver com as chamas. Nunca tinha conhecido a uma mulher tão vulnerável como Ashlyn. Ali, sozinha, no bosque, com os olhos cheios de segredos. Seguida por assassinos. Maddox não sabia se eles tinham intenção de matá-la ou usá-la para matar a ele e aos outros Senhores. Mas o averiguaria.
Pela manhã, quando Lucien devolvesse a alma a seu corpo curado, a buscaria e lhe perguntaria. Não, primeiro a acariciaria, pensou. A beijaria. Saborearia todo seu corpo,
tal e como queria fazer naquele momento. Apesar da dor, se deu conta de que estava sorrindo.
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A Noite Mais Escura
Ficción GeneralUm guerreiro imortal amaldiçoado a morrer todas as noites, apenas para acordar na manhã seguinte sabendo que irá morrer novamente. Uma mortal com poderes além da imaginação... Ashlyn Darrow sempre tinha vivido atormentada por vozes do passado. Para...