A Esperança em um Sorriso

20 0 0
                                    

Arquipélago de Irralum-Rilhe. O único lugar conhecido no mundo onde wulups e humanos oficialmente dividem – na medida do possível – autoridade e responsabilidade igualitariamente. Nos limites meridionais do reino há um trio de pedaços de terra rodeados por água, denominado "Ilhas Frias". Apesar da aparente desolação que o nome possa denotar, as duas menores são lugares muito férteis graças à sua composição e à proteção da terceira e gigantesca ilha, denominada "Bán Sciath" ou "Escudo Branco", no idioma comum. A razão do nome torna-se bastante óbvia quando se visita o lugar pela primeira vez. A ilha maior na verdade é uma cordilheira com o topo e o lado sul dominados por gelo eterno. As ilhas menores, mas nem por isso pequenas, ficam ao norte – abraçadas pelo formato circular da maior –, florescendo em todas as estações, fazendo dali o local ideal para se pastorear mamutes. Os grandes animais apreciam a constantemente baixa temperatura do lugar tanto quanto sua abundante flora.

Longe desse paraíso frio, próximo das praias de um minúsculo conjunto de ilhas sem nome – localizado entre as Ilhas Frias e o arquipélago da região norte do reino, cujo nome principal da ilha principal é Irralum-Rilhe –, algo inusitado acontece. Uma tábua com a inscrição "Peregrino" cai na água. Isso, por si só, não é o fato curioso. Mas o motivo disso ter acontecido, sim.

– Precisamos passar pelo canal entre as ilhas! – diz Moira de Grimmark, a jovem líder da pequena expedição e sobrinha do conde Arthur Galford, das Ilhas Frias. – Os barcos dos piratas estão se aproximando pelas laterais e não nos deixarão rodear o lugar, mas o Peregrino é leve o suficiente para passar nas águas rasas entre as ilhas. Continuem navegando, Mairéad e Áaron. O sargento e eu vamos ver o que mais é possível arrancar para ganhar velocidade.

– Uns quarenta quilos a menos e eu ficaria mais confiante – fala o militar a serviço de Moira. Ele vira-se para o casal de crianças que pilota o barco e os agarra pelos cintos. – Realmente sinto muito, garotos, mas precisamos chegar a tempo naquele canal...

– Sargento! – Moira exclama. – O que houve com você?

– Senhora, com algumas dezenas de quilos a menos seremos capazes de quase voar baixo pelas ondas e conseguiremos passar. Ou alguns de nós saem do barco ou seremos...

– Quanto você pesa, sargento? – Moira interrompe seu musculoso subalterno ao mesmo tempo em que saca seu florete. Segurando a arma pela lâmina, ela a oferece ao soldado. – Do ponto onde estamos alguém do seu porte físico conseguirá nadar até a praia. Esconda-se lá e ajude os aldeões como puder.

– Sim, senhora... – responde entre os dentes aquele a quem o conde Galford confiou a segurança da filha do duque Gabriel de Grimmark, das Ilhas Frias. Ele vira a cabeça para os navios piratas e torna a olhar para a donzela apenas com o canto do olho. Após um breve momento, sua boca se contrai, deixando seu volumoso bigode quase no formato de um triângulo. Por fim e salta do barco.

– O sargento tinha razão quanto ao ganho de velocidade – ela conclui pouco após o ocorrido – Ele devia pesar mais do que nós três juntos.

– Desculpe, senhora...

– Mairéad, já disse pra me chamar só de Moira, certo? E por que pede desculpas?

– Agora estamos completamente desarmados e Áaron e eu não somos capazes defendê-la...

– Eu... – a nobre lembra-se do olhar dos pais de Áaron Sean Hogg e Mairéad Dunigan. O clã de pastores ao qual os garotos pertencem ficou defendendo a rota de fuga para que o quarteto pudesse fugir e avisar a capital sobre uma invasão nas Ilhas Frias. Mesmo que o resto da tropa de Moira tenha ficado junto às famílias para equilibrar a batalha, os aldeões se despediram dos filhos como se fosse a última vez em que os veriam. – Eu não perguntei suas idades... – diz ela, esfregando o nariz.

O Alerta do PeregrinoOnde histórias criam vida. Descubra agora