O Velho Manco: Parte I

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– Como foi a viagem à capital, tio Arthur?

– Boa como sempre, Moira. Qual é a situação da contabilidade das Ilhas Frias?

– Há dois dias terminamos o fechamento do caixa da primavera. Todos os relatórios já estão devidamente escritos e revisados em cima de sua mesma, tio. Como sempre.

– Temos uma nova marca histórica então. Faz 26 dias que terminou a primavera. Fizeram tudo em 24 dias. Parabéns! É por isso que você é meu braço direito, querida. Sempre eficiente... é...

– "Mas"?

– Você sabe...

– O mesmo "mas" de sempre?

– Sim, querida. O mesmo de sempre. Dói-me o coração ver sua irmã e você tão solícitas a fazer o necessário para o bem geral e sendo tão importantes para o reino, mas nunca se dando bem uma com a outra.

– Eu não odeio Lorelai. Já disse isso da outra vez. É só que, desde que ela me abandonou à própria sorte em Bán Sciath, fico mais confortável longe dela. O senhor já se colocou no meu lugar? Já pensou se minha mãe o tivesse abandonado quando vovô e vovó morreram?

– Anna jamais...

– Exato, tio! Jamais deveríamos sacrificar alguém que nos ama por algo que desejamos. Mamãe nos ensinou isso muito bem, mas Lorelai nunca foi boa em ouvir ninguém... Tudo bem. Ela é conhecida por ser uma rainha muito atuante na política nacional e internacional. Eu vejo isso no cenário geral, contudo não quer dizer que tenho que fingir que está tudo bem. Se ao menos ela tivesse pedido desculpas...

– Ela já me disse o quanto sente...

– Mas nunca disse pra mim.

– Convenhamos que você nunca deu muita oportunidade para isso.

– Ela tem vinte e quatro invernos e sabe muito bem onde me encontrar.

– Tua sobrinha mais nova, Annette, completou quatro primaveras recentemente e você ainda não foi conhecê-la, e nem ao irmão mais velho dela, Darragh III. Isso dói em sua irmã. Annette é tão parecida com você e Anna. Tão jovem e já possui o espírito independente de um lobo selvagem. Ela cresce cercada pelos filhos de Rur muito mais do que outros humanos...

– E o senhor acha isso ruim?

– Não, de forma alguma. Entretanto seria bom que os dois pequenos soubessem que a família da mãe também os ama. Lorelai está isolada do resto da família, afinal, seus meio-irmãos também não concordaram com o que ela fez. Se você visitá-la ao menos uma vez, Gabriel III e Anton se sentirão mais à vontade em retomar o contato com ela.

– Eu sei, tio... O senhor está certo, mas preciso de mais um tempo, tudo bem? Enfim, o que eu vinha lhe trazer era isso.

– Oh, querida! Obrigado por lembrar do meu aniversário. Mas um bolo com dinamite em cima não é um pouco extremo?

– Opa! Troquei sem querer. Deixe-me guardar isso...

– Sim, por favor.

– Olhando pela janela ainda esperando a visita de Rur, tio?

– Sim... Mas ele provavelmente não virá. Hoje completo 63 verões e não o vejo desde que tinha 40 e poucos...

– Bem, a esperança é a última que morre...

– Está correta, criança. Desta vez eu realmente pretendia visitá-los.

– Quem disse isso? Quem está aí?

O Alerta do PeregrinoOnde histórias criam vida. Descubra agora