Capítulo 1

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Dreaming
I was only dreaming
I wake and I find you asleep
In the deep of my heart dear
Darling, I hope
That my dream never haunted you

Gloomy Sunday

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Sammy acordou com o despertador tocando "Gloomy Sunday", sua música favorita. Ela esticou a mão para fora dos lençóis e apertou o botão que desligava o despertador. Se sentou devagar na cama, esfregou os olhos com ambas as mãos e por fim se levantou.

Foi até o banheiro e se olhou no espelho, o cabelo castanho estava uma bagunça total e o rosto todo amassado. Sammy lavou o rosto e escovou os dentes, não se ouvia mais nenhum som pela casa, mas ela sabia que era porque sua mãe estava no trabalho.

Era o primeiro dia de aulas depois do recesso para os feriados de natal e ano novo, e ela se sentia particularmente irritada com isso, ir a escola sempre foi uma chatisse.

Sammy vestiu seu suéter preto, um jeans velho e o all star preferido e desceu para tomar café. Fez ovos mexidos com bacon e tomou um pouco do café forte feito por sua mãe mais cedo, um dos prazeres de Sammy era beber café, forte e amargo, no ponto.

Por conta das condições financeiras um tanto chatas da família, as mulheres Hyland não possuíam um carro, por tanto Sammy ia todos os dias a pé para a escola, que ficava a uns 2 km de sua casa.

No caminho da escola, o que mais fazia era observar o céu, a posição e formato das nuvens. Hoje estava um dia um tanto quanto agradável para ela, o tempo estava nublado, com algumas poucas nuvens no céu.
A primeira aula do dia era logo a mais irritante, Álgebra nunca foi o ponto forte de Sammy.

Ao decorrer da aula, as palavras que o professor baixinho, carrancudo -  e é claro, careca - dizia iam se enrolando na mente dela, e nada mais fazia sentido. Sua carteira ficava ao lado da janela, que ela logo descobriu que era alegremente muito mais interessante que Álgebra.

Lá fora, voavam alguns pássaros pretos, e um que se destacava dentre todos. Ele era incrivelmente bonito, com as penas brilhantes e negras, e em suas asas havia uma cor em um tom de vermelho, que realçava nos céus.

-Sammy Hyland, você deve ter estudado realmente muito nesses feriados, estou certo? Afinal, não precisa nem prestar atenção em uma explicação tão chata como essa. Mas se bem me lembro, no semestre passado suas notas não estavam tão boas, não é? - Esnobou Eddie, o professor.

Sammy apenas desviou os olhos do lindo pássaro e passou a encarar o professor, ouvindo cada palavra dele, e o ódio se aprofundando cada vez mais dentro de si.

O normal seria os alunos rirem de um comentário daquele destinado a uma garota tão esquisita, mas não dessa vez.
Nunca ninguém riria de Sammy, todos a temiam, e ninguém podia se arriscar a dizer que era sem razões.

O apagador atrás de Eddie começou a se mexer. Primeiro tremendo e balançando, e depois começou a subir.
Nem Sammy nem ninguém sabia o que teria acontecido se naquele exato momento o diretor não tivesse batido a porta para falar com um dos alunos.

Ela perdeu a concentração e o apagador caiu no chão com um baque surdo. O professor se virou, pegou-o colocando de volta ao seu lugar original e deu uma última encarada na garota antes de receber o diretor.

Focou seus olhos no chão e uma pequena dor de cabeça a atingiu em cheio.

Depois de todo aquele estresse, finalmente o sinal tocou, indicando o horário do almoço. Sammy esperou todos os apressados saírem pelo corredor antes de andar calmamente em direção ao seu armário.
Depois de guardar seus livros ela vai até o refeitório e pega seu pedaço murcho de pizza com as batatas fritas crocantes e uma coca, e sai, se encaminhando à escada que levava a biblioteca, seu local de lanche.
Mas algo ou alguém bateu nela, de repente, derrubando a bandeja com toda a comida.
O garoto se lamentou com um triste "Ah.." e falou:

-Nossa, me desculpa, me desculpa mesmo, é que eu estava com muita pressa, olha, vou pegar outro pedaço de pizza pra você, ok?

Sammy não respondeu nada e o menino apenas se dirigiu ao balcão para pegar outra bandeja. Ela não conseguia deixar de pensar se aquele dia poderia ficar pior.

O garoto entregou tudo a ela, pedindo desculpas novamente, ao que ela nada respondeu, apenas indo para a escada.

Depois de um dos dias mais irritantes, o melhor aconteceu, começou a chover. Sammy não tinha um guarda chuva. E não era como se ela quisesse ter um, afinal chuva era a melhor coisa para ela.

Com meio caminho andado, um carro veio derrapando na água que empoçava no asfalto e quase a atropelou, parando junto ao meio fio.

Um garoto saiu de lá, seu cabelo loiro logo foi encharcado, e ele se aproximou de Sammy

-É... Oi, desculpa por isso, eu queria parar sem matar ninguém, ainda bem que eu consegui - ele disse isso esperando ouvir alguma risada ou algo parecido, mas há uma coisa que você aprenderá com o tempo, nunca se deve esperar uma risada de Sammy Hyland. - bom, não sei se você lembra, mais fui eu que derrubei o seu almoço hoje mais cedo, e espero que você me desculpe. Então, para compensar duas mancadas o que acha de entrar no carro e eu te levar até sua casa? Você deve estar morrendo de frio.

Sammy apenas o encarou por alguns instantes, e em sua mente ela realmente pensou em responder, mas ao fim, nada saiu de sua boca, e ela apenas continou andando e deixou o garoto ali, se perguntando se tinha falado algo errado.

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