O silêncio que domina o lugar causa náuseas em Moira. Com o que restou de munição foi possível carregar a pistola que sobrou e mais dois mosquetes. Fora o mosquete que sobrou carregado. Em sua cintura, no lugar da pistola arremessada agora há uma adaga que fora encontrada no armário. Com três mosquetes apoiados no pedestal e um mirando o alçapão, ela ouve ainda um pavio sendo aceso. Também são os últimos minutos do orbe vermelho aceso. Ela precisa ser eficiente se quiser sair viva. Assim que a explosão arrebenta a porta e as escrivaninhas em mil pedaços, o som de várias botas se aproximando só é freado quando os dois primeiros a entrar caem mortos. Os homens não entendem como ela consegue dar tiros tão certeiros com armas tão imprecisas, e isso os assusta. Então, três rifleiros sobem e conseguem ficar em pé no andar. Um deles é capaz de dar dois tiros antes de cair. Com o último mosquete, Moira consegue calcular e deixar que dois dos outros três tiros acertem o cabo de sua arma. Uma bala, entretanto, acertou seu arco montês e o rompeu. Enquanto os homens engatilham novamente suas armas, ela abate mais um. O último deles atira. Moira, sem perder tempo, devolve o tiro com a pistola enquanto ele engatilhava sua arma. Sem o arco, tudo o que Moira precisa é de um desses rifles, mas outros soldados sobem já atirando e conseguem pegar as preciosas armas primeiro. Não resta saída para a filha do duque de Grimmark. Ela saca seu florete e a adaga e parte para o combate corpo-a-corpo. Os rifles perdem eficiência de perto, pois os homens têm medo de acertar uns aos outros em um quarto tão pequeno. Moira consegue abater os três com suas lâminas, mas de repente o efeito do orbe passa e ela sente um dor terrível em seu pé quebrado. O capitão – que a enganou antes – aparece. Ele esquiva uma estocada precipitada que Moira fez e lhe chuta a perna de apoio. Estatelada no chão, a garota contempla a sala repleta de traidores. Os olhos do capitão emanam uma felicidade sádica e pouca misericórdia.
Seu sorriso, entretanto, é apagado quando um arpão negro passa puxando uma corda completamente negra, que rapidamente é esticada. A tensão é tão grande que ela emite notas graves. É como se alguém estivesse tocando um contrabaixo muito rapidamente. O som vai ficando mais e mais agudo até que, pela janela, passa uma gigantesca silhueta wulup. Ele é maior do que Rur. É bem mais jovem e começa a cortar as cabeças e a atravessar os corpos dos traidores como que seguindo uma coreografia ensaiada.
– Corram! É Beruf! – o capitão grita conforme se amontoa com os demais escada abaixo.
Moira vê os tiros com os quais uns poucos corajosos tentam acertá-lo serem desviados no ar da mesma forma que acontecia com Rur. O segundo filho de Rur tem os mesmo olhos violeta do pai, mas seu corpo é predominantemente cinzento, sendo que seu peito, perna esquerda e braço direito são brancos. Uma vez que todos os do andar estejam eliminados, ele corre escada abaixo pouco depois de dirigir um olhar fraterno para a garota como que a dizer "Tudo ficará bem".
~~ * ~~
Moira sequer consegue sentar, tamanha é a dor sentida. Olhando para o teto ela contempla o silêncio que seguiu-se ao maior desespero que ela já ouvira. Pelos gritos e som que foram emitidos dentro daquela torre, ela sabia que não havia luta alguma acontecendo, mas sim um verdadeiro massacre. Ela não pode deixar de lamentar por alguns soldados que provavelmente foram enganados pelo capitão. Os pesados passos do wulup interrompem os pensamentos dela. Beruf aparece carregando o capitão semi-consciente, o amarra pelo cinto no cabo e deixa que corra a toda velocidade para baixo. Não parece haver precupação de o prisioneiro chegar vivo ao Fantomas. O wulup se aproxima da moça.
– Olá, irmã da rainha! – ele diz pausadamente enquanto analisa o corpo da jovem. – Posso cuidar de seus ferimentos?
– Sim... – Moira está ainda desconsertad. Há pouco acreditava que estaria morta. – Como estão Áaron e Mairéad?
– Estão bem. Eles a aguardam em nosso barco. Vou levar-te até lá para que sejas devidamente tratada. Assim que livrarmos a ilha dos traidores, seguiremos com o resto da frota para a casa de vocês – são as últimas palavras que Moira ouve antes de desmaiar de dor e cansaço.
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O Alerta do Peregrino
FantasíaO Som dos Iguais - Livro 2: O Alerta do Peregrino. Partindo da região mais remota de Irralum-Rilhe com destino à capital, a filha do duque de Grimmark cruza as águas do arquipélago em uma urgente missão quando é forçada a parar em uma das ilhas pelo...