A Vida De Emma

Quatro - Por que o azul não seria a cor mais quente?!

Cheguei em casa exausta.

Era segunda-feira. Estudar de tarde era um saco e as aulas de hoje foram super cansativas. Eu estava lutando com meu corpo, meu sono e minha mente pra me concentrar naquelas aulas chatas. Passei os horários franzindo a testa como se isso fosse me ajudar; no final, não entendi nada.

Me joguei no sofá da sala reparando pela primeira vez o ambiente, meus pais estavam na cozinha, a comida na mesa, tinha mais comida que de costume alí. Minha mãe ainda não havia notado minha presença, e meu pai, já estava comendo sem se importar com mais nada.

- George, o que é isso? Vamos esperar Emma! Será possível esfomeado. - não segurei a risada, saiu baixa mas minha mãe escutou - Filha, que bom que chegou. - disse com um sorriso grande. Hum, estavam me esperando para quê, posso saber? - Vá tomar um banho que nós vamos receber visita. Na verdade, ela vai ficar por uns dias.
- Quem, mãe? - levantei do sofá curiosa, até que eu gostava de novidades.
- Doris, minha velha amiga. Ela veio passar uns dias aqui na cidade e, como sou muito boa amiga, a convidei pra ficar aqui. Tudo bem né, amorzinho?

Ela pediu minha opinião mas eu sabia que ela não se importaria se eu dissesse que não queria visitas, Doris já estava convidada.

- Ao menos não é uma adolescente chata que vai querer ficar no meu pé conversando a noite toda sobre produtos de cabelo. É uma idosa que vai ficar no seu pé. Tá ótimo. - disse dando de ombros.
- Ih. Nem te conto. - mamãe disse enquanto tirava uma torta do forno e a colocava no balcão. Tirando toda sua atenção de mim.
- Mãe! O que a senhora está armando?! - coloquei os cabelos atrás das orelhas caminhando até o balcão.
- Nada, anjo. Só que Doris tem uma filha, que vem junto. E, ela vai ficar no seu quarto. - Lúcia disse rápido fechando os olhos e colocando a língua entre os dentes, como uma criança que quebrou um prato e deixou sua mãe furiosa.

Ao imaginar uma garota morando na minha casa, passou pela minha cabeça as lembranças da ligação de ontem. Daquela garota da voz arrastada implorando por atenção. Se ela fosse linda como sua voz era, meu Deus, me segure. Apague as luzes. Chame os bombeiros. O SAMU.

Ah se fosse ela.

Quando voltei a atenção para a senhora em minha frente, a vi abrindo os olhos e franzindo a testa. Ela estava esperando meus gritos de ódio e eu simplesmente estava sorrindo, como se não tivesse ao menos escutado aquilo, eu sempre tive ciúmes do meu quarto. Da minha família e da minha casa, mas as coisas talvez estivessem mudando. Eu não acreditava fielmente que a garota seria ela, mas havia uma esperança, que eu não queria destruir, de que, sim, poderia ser ela.

Dei um beijo na testa da minha mãe, a deixando mais confusa e subi as escadas correndo até chegar no meu quarto. Fechei a porta, tirei o celular do bolso, não haviam mensagens, nem chamadas.

Gus ainda estava na faculdade resolvendo sua prova?!

Anne estava chorando em sua casa ou, beijando outra menina que mal conhecia?

E a bêbada desconhecida? Eu nem sabia seu nome... Eu poderia ligar e perguntar seu nome.

- Está tomando banho, Emy? - minha mãe gritou do andar de baixo.

Ou tomar banho.

- Estou indo! - gritei em resposta.

-x

Desci as escadas, eu estava pronta. Vesti uma blusa de pano leve e um moletom por cima, estava fazendo frio, e uma calça jeans, era o máximo que eu poderia fazer pelas visitas. Meus cabelos estavam soltos nos ombros, eu ainda achava que devia arrumar um tempo pra retocar a cor azul.