Samuel estava sentado na poltrona de sempre. Os pés se mexiam de modo ritmado e sua cabeça se movia junto com seus lábios. Hannah estava lendo como praxe, mas de algum modo o fato de ele estar se mexendo tanto começa a incomodar.
— Ei! – Ela chamou, mas ele não se mexeu – Ei! Samuel! – Chamou novamente, mas não houve resposta. – Samuel! – Gritou, lhe arremessando um ursinho, que parou perto do seu pé, sem o atingir, mas pelo menos chamou a atenção do rapaz que arrancou os fones do ouvido e olhou para ela.
— O que que foi? – Perguntou mal humorado como sempre. — Tá passando mal? Quer que chame a enfermeira, a doutora Ashford? – De repente a voz dele mudou e ele se ergueu veloz, indo para perto da cama, apertar o botão que chamaria ajuda.
— Não, não! Não é nada disso. — Explicou fechando o livro. — O que você está fazendo?
— Ah. — Ele disse, murchando a preocupação, voltando a ser um pouco irritante. — Ouvindo música, por quê?
— Posso ouvir? — Questionou, o fazendo franzir o cenho, mas se aproximou mesmo assim. Hannah deu um espaço para ele sentar ao seu lado, na cama, e pegou o celular de suas mãos. — Vamos ver o que tem aqui...
Samuel esperou que ela realmente não resolvesse ver se tinha algum vídeo clipe em sua galeria, já que tinha um pouco de material +18 que ele não gostaria que ela visse de maneira alguma. Hannah deslizava os dedos de modo engraçado pela lista de musicas de Samuel, ouvindo um pouco de algumas, já que havia lhe arrancado um fone.
— Cadê suas trilhas sonoras?
— Eu não tenho trilhas sonoras! — Afirmou como se fosse óbvio e a presença delas lhe ofendesse a masculinidade.
— E como você coloca a trilha sonora dos seus momentos? Entenda, aqui tem umas trezentas faixas diferentes! Você deveria fazer uma trilha sonora pra sua vivencia.
Samuel respirou fundo ao vê-la falando daquele jeito, mas resolveu não retrucar. "Entenda", "vivencia"... Nem o professor mais velho da sua faculdade falava daquele jeito.
— Certo. É... Ok. Vamos fazer uma playlist, trilha sonora, seja lá o que você quer. — Ele tomou o celular da mão dela e foi procurando a música desejada. — Que tal Whitesnake? Were I Go Again é um clássico!
— E em qual momento ou a qual pessoa se aplica? — Ela quis saber.
— Whitesnake significa cobra branca, acho que deveria ser a música da doutora Ashford, já que ela é branca e é uma cobra! — Disse sorridente e Hannah apenas o olhou de rabo de olho e ele riu.
— Não. — Disse simplesmente. — Escolhe cinco músicas e cinco momentos e eu faço o mesmo, ok?
Ele concordou e parou para pensar em algo, enquanto Hannah se apossava novamente do celular dele para fazer suas pesquisas. Demorou quase 30 minutos para ele dizer que estava pronto, enquanto ela já tinha terminado há quase 10 minutos antes.
— E então, rapaz? O que tem para mostrar? – Suas mãos se mantinham cruzadas sobre o peito e Samuel respirou fundo novamente, tentando não se lembrar do reitor da faculdade encarnado em uma menina de oito anos.
— Ok. — Ele se acomodou novamente ao lado dela, com um pedaço de papel na mão onde havia escrito suas músicas. — Comecei com uma clássica: Radio Gaga, do Queen, para representar como a vida é louca.
— Você seria mais bem sucedido na vida se seu palavreado fosse mais adequado, não concorda?
— Provavelmente, mas eu não me importo. A rebeldia faz parte do meu eu. — Disse, ignorando-a. — Posso continuar ou você vai me interromper novamente? — Perguntou cheio de si e Hannah novamente se limitou a revirar os olhos e o ignorar. — Como eu estava dizendo, a minha segunda música da playlist é A Thousand Miles, da Vanessa Carlton, para representar você e o fato de ser tão metida.
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Pra você, eu (Desgutação | Em breve)
Ficción GeneralApós vários incidentes envolvendo vandalismo e furtos, Samuel Trevor recebe uma última chance de permanecer em liberdade, e para que isso aconteça, ele terá de cumprir serviço comunitário em um lugar um tanto quanto inusitado, um hospital. E é lá on...