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  O bicho ronda o esconderijo.

  Você escuta a respiração dele procurando pela sua.

  Joga a mochila sobre o frasco com a barata dentro, para que cheiro que possa flutuar até o Carniceiro fique preso.

  O animal se agita entre as suas mãos contra o peito.

  Os galhos e cacos no lado de fora continuam quebrando com o peso do bicho.

  Você prende a respiração.

  Silêncio.

  A presença no lado de fora vai ficando cada vez mais longe...

  Longe...

  Longe...

  O Carniceiro vai embora.

  Você volta a respirar.

  Lenta e gradativamente.

  Expulsando a tensão e o medo do peito.

  Calmamente, você coloca o animal no chão e fecha os olhos.

  Deseja profundamente que essa sensação de alívio dure por tempo suficiente.

  Você abre os olhos, vê o animal se enterrando debaixo da mochila.

  A barata.

  Ele vai comer a barata.

  E foi isso que aconteceu da última vez:

  Ele comeu a barata e se instalou dentro da sua mochila.

  Se camuflou.

  Se protegeu.

  É tudo uma mutação.

  Uma adaptação para poder existir.

  Debaixo da mochila, a barata não existe mais.

  Você abre um frasco e toma todo o Brilhante Líquido.

  Abre um saco e engole todo o Pó-Saciável.

  Deslisa os olhos por todo o esconderijo.

  Dá um jeito em todas as possíveis brechas pelas quais o animal poderia fugir.

  Deita.

  Espera pelo sono.


CONTINUA...

Azul - A Cor do Último SonhoOnde histórias criam vida. Descubra agora