Prólogo

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A mocinha esfregou os olhos, virou-se para a janelinha de cantos arredondados de vidro grosso, exclamou:

– Nossa! Que bonito!

O lugar era mesmo. Os prédios, as casas, as ruas cheias de luzes e carros. "Parece São Paulo", pensou. Estava anoitecendo quando chegaram. Sentou-se corretamente na poltrona, instintivamente ajeitou o cabelo, pois acabara de acordar.

– Onde estão as outras? – perguntou.

A amiga apontou para trás e Patricia viu Rosana e Celia sentadas. Logo levantou-se e seguiu pelo corredor estreito em direção ao toalete. Parou em frente à porta estreita, viu se não tinha ninguém pela sinalização perto da maçaneta, entrou. "Mas que lugar apertado!", julgou. Olhou-se no espelho, conferiu tudo, retocou a maquiagem. "Sem muito enfeite", pensou. "Melhor ser discreta no primeiro contato", dissera sua mãe. Não queria causar má impressão. Saiu daquele cubículo, a comissária de voo pedia gentilmente que se sentasse. Voltou para o seu lugar, ajeitou-se, apertou o cinto de segurança. O avião ia pousar.

– Não sei o que é pior, subir ou descer – desabafou.

– Ih, Patricia! Depois da primeira vez é tudo igual, você vai ver – sorriu Raquel.

Então acalmou-se. Recostou a cabeça na poltrona, fechou os olhos esperando que as rodas tocassem logo o chão. Dali era como rodar em uma estrada esburacada, o que fizera muitas vezes. Era a primeira vez que andava de avião, o nervosismo era normal. "Tantas notícias de acidentes...", pensou. Olhou vez mais pela janelinha de vidro grosso.

O pouso foi tranquilo. Levantou-se, pegou a bagagem de mão com alguma dificuldade, foi saindo. As comissárias à porta do avião se despediam gentilmente dos passageiros. Rosana e Celia vieram atrás, a colega mais próxima foi à frente, nem pareciam ter saído de São Paulo. Estava frio, mesmo com o inverno no final. Sentiu cansaço e leve dor nas costas, estranhara o lugar. Raquel estava eufórica. Conhecia aquela terra, a sensação era diferente. Queria rever os lugares, as pessoas. Vivera tantas coisas naquela cidade...

Esperaram pacientemente o restante da bagagem na esteira. Tinham viajado vinte e quatro horas, mais aquilo... Patricia olhava as colegas, os outros ao redor, inúmeras pessoas fazendo igual. Até chegar aonde aguardavam, a esteira baixa fazia ziguezague pelo salão sem sinal de vida das malas das moças.

– E se alguma coisa se extraviar? – perguntou Rosana.

– Não tem problema, aqui é seguro – tranquilizou Raquel.

Pegaram tudo, Celia reclamou:

– Não me lembro de ter trazido tanta coisa – disse.

As malas pareciam ter dobrado o seu peso. Colocaram no carrinho de empurrar cheio de propaganda e foram para a saída. Rosana e Celia atrás comentando a viagem, Raquel, que conhecia, seguia à frente. Chegando ao balcão da alfândega – que mais se parecia com caixas de supermercado –, pararam:

Estão trazendo cigarros? – fez o gesto o homem com expressão nada amigável.

– O que ele falou? – Patricia perguntou insegura para Raquel.

– É só falar que não – disse a amiga balançando a mão para os lados para mostrar como se fazia.

Estão trazendo bebidas ou comida? – perguntou gesticulando novamente.

– Não – disse em português mesmo e abanou a mão.

O homem da alfândega nem estranhou e passaram. Se soubesse que tinham trazido um monte de doces... Logo após o balcão algumas pessoas esperavam. Uma moça bonita e bem-vestida em tailleur de cor sóbria acompanhava senhores engravatados. Raquel pensou tratar-se de uma japonesa, mas a moça chegou e disse:

– Boa noite! Meu nome é Priscila – disse em bom português. – Fizeram boa viagem? – continuou.

Era a tradutora da empresa. Logo cumprimentou as meninas uma a uma e conferiu se não faltava ninguém. Eram elas mesmas: Patricia, Raquel, Rosana e Celia. A moça de boa aparência apresentou os senhores, que eram os donos do lugar para o qual trabalhariam. Eles foram formais. Saíram do saguão do aeroporto, que não era tão grande, e logo estavam na rua.

Patricia só se deu conta de que estava na terra do Monte Fuji quando o vento gelado cortou-lhe o rosto. Em São Paulo estava uns trinta graus...


DKSG - o caminho de voltaOnde histórias criam vida. Descubra agora