Já eram duas horas da tarde quando estacionei o Impala em frente à casa na qual passei toda a minha infância. Respirei fundo e saí do carro, sentindo o Sol quente de Los Angeles tocar minha pele. Me virei e vi no alto da entrada da casa o menino encostado nas pilastras me observando.
— Vai ficar parado aí ou vai me ajudar a pegar as malas? — perguntei e o mesmo sorriu de ponta a ponta.
— Então é assim? Não vou poder nem te abraçar antes sua pirralha? — Zack falou, já descendo e vindo ao meu encontro. Sorri, e ele passou os braços em volta do meu corpo me envolvendo em um abraço exageradamente apertado. — Senti sua falta coisinha.
— Você poderia ter ido me visitar — falei saindo dos seus braços e segui para a parte de trás do carro a fim de pegar minhas coisas. O menino me acompanhou e pegou as maiores e mais pesadas, levando-as para dentro da casa. Segui os passos dele e assim que botei os pés para dentro do lugar senti uma pontada na boca do estômago. Uma mistura de saudade, nostalgia e tristeza.
— Poderia mesmo, mas caso você não se lembre eu tenho uma responsabilidade grande aqui — eu ouvia a voz dele mas não queria responder. Observei todos os cantos da casa, tudo parecia estar do mesmo jeito de quando eu a entreguei, pouquíssimas coisas estavam diferentes. — Ei! Kath... tudo bem?
— Oi. Está sim. É só que... você não mexeu em quase nada — o olhei e ele largou as malas, colocando as mãos dentro dos bolsos da calça de moletom.
— Eu não precisei mudar, e nem queria. Tudo aqui é perfeito. Lembro exatamente de quando você e ele resolveram reformar essa casa. Não fizeram só por vocês, fizeram para todos que entravam aqui, então tecnicamente esse lugar já tem um pouco de mim — sorri com as falas do meu melhor amigo e dei mais uma olhada no local. Era bom estar de volta.
-x-
Depois de colocar tudo no lugar no meu quarto, percebi que minha barriga estava doendo de tanta fome. Zack tinha saído para resolver alguma coisa e eu estava sozinha em casa. Desci as escadas e fui até a cozinha, vasculhando nos armários e na geladeira, e fiquei feliz ao saber que ali só tinha coisas não-saudáveis. Preparei um hambúrguer caprichado para mim e peguei um copo gigantesco de refrigerante, indo direto para a frente da televisão.
Quando percebi, já eram quase dez horas da noite e não tinha nem notícias do infeliz que agora morava comigo. Eu mal havia chegado e ele simplesmente me abandonara. Mandei umas mil mensagens para ele, e quando vi que não iria me responder, decidi subir e tomar um banho.
Entrei no chuveiro e deixei a água quente percorrer meu corpo. Agora não tinha volta, não tinha escapatória, eu estava ali e teria que encarar todas as pessoas. Teria que lidar de uma forma ou de outra com todas as minhas memórias. Eu não podia deixar ninguém me vencer, eu tinha algo para provar. Como faria isso eu não sabia, mas faria. Disso eu tinha certeza.
— Kath! — ouvi a voz grossa de Zack me chamar.
— Alguém resolveu aparecer hein? — falei, desligando o chuveiro e me embrulhando na toalha.
— Você deveria ser menos louca. Em menos de dez minutos você me mandou vinte e oito mensagens — ele falou e eu ri enquanto tirava o excesso de água do cabelo. — É o seguinte, troca de roupa que nós vamos sair.
— Aonde vamos? — perguntei curiosa, até porque já era tarde.
— Sair — o menino respondeu e ouvi a porta do meu quarto bater. Revirei os olhos e saí do banheiro, constatando que ele tinha mesmo saído do quarto sem me dar a oportunidade de questioná-lo.
Sequei todo o meu cabelo com o secador e coloquei uma roupa. Não sabia aonde a gente ia então optei por algo simples porém bonito. Peguei meu celular e meus documentos junto com meu cartão e saí do quarto já ouvindo o menino berrar lá da entrada meu nome.
— Puta que pariu, será que dá para esperar? Eu hein, parece um doido — resmunguei enquanto descia. Ao chegar ao fim na escada vi que ele estava encostado com uma cara tão tranquila e relaxada que nem parecia ser quem gritava pela casa toda hora.
— Achei que ia demorar mais mil anos. Iremos no meu carro. E, aliás, você está linda coisinha — ele sorriu e me puxou para fora de casa.
— Quando você vai parar de me chamar de coisinha hein? — perguntei entrando no carro do garoto, um Toyota Supra personalizado.
— Nunca — ele sorriu e deu a partida no carro.
-x-
Depois de uns quinze minutos estávamos parados em frente a uma casa que eu também reconhecia. À frente tinha um jardim bonito com algumas pessoas. O som alto dava para ser ouvido e o cheiro de churrasco ia longe. Saí do carro e sorri para as pessoas que me olhavam quase que surpresas. Não esperei Zack sair do carro. Me dirigi para perto da entrada, andei alguns metros e parei na porta do local. Meu melhor amigo já estava me acompanhando quando a porta foi aberta e um rosto bronzeado e sorridente apareceu.
— Kath linda! — Alicia exclamou e me deu um abraço apertado.
— Oi! Senti a sua falta moreninha — falei ainda nos braços da garota.
— Quando o nerd falou que você estava voltando eu surtei — a menina me soltou.
— Eu não sou nerd — Zack resmungou, revirando os olhos e passando por nós para entrar na casa.
— Vem, o pessoal está doido para ver você — quando entrei pude ver que algumas pessoas ali me observavam. Umas sorriam, outras apenas encaravam com expressões confusas e surpresas.
Alicia era um amor de pessoa, do tipo que te convence só de olhar para você. Todo mundo gostava da menina, principalmente porque ela era quem sempre oferecia a casa quando o assunto era festa — mesmo que fosse apenas uma reunião de amigos.
Ao sair do outro lado da casa, na área dos fundos onde ficava a piscina e a churrasqueira, pude ver quase que na parte central do lugar as pessoas das quais eu morria de saudade.
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Drive
General FictionEm um mundo onde a rivalidade reina, não existe sorte. Correr riscos é o preço que se paga por querer a liberdade. Numa estrada onde não existe perdão e nem limites de velocidade, ela se jogou. Decidiu fazer de tudo para ser ouvida. Até onde você ir...