Cap. 11.: Futuro Presente

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Berl fez como pediram e esperou em frente ao campo de tiro. Em alguns minutos de espera, entediada, sacou o arco e começou a atirar nos alvos do campo. Ainda faltava uma hora para o dia nascer, mas mesmo durante o meio-dia, com o sol no alto do céu, o ambiente dentro daquele bosque secreto encontrado pela Cerva Branca era mais que escuro. Perfeito para seus e suas Drow marcharem ao seu lado. "E também para uma informaçãozinha". Berl pretendeu esconder muito bem sua posição naquele jogo de peças e provou-se útil, jogando os joguinhos da terrível Cerva Branca e saindo das suspeitas de alguma traidora o mais rápido que pode. "Eu podia vender um buquê de rosas para o deus da feiura" se vangloriava. Por isso, Berl era a sargento mais próxima da Cerva Branca, quer dizer, até aquele tenente brucutu que andava ao lado dela. A sargento já percebera antes, mas existia algo estranho no relacionamento dos dois, algo sexual, sim, mas algo além disso. De qualquer forma, caída nas graças da Cerva, agora chegara a hora tão esperada, que ela contava à sua sargento de confiança aquele plano secreto que tanto falavam.

Berl fazia jogo duplo. Um jogo perigoso na política. A Cerva Branca era uma figura rebelde nova e misteriosa tanto quanto o Cavaleiro Azul que surgia do nada e do nada sumia. Apenas a Pequena Leoa poderiam os grandes senhores e seus exércitos caçá-los, mas essa tarefa foi incumbida para o arqueiro Gaius Tarim. A drow entendeu que o pai não queria que a filha caísse nas mãos de outro senhor e voltasse uma cabeça mais baixa. "Pobre tolo, dentro de algum tempo nada importará se é como os homens da rainha diziam" Berl remexia-se ansiosa. Fez de tudo para agradar a rainha, precisou dar mais que gostaria, mostrou os caminhos subterrâneos para que pudessem realizar trocas e moverem-se de forma segura pelo condado dos campos verdejantes e da costa azul, evitando que trombassem com algum exército vassalo de Lorde Stenger. Mas Berl brincava de traições desde pequena e aprendeu com as histórias do Nome Sussurrado que jamais deve deixar muitas responsabilidades com seus aliados mais valorosos: "...Porque você só é traído pelos seus". Lorde Vecna que o diga. Foi o próprio general que o traiu, decepando sua mão e um dos olhos no momento da traição.

"Creio que ela irá conversar algo sobre o Inquisidor nos bosques hoje. Finalmente posso alimentar Petraklia com alguma informação quente" Berl devaneava. Se os boatos estivessem certos, em pouco tempo os rebeldes entrariam em batalha aberta pela primeira vez e para isso apenas um dos líderes não bastariam. "Precisariam de todos os três: a Pequena Leoa, a Cerva Branca e o Cavaleiro Azul".

A manhã estava cheia de neblina, por isso não viu a Cerva Branca em seu manto e a coroa de chifres de cervo quando falou com ela.

- Berl. Pontual como sempre – disse para Berl.

A Cerva Branca era como qualquer outra Drow. Conseguia cavalgar no sol sem que ele machucasse seus olhos, possuía os cabelos cor prata da sua raça e logo de cara Berl identificou o sangue nobre da sua espécie nela. Soube naquele momento o porquê ela liderava uma tropa rebelde e, com o tempo, observou sua ousada cautela, como uma bailarina dançando sobre cacos de vidro. Uma mulher sem dúvidas curiosa. Usava também seu manto branco que escondia o corpo e a coroa de chifres que se projetava para fora do capuz.

- Sim, minha senhora – reverenciou a sargento quando a Cerva Branca apareceu. "Ela também esconde o nome muito bem, talvez só aquele homem-leão conheça o nome verdadeiro. Ele estava aqui quando ingressamos na tropa" – sobre o que queria conversar?

- O mundo, a vida, a batalha. Incrível como os assuntos e apologias dão voltas.

"Exatamente como uma bailarina dançando sobre cacos de vidro. Soltando sutis provocações em cada palavra, como se o mundo fosse uma piada que só ela entendeu". Ela assentiu, concordando. Aqueles rodeios eram necessários para o assunto principal.

O Leão e a ElfaOnde histórias criam vida. Descubra agora