73% AZUL

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  "Homens tomando a frente de suas famílias. Imprimindo no rosto o maxilar cerrado, forçados a engolir em seco a visão do pior acontecendo. Mulheres que misturam na pele o molhado de lágrimas e suor. Calcanhares finos pisando em outros pés. Braços esticados como se quisessem alcançar os próprios dedos. E as crianças... Essas são as piores. Carregam nos olhos o mesmo fosco das árvores mortas. Os lábios endurecidos e apertados, sem qualquer espaço para sequer um quase sorriso. A maldade preenche os corpos ainda em desenvolvimento. Então os caminhões chegam, flutuando sobre o azul da terra. Os olhares se cruzam, tensos. Medrosos. É quando as portas se abrem. Ninguém se aproxima. Eles são tão soberanos quanto a Luz. Igualmente anônimos. Enquanto a Luz Soberana se esconde Nela mesma, Eles têm os rostos cobertos por uma sombra negra, como uma máscara fabricada onde Antes eles chamavam de Inferno. É tudo uma mutação. Enquanto um lado for Luz, o outro sempre será Trevas. Uma adaptação para poder existir. Os sacos individuais começam a serem jogados aos dedos que desejam existir apesar de tudo. É quando o Inferno existe novamente, e tudo faz sentido. A mutação que se adapta. Agora é cada um por si e alguns por outros."


CONTINUA...

Azul - A Cor do Último SonhoOnde histórias criam vida. Descubra agora