Eu me apaixono

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Bem, Lindsey e Matthew tinham me levado ao tão venerado Acampamento Meio-Sangue. Já fazia uma semana desde que havia chego, e sentia algo estranho com os outros campistas. Aparentemente, eu não tinha um chalé somente meu. O que mais me intrigava naquela época, era Quíron e os sátiros. Teve um dia dessa semana, que eu simplesmente tomei o maior susto da minha vida. Como não tinha chalé, eu tinha que dormir em um dos quartos da Casa Grande. Quíron tinha a mania de me acordar com batidas na porta, usando a cadeira de rodas pra que eu não surtasse como da última vez. Mas, foi bem diferente.

-Mason, acorda. Você tem que sair do chalé e ir pra aula de arco e flecha. - Disse Quíron, abrindo a porta.

Eu acordei com a voz dele e me sentei na cama esfregando meus olhos. Era tão bom ter 4 anos. Me espreguicei e então percebi a luz vinda da porta. Quando virei o rosto, Quíron estava sobre seus 4 cascos de cavalo e seu arco na mão. Eu gritei alto e caí pra trás, na cama. Essa queda me rendeu 4 pontos na cabeça. Depois que eu estava sangrando, Quíron me pegou e me levou a enfermaria, onde uma enfermeira chamada Jane Cólon tratava de mim enquanto apertava minhas bochechas gordas. Me chamando de fofo e tudo mais. Porém, tinha algo que eu estranhava demais. Todos olhavam pra mim como se eu fosse o mal daquele local. Como era pequeno, não sentia raiva deles. Saí da enfermaria, com a cabeça enfaixada por cauda dos pontos, já que Quíron teria medo de mim ficar cutucando os pontos e acabar por abrí-los.

Enquanto eu andava, ficava olhando os campistas mais velhos, passando com suas armas, rindo, conversando e alguns até se beijando. Achava beijos nojentos, assim como contato físico com os outros. Segurava meu ursinho de pelúcia que tinha ganhado do Sr. D. Quem diria? Sr. D dando presentes fofos a criancinhas? Seria cômico se não fosse forçado. Finalmente, cheguei ao meu destino. Estava na arena. Aquele local mais parecia um coliseu completo. Tinha uma parte pra musculação, bonecos pra combates corpo a corpo, uma mesa com armas e o que eu teria de fazer: arcos e aljavas de flechas. Mesmo eu sendo uma criança, Quíron fazia questão de que eu treinasse com um arco e flechas menores que ele mesmo fez.

-Muito bem, Mason. Do jeito que eu te mostrei. É só se acalmar e acertar o centro. - Disse Quíron.

-Tudo bem. - Respondi a ele.

Então, tirei uma flecha da pequena aljava e a coloquei no arco. Puxei a corda e a soltei, acertando quase que fora do alvo. Fiquei frustrado com aquilo e me sentei no chão. Quíron apenas riu e ajudou uma garota mais velha que eu. Ela havia acertado o centro do alvo e lançou um sorriso pra mim. Mas não um sorriso do tipo: "Eu sou melhor que você, verme.". Foi mais um sorriso do tipo: " Se eu consigo, você também consegue.". A garota ergueu a mão pra mim me levantar. Peguei a mão dela e fiquei de pé. Era estranho. Ninguém jamais tinha sorrido pra mim.

-Eu me chamo Alyce. Sou filha de Atena. - Disse a garota, ainda sorrindo pra mim.

-Ahn... É... E-eu sou Mason. Sou filho de Élebu. - Respondi a ela, sem jeito.

-Nossa, você realmente é muito fofo! - Disse ela, rindo e apertando minhas bochechas. Revirei os olhos, e ela riu mais ainda. Alyce era realmente muito linda, embora tivesse 10 anos naquela época. Tinha olhos um pouco estranhos. Em vez dos convencionais olhos cinzas dos filhos de Atena, ela tinha olhos azuis cristal. Sua pele era branca, mas quase bronzeada. O cabelo era longo e castanho claro.

-Por quê todos fazem isso? É muito chato. - Retruquei a ela, tirando as mãos dela das minhas bochechas.

-Porque você é o novo mascote do Acampamento. O campista mais novo, e o mais lindo. - Disse ela, ainda sorrindo.

-Ah... O-obrigado. - Disse a ela, com as bochechas ardendo de tão coradas.

Continuei meu treino ali com Quíron por mais ou menos umas 2 horas. Eu estava cansado e suado. Estava também com saudade de minha "mãe", Lindsey. Embora eu já tenha descoberto aquele tempo quem ela era verdadeiramente, ela ainda me fazia muito bem. Sempre achei ela uma boa pessoa. E agora, tinha a Alyce. De todas as pessoas do Acampamento, ela escolheu sorrir pra mim, em vez de fechar a cara e fazer boatos infames. Ela escolheu ser minha amiga.

-Já chega por hoje, Mason. Já está bom. Vá comer algo, ainda tenho que dar mais algumas aulas por aqui. Mas, qualquer coisa, é só me chamar. - Disse Quíron.

Acenei que sim com a cabeça pra ele e deixei a arena, indo em direção ao refeitório. Alguns campistas me olhavam e diziam: " Olha, então essa é a criança de Érebo? Ouvi dizer que Zeus vai punir todo o acampamento por causa da presença dele.", "Esse é o responsável pela nossa última desgraça na missão ao Velocino de Ouro.". Aquilo me deixava nervoso as vezes. Eu não fazia ideia do que aquilo significava. Só não gostava de ter minha imagem sendo falada assim. Meus passos eram firmes e fortes. Quando me dei conta, eu estava parado na frente do refeitório. Olhei pra trás e a grama onde havia passado estava cinza, morta. Não entendi porque aquilo tinha acontecido.

" Seus poderes vão florescer rápido demais, e será um problema pra nós!". Foi o que Mason ouviu outro dia, na Casa Grande. A voz era de Dionísio. Ele conversava com Quíron, que apenas tinha me defendido, dizendo: "Seus poderes vão mesmo florescer rápido demais, mas caberá a nós fazer agora com que eles se tornem uma vantagem pra nós, ao invés de um problema.". Depois desse dia, eu vi Quíron de uma maneira diferente. Como um pai. Entrei no refeitório e me sentei em uma mesa vazia. Ainda não tinha uma mesa só pra mim. Peguei um prato e pensei em waffles com manteiga e calda de mel. Assim que os waffles apareceram, peguei um garfo e uma faca, comendo devagar.

-Ei, moço da bochecha fofa, o que está fazendo em minha mesa? - Perguntou Alyce, sentando-se na minha frente.

-Ahn... Bem... Estava vazia, e eu não tenho uma mesa. Quíron havia me dito que eu podia sentar onde quisesse, mas se te incomoda, eu sento em outro lugar. - Respondi rápido a ela, já com as bochechas coradas.

-Não, que isso. Pode ficar. Vou adorar ver suas bochechas grandes ficarem maiores ainda, ainda mais com essa avermelhação de timidez. - Disse Alyce, sorrindo.

-Ei... Para. - Disse, envergonhado e terminando de comer meus waffles. Tinha uma coisa nessa época que eu nunca tinha entendido. A paixão. Mas, depois desse dia, eu comecei a entender.

The Old DarknessOnde histórias criam vida. Descubra agora