Capítulo 8 - Calei

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Acordei umas 10:00 com meu celular tocando, era o número da Emília, dona da cafeteria.

- Alô.

- Oi, Luna certo?

- Sim, sim.

- É a Emília, é sobre a vaga de garçonete, meu filho falou muito bem de você, que se esforçou muito e fez tudo direito. Parabéns o emprego é seu, passe aqui hoje a tarde para acertamos tudo. Você começa amanhã, ok?

- Ok, muito obrigada pela oportunidade - ela desligou e dei uns pulinhos, percebi que a muito tempo as coisas não davam certo para mim, e a muito tempo que eu não me empolgava com algo. Olhei a foto da minha mãe que estava em cima da cômoda, mesmo que uma coisa tenha dado certo, não significa que tudo dará certo. A vida nunca foi justa comigo, por que seria agora?

Resolvi tudo que tinha para resolver naquele dia com Emília, estava oficialmente trabalhando. O salário não muito porém era o suficiente para pelo menos ajudar nas despesas na casa do Miguel.

(...)

Cheguei cedo no trabalho no dia seguinte, eu e Flávio iamos cobrir o turno da manhã naquele dia (ainda bem, não queria ter que suportar Manuelle no meu primeiro dia oficial de trabalho).
Flávio sempre me ajudava, e respondia minhas dúvidas, e meio que as vezes percebia alguns dos seus olhares para mim (ele realmente não sabia disfarçar, mas tentava), diferente de Eduardo, que sempre foi descarado, nos conhecemos no 1 ano do ensino médio, namoramos desde então até ele mostrar quem realmente é.

Então a rotina foi essa, alguns dias da semana trabalhava de manhã com Flávio, outros a tarde com a insuportável da Manuelle, sem compreender claro o que ela tinha contra mim, a noite curso, e todos os dias Miguel me dizendo uma frase.
Assim se passaram três meses.
As vezes eu e Miguel tínhamos um tempo que ficamos apenas na sala lendo livros, era tão engraçado o jeito que ele se concentrava pra ler (risos), e durante todo esse tempo que passávamos juntos, era como a dor que de início me consumia, sumisse, ou pelo menos se esconde-se bem escondido.

(...)

Era um dia de sábado, e como em todo sábado eu passava o dia lendo um dos livros que Miguel disponibilizava em sua enorme biblioteca que chamava de lar.
Mas esse foi diferente, estávamos na sala lendo como de costume, e de repente ele rompe o enorme silêncio que faziamos para ler.

- Luna, quero te levar a um lugar hoje, você aceita?

- Ah.. que lugar?

- Se eu disser estraga (risos)

- Tá bom, eu aceito, mas por favor só não me leve para sei lá, um desses shows de ópera ou música clássica (risos).

- Acha mesmo que eu só curto músicas clássicas? - me olhou torto.

- Não sei, você nunca me diz muito sobre você, só pergunta sobre mim.

- Pra sua informação mocinha, eu não curto somente músicas clássicas, gosto de rock, MPB, Internacional, eletrônica.. enfim, gosto de música boa.

- Você tem bom gosto, amo MPB, sem falar de eletrônica também.

- Interessante, venha vamos.

- Mas agora?

- Sim, agora.

Então ele pegou o carro e saímos da cidade, fomos conversando no caminho, ele me entendia como se me conhecesse a anos.
Chegamos a um lindo sítio, onde havia muitos animais.

- Sabe cavalgar? - ele perguntou.

- Sim, sei - confirmei - Minha mãe me levava para uma fazenda de uns amigos quando eu era pré-adolescente, e me ensinou a cavalgar - disse lembrando dos lindos momentos que passávamos cavalgando juntas.

- Então essa é a surpresa, hoje vamos cavalgar. Nossa é a primeira vez que você fala sobre sua mãe - ele comentou.

Realmente, eu nunca havia falado da minha mãe com ele, nem sobre ela ter morrido, e de ser um dos maiores motivos de eu ter desistido de viver também.
Mas também ele nunca me perguntou o motivo de eu querer me matar. Depois disso eu
Calei.




Enquanto A Lua BrilharOnde histórias criam vida. Descubra agora