Ouço alguém me chamar, mas não consigo me concentrar, parece a voz do Erick. Tento ouvir novamente e nada, olho para a estrada que me encontro e vejo apenas neblina, olho para o chão e vejo sangue, sinto um arrepio percorrer meu corpo. Quero sair deste lugar, mas ao invés disso sigo os rastros de sangue que mancham a pista até um carro capotado.
Vejo dois corpos jogados no meio da estrada, paro no mesmo instante e não escuto mais nada, apenas minha respiração e meu coração acelerado. Reconheço o carro dos meus pais, me aproximo e tudo o que eu temia está à minha frente, o corpo sem vida do meu pai de bruços. Ajoelho-me ao seu lado e vejo muito sangue, tento acordá-lomas nada acontece. Olho para minha mãe e o que vejo é mais sangue, deito a cabeça em seu peito para ouvir seu coração, mas está parado, grito por socorro no entanto ninguém me escuta.
Entro em desespero e grito mais alto até que escuto novamente a voz de Erick, tento pedir ajuda, mas não consigo, deito novamente no peito da minha mãe chorando e rezo para que tudo aquilo acabe.
– Julia acorda, é um pesadelo, acorda!
Acordo sendo sacudida e me deparo com o olhar de compaixão do meu namorado.
– Foi só um pesadelo está tudo bem - ele me abraça e eu desabo em lágrimas, choro pela morte dos meus pais, choro pela dor que sinto de não ter me despedido deles e ali nos braços dele adormeço novamente.
Acordo com as vozes conhecidas da minha irmã Maria Clara e do Erick. Vou direto para o chuveiro, depois de um banho demorado vou em direção a sala, vejo que Clarinha está com o olhar triste e rosto abatido, é muito triste ver minha menina assim, ela só tem quinze anos e não deveria passar por tanta dor, dou um beijo em sua testa e ela dá um sorriso triste que me parte o coração.
Vou dar um beijo em Erick, e logo vou em direção a cozinha seguida por ele.
– Está tudo bem? – pergunto.
– Julia fiz algumas ligações e consegui um comprador para o bar, ele fez uma ótima oferta.
– Erick eu não estou com cabeça para isso, podemos ver isso depois?
– Não Julia, ele vai nos encontrar hoje às 15hs no bar para fecharmos negócio - Penso em argumentar, mas ele sai me deixando sozinha.
Sigo de carro para o bar com Erick, ele está muito quieto, quero perguntar o que ele tem, mas respeito seu silêncio. Chegamos ao bar meia hora antes do tal comprador, olho para o bar que foi a vida toda do meu pai e uma onda de emoções me atinge. Lágrimas começam a rolar por meu rosto e Erick me abraça.
– Isso vai passar Julia, depois que o bar for vendido e você retomar sua vida tudo isso vai ser suportável.
– Como Erick? Dói demais saber que não vou mais entrar aqui e ver meu pai atrás daquele balcão fazendo piadas para os clientes, e minha mãe naquele palco cantando para alegrar o ambiente.
– Eu sei, mas você vai ficar bem, depois que o bar for vendido e a Maria Clara estiver em um bom internato sua vida vai voltar a ser o que era antes.
Afasto-me quando ele termina de falar. De onde ele tirou que vou me separar da minha irmã?
–Mas quem disse que minha irmã vai para um internato?
– Julia vai ser melhor pra ela e para você, não vamos ter tempo de cuidar de uma adolescente.
– Eu vou ter tempo, a minha irmã vai para onde eu for!
– Julia pensa direito, você não está sendo coerente. Se o problema for dinheiro eu pago a escola e vou me certificar que seja a melhor da cidade.
– Erick não tem nada a ver com dinheiro, a Clara é minha única família - digo tentando fazer com que ele entenda.
– Você tem a mim agora e também tem a sua faculdade, você não tem tempo nem de cuidar de você mesma Julia, ela ficará melhor em uma boa escola – não posso acreditar que ele está me falando isso.
– Não vou me separar dela.
– Meu Deus Julia! Você não vê que isso vai nos atrapalhar? Você só tem dezoito anos, você não precisa de toda essa responsabilidade.
Perco a paciência, será que ele não vê que acabamos de passar por um momento difícil e precisamos uma da outra?
– Fale por você, ela fica comigo Erick. O que você está me pedindo é cruel para uma menina que perdeu os pais há quinze dias.
– Julia eu já disse se for pelo dinheiro – não deixo ele terminar e começo a gritar.
– Chega Erick! Cala a boca! – ele me olha com raiva ao dizer.
– Julia eu não vou ser babá de uma pirralha órfã que só sabe chorar – ele para de falar no momento em que acerto um tapa em seu rosto.
Fico perplexa com a minha atitude, mas na hora da raiva não pensei direito, tento me desculpar.
– Erick me desculpa, eu... Não sei por que fiz isso – ele me encara com mágoa.
– Olha eu sei que você está nervosa, eu entendo, mas pare de agir como se fosse o fim do mundo, seus pais estão mortos chega de se lamentar.
Meu Deus onde está o homem carinhoso e gentil por quem me apaixonei? Sinto que mais lágrimas estão ameaçando cair, mas as seguro e respiro fundo.
– Saia daqui Erick - as palavras saem parecendo um sussurro, mas percebo que ele as escutou.
– Julia não seja idiota, pensa direito.
– Some daqui, saia agora, eu nunca vou deixar minha irmã, você que é um imbecil por pensar isso – ele me encara e eu volto a repetir – Sai daqui agora.
Erick sai sem olhar para trás, quando ele bate a porta atrás de si me sento atrás do balcão e choro, choro até sentir que minhas lágrimas secarem.
Ouço a porta ser aberta e acho que Erick voltou me levanto rapidamente, mas quem vejo é apenas um homem de meia idade segurando uma pasta.
– Posso ajudar senhor? – pergunto já de pé.
– Acredito que sim. Vim para negociar a compra do bar – ele vê que não digo nada e pergunta – Você é a Julia?
Ouvir aquilo me dá um aperto no peito, será que tenho coragem de vender o lugar que vivi os melhores momentos ao lado da minha família? Ele me olha ainda esperando uma resposta.
– Sou sim – Estendo a mão e ele aperta.
– Prazer Paulo. Então vamos negociar?
Olho por toda a extensão do bar e meus olhos param em uma foto minha com toda minha família, meus pais parecem tão felizes e naquele momento tomo uma decisão e sei o que fazer.
Encaro o homem que aguarda uma resposta.
– Desculpe senhor, meu bar não está mais à venda, pelo contrário, vou abri-lo novamente.
– Como assim? Hoje mesmo falei com Erick e ele disse que o bar estava à venda e que eu poderia vir aqui acertar tudo com vocês.
– Ele se equivocou senhor, como eu disse não está.
– Você tem certeza, posso pagar um valor acima do combinado.
– Obrigada, mas não. Esse bar foi dos meus pais e eles lutaram muito para torná-lo o que é hoje, como disse ao senhor eu vou reabri-lo.
O senhor resmunga alguns palavrões e sai do bar batendo a porta com mais força do que eu acreditaria que ele tivesse. Olho novamente para o bar e um sorriso brota em meu rosto, uma felicidade aquece meu coração. Olho novamente para a foto.
– Eu vou conseguir e vou dar muito orgulho a vocês.
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Atração - Série Irresistível - COMPLETO
RomanceJulia Rodrigues tem a vida virada de ponta cabeça, quando em um trágico acidente perde seus pais. Com o término do namoro e a responsabilidade de cuidar de sua irmã mais nova, July amadurece e se torna uma mulher forte e determinada. Como DJ e dona...