Suas mãos tremiam e lágrimas caíam de seus olhos constantemente. Catarina não acreditava que aquilo havia acontecido com ela, logo com ela.
Em todos os jornais, seu nome está estampado como a pobre adolescente que foi estuprada em sua própria casa. Todos a viam como uma coitada, uma garota mulher de vinte anos, que não soube se defender nem do próprio padrasto. Era torturante ver os comentários de pena, ou até mesmo os que a culpavam pelo ato. Como poderiam dizer que ela havia provocado aquilo? Ela nem mesmo gostava do homem, quanto mais o provocar sexualmente, ou de qualquer outra forma.
Sua mente estava perturbada, nada soava coerente. Ela desejava se matar e acabar com toda aquela dor que residia em seu coração e em sua alma. Sentia-se quebrada, destruída. Sabia que nunca mais seria a mesma. Nunca mais seria a garota feliz que um dia fora, e nem sabia se teria condições de ser. Ela estava dilacerada.─ Positivo! Porque comigo, Deus? ─ E o inesperado, mas não impossível, aconteceu. Ela estava grávida e como a maioria das pessoas quando se encontram na beira no precipício, culpando a Deus sobre isso.
Como ela poderia carregar em seu ventre o filho de um monstro?
─ Eu não quero esse bebê, eu não quero isso! ─ Catarina gritava aos céus, ela só queria nunca ter vivido aquilo.
Soluços altos preenchiam o silêncio do ambiente, e o choro da da garota se tornava cada vez mais alto. Seu corpo dava solavancos e ela só desejava que aquilo fosse um terrível pesadelo. Mas infelizmente não era, e Catarina não estava preparada para lidar com aquilo.
Só Deus sabia o quanto ela se sentia esgotada. Não sentia nenhuma vontade de viver, e a droga do resultado positivo só a fazia se sentir pior.
O que ela havia feito de tão errado para merecer todo aquele sofrimento?Mas ela não teria aquele bebê. Não sentia nenhum amor por ele, e sabia que nunca seria capaz de sentir. Não queria mais lembranças daquele monstro do que já tinha. Catarina definitivamente não queria aquele bebê.
─ Como você se sente, Catarina? ─ A psicóloga perguntava para ela.
─ Normal, até porquê eu só fui estuprada e agora estou esperando um filho desse monstro, não poderia está melhor, não é? ─ A ironia e o sarcasmo transbordavam por suas cordas vocais.
─ Ele pode ser o filho de um monstro, mas ainda continua sendo seu, certo? ─ A médica perguntava, olhando diretamente para ela, como se estivesse estudando-a
─ Até eu tira-lo do meu corpo, eu não ter essa coisa ─ Catarina dizia com desgosto
─ Por que?
─ Não irei ser capaz de amá-lo ─ E uma lágrima escorreu pelos olhos da garota
─ Não pense assim, ele é seu filho e você irá o amar muito, tenho certeza ─ A médica tentava mudar o jeito de pensar da garota
─ Não tente me fazer mudar de ideia, eu tenho a lei do meu lado, e irei usá-la a meu favor!
─ Pense bem, Catarina...
─ Não adianta. Eu tenho esse direito, e irei usá-lo. Nada do que você diz irá mudar minha decisão. Essa decisão é minha, ao menos essa.
Lágrimas escorreram dos olhos da garota.
─ Eu não queria estar aqui, eu odeio esse lugar, eu nem sei porque, mas eu odeio você também. Eu não aguento ficar perto da minha família, eu não quero viver, e esse feto dentro de mim só cresce a minha vontade de morrer ─ respirou fundo. ─ Você diz que eu o irei amar, porque não foi você quem foi violada. Não foi você quem sofreu nas mãos daquele homem, não é você que virou assunto de todos, não é você quem está perdendo a vida como eu. ─ sua voz não passava de um sussurro. ─ Esse feto me entristece mais do que já estou triste. Ele é parte daquele homem, eu não o quero. Eu não quero nada que parta dele, perto de mim, ou dentro de mim.
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Catarina - Oneshot
AcakDe acordo com a lei, aquelas mulheres que engravidarem de um estupro, terão apoio do governo e podem vir a praticar o ato do aborto, sem punições. Catarina foi vítima de abuso sexual por seu próprio padrasto e engravidou do mesmo. Para ela, sua vida...