Capítulo Único

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Mais uma vez, Coração voltava para casa depois de uma das guerras habituais. A cada dia que passava, ele voltava mais abatido e machucado. Estava perdendo a guerra. Razão, sempre sentada em sua cadeira de balanço, observava Coração remendar seus pedaços. Quanto mais dias se passavam, mais ficava difícil para Coração remendar-se. Razão assistia aquilo com certa dúvida. Por que ir todos os dias á uma guerra já perdida? Por que remendar-se para ser novamente ser ferido? Razão não era capaz de compreender os motivos de Coração para continuar com aquilo. Um dia, quando Coração voltou para a casa em uma situação crítica novamente, Razão resolveu perguntar:
-Coração, você me desculpe, mas não consigo entender, você sai todas as manhãs para a guerra e volta todas as noites cada vez mais machucado. Então por que continuar indo?
Coração, sem desviar os olhos da linha que remendava seus machucados, respondeu:
-Bem, meu amigo. A resposta é simples: quando se trava uma guerra com o Amor, é quase irreversível estender uma bandeira branca.
-Mas, Coração, basta você não ir mais. Está na cara que essa guerra não te faz bem, ela está te destruindo. Não vá mais ao encontro do Amor, deixe ele vir ao seu. Quem sabe assim, ele estenda a bandeira branca?
Coração se calou e continuou a se remendar. Razão tinha até certa pena, sabia que não era nada fácil para Coração, mas ela sempre acreditara que com um pouco de esforço tudo é possível.
No dia seguinte, lá ia Coração para a guerra. Razão bufou, queria ir até lá e tirar esclarecimentos com esse tal Amor, mas sabia que não nada que ele fizesse mudaria o rumo de Coração se ele não ajudasse.
Dias se passaram, semanas, meses, e coração continuava indo a guerra contra o tal do Amor. Até que um dia, ele ficara sem linha para se remendar. Haviam tantos machucados que nem a linha ajudava tanto assim. Ele estava morrendo. Sabia que precisava tomar uma atitude, mas não era tão fácil. Razão não compreendia o quando o Amor é poderoso e de certa forma, Coração bem que queria não compreender também. Razão percebeu que naquele dia, seu amigo deixara seus machucados sangrando e se mantinha pensativo.
-Algum problema, Coração?
Voltando para a realidade com aquela pergunta, Coração se virou para Razão com um olhar incrivelmente triste.
-Eu não quero mais guerriar, Razão.
Razão queria soltar fogos, mas não o fez. Foi até a estante que compartilhavam e pegou seu livro favorito. Razão se sentou e começou a ler, aquilo, de algum jeito, acalmava Coração. Eles fizeram isso por meses, até o amigo estar curado não só externamente, mas como internamente também.
Quando terminaram o livro, Coração resolveu visitar o antigo campo de guerra, onde passara tantos dias obscuros. Razão esperava pelo amigo ansiosamente na varanda. Será que ele se entragaria novamente? Será que depois de tanto tempo, ele voltaria a ser o que era? Sua resposta veio algumas horas depois, junto com o sorriso de Coração. Ele explicara toda a história, não havia mas um campo de batalha, havia um bosque com flores e cheiros de todos os tipos. E bem, Amor estava lá, mas não era o antigo Amor. Esse Amor era receptivo, gentil e amigo. Coração passara anos visitando o novo Amor, e nunca, em nenhum momento, Coração precisou de linha novamente. Enquanto caminhava com Amor, ele se lembrava da frase que Razão lhe disse naquele dia que vira o novo Amor pela primeira vez.
-O Amor não é mal, meu amigo. Você só entrou na guerra errada, com o Amor errado.

O Coração e a RazãoOnde histórias criam vida. Descubra agora