Guilherme Hernandez Filho
Nasceu em Santos/SP, pseudônimo: Aderaldo.
Contato:
guilherme.hernandez@amcham.com.br
Toninha e Maribela
– Sinto este cheiro de mato, misturado aos dos escapamentos. E mais, de árvores, plantas e flores. Estes jardins devem ser lindos. Queria tocá-los, será que podemos?
– Também sinto os cheiros, sim. E este ventinho nos cabelos, que delícia, muito agradável. Traz mais aromas no ar. É minha primeira visita ao litoral. Agora que viemos estou até emocionada e acho que poderíamos vir mais vezes, concorda?
– Maribela, veja que sol forte. Sentes em teu rosto?
– Tá de gozação? Percebo, é claro, mas ver não dá não, né?
– Me dê a mão, desçamos para a areia, estou percebendo que parece ter um grande degrau.
– Nossa como esta areia está escaldante. Vamos chegar logo nessa água. Ouça o marulhar, sinta a maresia, o calor do sol, que até arde a pele da gente.
– Então isto é praia? Quase posso enxergá-la. Escute as crianças brincando. Muitos barulhos e conversas. Parece que tem muita gente, não? Devagar para não trombar com ninguém. Upa! Que é isso? Ah, é um grande guarda-sol. Desculpem.
– Não tem problema, não, disse a pessoa embaixo do guarda-sol. Cuidado para não tropeçar nos brinquedos aí no chão.
– Ouça, tem água de coco para vender, escutou? E o cheiro de milho verde cozido? Este outro será de pastel frito? Sentes?
– Oh dona, não tá vendo o nosso campo de futebol? Cuidado com a bolada, falou um que jogava.
– Cara, você é que não tá vendo, não? Elas são ceguinhas? Deixe elas passarem em paz, disse o outro jogador.
– Vamos logo dona. Não quero perder meu gol, reiterou o primeiro.
– Sentes o mar? Molhei meus pés. Ah, que delícia! A areia molhada, a água a bater e lamber meus tornozelos. Vou sentar aqui e ficar brincando com ela. Sinto-a escorrer pelos meus dedos e pingar no meu pé. Não sei a cor, mas este, sem dúvida, é o dourado de que falam os livros, ao descreverem as areias de praia.
– Toninha, sempre pensei que eu nunca iria compreender o que é uma praia, mas agora posso senti-la. A areia, quente e fina, na parte alta; dura e fria, na parte baixa. Úmida, pois banhada pelo mar, que não cessa de quebrar suas ondas, constantes, pequenas na borda, e já maiores e mais fortes quando se chega um pouco mais para o fundo. Sinto nas mãos a espuma que se forma sobre ela, à medida que passam quebrando. Bolhas estouram, continuamente. E o sal destas águas? Você imaginava que fossem tão salgadas? O vento joga respingos de água para o alto, levanta e aumenta esta mescla de cheiros. Agora sou capaz de entender isto tudo.
Guilherme Hernandez Filho