Capítulo 9

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Índia 🍃
Eu não estava nervosa, juro. Mas o dia com ele, tinha revelado bastante coisa. Me doía, ter pensado tão mal dele. Alguém que, era aparentemente tão bom. Enquanto caminhava, agora ao seu lado, tive a impressão de sentir arrependimento em seu olhar. Toquei meu cabelo mais uma vez, eu não era a índia a qual ele procurava, mas ficava me perguntando aonde estava aquela menina, que tocou as mãos ainda inocentes de Amon. Ela poderia tê-lo, ela sim, poderia convencê-lo. Mas quem era eu? A mulher que aceitou tomar um chá com ele? A futura empregada ? Sim. Essa era eu.
Não a índia de mecha branca e pena de gavião, eu poderia ser ela? Não... Não poderia .
Quando paramos de andar, me dei conta de como era grande o casarão. Também me dei conta, do silêncio que estava, até ele dizer:

- Vou mandar chama-la. Pode se sentar na varanda se quiser .

- Tudo bem...- mas quando ele começou a se mover, senti o peito apertar e o segurei. Ele me olhou como se sentisse triste? Nao sabia bem, então o abracei. Nao era algo sensato a se fazer. Mas ele retribuiu. Os braços mais fortes do que aparentavam, contornando minha cintura sem dificuldade, encostei o rosto em seu peito, quente. O sol havia esquentado sua roupa, o deixado confortável, pra uma tarde com ventos frios como aquela. Os olhos castanhos estavam fechados e seu queixo encostado em minha cabeça. Pude imaginar, a dama com quem iria se casar, se ela ficava contente com esses abraços. Se ela gostava, ou se estava com ele por causa da elite, do nome, do brasão. Sua mão subiu por minhas costas e depois desceu. O carinho fez com que eu me sentisse na mais tranquila cachoeira, provando do melhor carinho de correnteza. Lembrei de casa, da minha mãe e respirei fundo.

- Como conseguiu...captar o cheiro das melhores flores, nos fios dos seus cabelos?

- eu...talvez conviva bastante com flores. - falávamos baixo. Como se fosse segredo.

- Ah Melissa...- ele suspirou, e seu braço ficou rígido, meu peito doeu. Me senti quebrada, apesar de eu mesma ter o dito, que meu nome era este, gostaria de ouvir nesse sussurro, meu nome. Meu verdadeiro nome.

- é melhor você ir. - me afastei e ele me olhou, como se me dissesse pra nao fazer aquilo. Como se eu pudesse passar dias em seu abraço. Mas eu nao podia. Eu nao era a dama, eu nao era se quer, algo dele. Eu era uma índia e como dizia o pai dele " fraca, um nada".

- Eu...eu...vou. - ele se virou e subiu as escadas que davam a porta. E de lá sumiu nos adentrares da casa . Pouco depois o vento forte soprou, o cheiro de cachorro molhado, era forte agora que Amon e seu perfume não estavam perto. Do lado de uma árvore, pude ver Maná, corri até ele. Mais próxima, pude ver, a ponta de sua orelha fora arrancada e sangrava.

- Maná...- chorei, - o que houve com você?
Em seu pescoço, havia um bilhete enrolado, peguei-o e li.
"Amélia, uma índia deserdada das aldeias finais. Tu traiste seu povo, tua nação. Teu amigo, fiel , mesmo contra as ordens deu as costas à aldeia, carregando tua bagagem. Fiel, repito. Espero que tenham um lugar onde ficar. Triste, ter uma índia tao poderosa, sobe influência dos hipócritas. Como punição, que não estavas aqui para recebe-la, castigado foi, teu fiel. Lembre-se, que nesta aldeia, nesta nação e neste povo, não és mais bem vinda".
Maná tinha ao lado, todos os meus pertences. Da sacola, peguei um pano e comecei a cuidar de sua orelha

- Perdoe-me amigo, perdoe...eu nao quis lhe fazer mal... Eu...- barulhos , olhei para trás, e vi a porta se abrir, me levantei. - não, se mova. Eu volto.

Quando me desbrenhei da sombra da árvore Amon estava parado olhando em volta:
- Ai esta você...eu estava te procurando minha mãe te pediu pra esperar, porque ela esta...

- Preciso de ajuda.

- Melissa, você esta bem? - foi então que notei, manchas de sangue em meu vestido azul.

- tem um animal ferido logo ali, e a culpa é minha. - tentava lutar com as lagrimas.

- Fique calma, vou pedir pra chamar um veterinário e já vamos pra lá.

- N-nao! Só você...nao quero que o vejam... É meu animal de estimação.

- você tem um bicho de estimação?

- t-tenho...mas é bem incomum...por favor, nao chame os caças. - seu olhar pesou de preocupação e ele disparou na minha frente em direção a mata, corri para alcança-lo. Mas era tarde, ele já estava parado de frente para Maná, que nem o olhar levantava. Estava fraco, bastava um único golpe...

- este é seu bichinho? Que tipo de maluca é você? Uma pantera? Carnívoro perigoso!

- não, ele é dócil, fui criada com ele na fazenda, por favor, Sr.Amon..só precisamos de algo para cura-lo.

Seu olhar, era severo. Mas ele concordou.

- Tem certeza, de Que este bicho nao vai atacar nem a mim, nem a ninguém?

- Absoluta.

- entao, esconda essas manchas com algum pano , e vá. Eu cuido disso aqui. - meu rosto estava inchado, pude perceber, me abaixei e beijei a testa de Maná, peguei um pedaço velho de renda e olhei para os dois

-Onde encontro vocês , depois?

- Vou leva-lo, pra minha oficina, onde passo meu tempo livre. Vou deixar ordens à um criado pra te levar lá, logo depois de acomodar seu amigo.

- Obrigada , Sr.Amon. Logo, logo arranjo um lugar pra nós ficarmos.- me afastei com o coração na boca, Amon saberia cuidar dele? Cuidaria dele? Maná seria bonzinho? O que estava acontecendo? Porque estava tudo tão confuso?...
Subindo as escadas, vi tudo girar. Me apoiei no grande batente de gesso e respirei. O nó que tinha se formado na minha barriga, queria me fazer vomitar. Mas eu precisava entrar e conquistar a confiança de Margarida. Ou melhor, Sra.Amon de Valentin. Que usava seu nome de solteira, agora que o pai de Amon, havia morrido.
Entrei devagar, e o piso da soleira rangeu, logo afrente o chão se tornou o mais liso mármore e pude ver, várias portas, algo me dizia, que ela estava na porta no final do corredor. Onde o cheiro de chá era forte e se escutava um burburinho feminino. Fui me aproximando , e um mordomo, um senhor velho de aparência dócil me recebeu na porta:

- Posso te ajudar, Srta?

- Sim, deseja falar com a Sra. Valentin.

- Você é?

-Amélia .

- Amélia do que?

- hã...Amélia .... Duarte.

- Claro, vou-lhe anunciar. - foi então que percebi meu erro, e nao dava para desfazer. Havia mandando meu verdadeiro nome ser anunciado. Não fazia ideia do que ocorreria. O nó voltou e minhas mãos soavam. Senti, que meu corpo iria despencar, quando o mordomo voltou:

- Srta.Duarte, pode entrar.

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⏰ Última atualização: Mar 07, 2016 ⏰

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