Capítulo 3

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Sabe quando você está lendo um livro muito bom, ele termina e é como se a sua vida perdesse completamente o sentido por algum tempo? Você se pergunta, oque vai ocupar o espaço na sua vida que ele deixou vago, acha que nunca mais vai ler nada igual, que aquela era a melhor história do mundo e que nada vai ser melhor. Mas os dias passam e você começa a ocupar seu tempo livre com outras coisas, a procurar novas histórias, a mergulhar em novos livros. E você acha outros motivos pra amar pra amar aquela estranha nova história, encontra novos ensinamentos, novos sorrisos, novas lágrimas. E por um tempo você está completo novamente, pelo menos até o fim do próximo livro.
Sabe, começo a pensar que os amores, dentre outras ocupações como o trabalho, são exatamente como os livros, e como bons leitores que somos, temos que aprender a superar os finais, sejam eles tristes ou felizes, e seguir em frente para a próxima leitura.

E aqui estava eu, mais um dia começou, e hoje, decidi fazer tudo diferente, me tornar um livro novo, começando pela minha aparência.

Fui até o espelho e fiquei me olhando. Eu amava aqueles cabelos negros até o meio da costa, não eram totalmente lisos, tinha cachos nas pontas e tinha ondas em algumas partes. Cheguei mais perto do espelho e olhei minha franja, precisava cortar! Estava bem em cima dos meus olhos, oque já estava atrapalhando minha visão. Queria ter herdado os olhos da minha mãe, verdes, mas herdei os olhos do meu pai, castanhos.
Meus lábios estavam bem rosados, sempre foram assim, como os da minha mãe.
Eu era quase uma réplica da minha mãe na adolescência, baixa, pele clara, um corpo "bem distribuído"...

Fui para o banheiro e fiz minhas higienes bem rápido.
Vesti uma calça jeans azul-escuro, uma blusa listrada sem mangas, um moletom cinza pois estava um pouco frio, um all star cano médio, fiz uma trança de lado e coloquei meu óculos. Sim, eu usava óculos!

Peguei meu celular, coloquei no bolso, peguei minha câmera e desci as escadas. Meu pai tinha feito o café da manhã e saído. Já eram 10:30. Peguei uma maçã e sai.

Eu estava saindo a procura de uma nova história pra mim.

Peguei minha bicicleta na garagem e fui em direção a praça mais próxima da minha casa, que na verdade não era tão próxima assim. Eu lembrei que antes, a um tempinho atrás, eu gostava de pedalar tanto quanto gostava de fotografar. Gostava de sair pedalando pela cidade sem um rumo certo, em todo canto eu via algo bonito pra fotografar e eu amava aquilo. Mas agora, alguma coisa havia mudado em mim. Eu não via mais graça em nada.

Chegando à praça, deixo minha bicicleta junto as outras que haviam lá, peguei minha câmera e sentei em um banco vazio. A praça estava cheia de crianças, embora fosse 10:45 de uma manhã de domingo. Elas estavam felizes e sorridentes, sem nenhuma preocupação...

É... às vezes da saudade de ser criança. De não ter que se preocupar com nada. Os únicos machucados eram os ralados no joelho depois de tropeçar na rua. O único medo era de escuro. A única ansiedade era esperar chegar o maldito dia em que a mãe iria nos levar no parque aquático. Tolos fomos nós de achar que "ser gente grande" era a coisa mais legal do mundo. Agora dá saudade... porque ser gente grande é mais difícil do que esperávamos.

E aqui estava eu, mais uma vez, viajando em meio à meus devaneios e lembranças, sem perceber que tinha um sorriso em meu rosto. E sem perceber quem havia sentado ao meu lado...

-Oi moça.

Virei rapidamente pro lado que vinha o som daquela voz. Eu conhecia, mas não estava lembrando. E se lembrasse, não queria acreditar. Mas quando eu vi aquele rapaz ali do meu lado, meu coração acelerou de uma forma que não sei explicar, e nem sei porque estava daquele jeito.

-Oi, Pedro...

-Te assustei? Está pálida. Desculpa, não foi minha intenção...

Ele me olhava com um olhar preocupado e arrependido. Como se tivesse arrependido de ter me tirado dos meus devaneios. Oque me deixou feliz, eu acho...

Droga De Amor (Parado)Onde histórias criam vida. Descubra agora