CLAND

Prologue

       Vaticano (Roma), Itália - 1990

       Fênix: É um pássaro da mitologia grega que, quando morria, entrava em auto-combustão e, passado algum tempo, renascia das próprias cinzas.

       A igreja sempre foi a suprema em Roma, onde se situa o Vaticano, cidade-estado que é a sede católica mundial liderada pelo Papa e seus bispos. Sinuhe habitava presa no local desde a construção da enorme igreja central desde quando fora capturada pelo próprio papa quando este soube de sua existência. Nasceu há mais de 300 anos, e quando chegava em seu estado crítico de saúde e físico, seu corpo entrava em combustão, e passados alguns tempos, renascia novamente. Era uma mulher abençoada com poderes criados para ajudar a humanidade, e assim ela fazia. Porém, puritanos de religião e caçadores sempre quiseram a extinguir da face da terra, espalhando boatos que a abominação chegara a terra para a todos atormentar, pois o homem, uma criatura tão egoísta e maldosa não aceitaria algum ser superior a ele mesmo. O lugar gigantesco que a abrigava agora, mantinha sua criatura divina em um quarto escuro, e a única iluminação que esta poderia ver era da luz que invadia seu pequeno quarto quando abriam a porta para lhe jogarem água e comida. Sua roupa era sempre a mesma, um longo vestido num tom amarelo sujo e  desgastado. O que todos nunca imaginaram, foi que um destes bispos, o mesmo que a mantinha suprida com alimentos todos os santos dias, sempre amou a mulher incondicionalmente, de forma que sempre levava um pequeno bilhete escrito e posto colado em baixo do prato e um esqueiro pequeno, mas potente, para que então ela pudesse lê-lo. E assim comunicavam-se sempre que podiam, ele trocando palavras de motivação com uma paixão discreta, que tornava-se cada dia mais forte e direta. Já ela, apenas sorria para o homem que lhe a motivara desde o primeiro dia em que fora aprisionada. Em um certo dia, tudo continuava da mesma forma, até que a revelação foi feita.

       Sinuhe estava acorrentada da cabeça aos pés, sentada com as pernas cruzadas ao canto do quarto, como sempre estivera. Sua face era a mais linda já vista por muitos. Tinha a pele clara, olhos de um castanho-avermelhado brilhantes como cobre. Seus cabelos eram longos e levemente ondulados, de uma cor castanho escuro. Tinha o corpo esguio, com pernas longas e esbeltas. Seus músculos podiam ser poucos, porém eram bem distribuídos e ela sempre estava em boa forma. Possuía as mãos delicadas, e estas eram tão macias que pareciam a pele de uma criança recém nascida. Sua cabeça estava encostada na parede ao seu lado, e ela olhava calma e serenamente para o que acreditaria ser o horizonte naquela escuridão devastadora. Por mais que sentisse uma forte tristeza que beirava à depressão todos as noites e dias não vistos, sempre estava ansiosa e curiosa para ler o próximo cartão de seu admirador

       De repente a porta ressoa batidas suaves e firmes. Quando a porta se abre, o sorriso daquela mulher tristonha também ressurgiu, esperando com grande felicidade ler o próximo bilhete. Lá estava ele, um homem que demonstrava ser o mais bonito para ela, que embora não visse seu corpo devido a roupa que o cobria do pescoço para baixo, seu rosto era o mais atraente possível. Ao adentrar para repousar os alimentos próximos a mulher, via-se ali que era verdade o que ela assim pensava. O homem tinha um maxilar médio, coberto pela barba aparada. Seu nariz era afilado, e suas bochechas estavam sempre coradas devido aos encontros vez ou outra com a moça. Seus olhos eram cinzas como as próprias cinzas, e seus cabelos embora curtos, eram finos e grisalhos. Ao deixar o prato perto da mulher, olha para a mesma de soslaio e esboça um sorriso calmo e delicado, e em seguida retira-se do quarto, percebendo o olhar de sua amada o seguir até a porta. Com grande curiosidade e ansiosa para ler o que tinha lá desta vez, ela rapidamente tirou o papel de baixo de seu prato, não ligando muito para a comida. Acendeu o esqueiro com o máximo de cuidado para não queimar o papel agora amarelado pela luz que ele emanava.

      "Bem, olá. O momento em que você está lendo isso é noite, por volta das 16:30. O céu está lindo hoje, as nuvens quase não o habitam e ele tem um tom avermelhado, como se fosse o meu amor gritando por você de todos os lados, querida. Eu não posso mais esperar, então vou lhe contar tudo que tiver para contar. Eu amo você, com todas as forças que já tive em minha vida, desde o primeiro momento em que olhei em seus olhos tristes sabia que meu coração seria seu. O Papa e os outros bispos irão sair da igreja hoje a noite, pois vão à um encontro com outros religiosos em outro país. Queria lhe fazer um convite, para que você viesse comigo. Fuja comigo, minha querida, venha comigo e nós construiremos uma vida longe disso tudo. Me aguarde, pois eu irei voltar logo logo.