Capítulo 2: No Hospital

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Quando cheguei ao hospital, perguntei imediatamente à enfermeira mais próxima onde estava o André. Ela conduziu-me até a uma sala de espera, onde ele estava sentado numas das cadeiras azuis, com os cotovelos apoiados nos joelhos, e as mãos a esconder-lhe a cara. Reconheci-o apenas pelo cabelo preto revolto e a t-shirt do 'capitão américa' azul e vermelha que trazia vestida, a que a Rita lhe tinha dado no seu último aniversário.

Olhei para ele e seguidamente para a enfermeira, confuso. Ela compreendeu o meu olhar, sorriu muito suavemente e disse: "vá falar com ele".

Cautelosamente, caminhei até ele, tentando desvendar na minha cabeça o que é que se teria passado. E porque é que me tinham chamado se ele estava bem. Quer dizer, ele não estava bem, obviamente, mas não parecia ter quaisquer problemas físicos ou feridas.

Pus-lhe uma mão no ombro, e só aí é que ele notou a minha presença, olhando para mim enquanto eu me sentava na cadeira vaga ao lado dele. Tinha a cara pálida, molhada das lágrimas que lhe caíam dos olhos inchados.

"O que é que se passou, André?", perguntei, um pouco a medo.

"Eu.. eu... é a...", começou aos soluços, desabando em lágrimas.

"André!" disse, abraçando-o.

"É a Rit-ta!", gritou por fim, no meio de soluços.

"André! Calma mano, calma", disse-lhe, tentando acalmá-lo.

"M-mas a cul-cul-culpa é m-minha. Eu devi-vi-via tê-l-l-la vigiad-do melhor. Ela agor-r-ra 'tá n-naquel-la mac-ca e a culpa é m-minha. Foi horrí-ível, Bruno! I-iamos b-buscar gel-l-lados para n-nós, mas e-e-ela q-quis ir dar m-m-mais um mergulho" contou ele, a chorar compulsivamente.

"E veio um-uma ond-da e levou-aaaa", gritou. Depois de uma pequena pausa, disse, passando de um tom de desespero para um de tristeza:

"P-pensei que a t-tinha perdido.... m-mas a verd-d-d-ade é que a-ainda nãããão tenho a cer-certeza se a vou m-mesmo pe-pe-perder"

Fiquei sem palavras, a minha única reação, passados uns segundos de ele ter parado de soluçar, foi apertá-lo com mais força. Passado um minuto ou dois, perguntei-lhe onde é que ela estava, e ele levou-me ao quarto. Bati à janela, e a enfermeira que estava lá dentro veio à porta. Permitiu a nossa entrada no quarto, mas disse que a Rita ainda estava inconsciente. O André entrou atrás de mim, mais calmo, mas as lágrimas escorriam silenciosas pelas suas bochechas.

Olhei algum tempo para ela, a analizar as feridas e nódoas negras, que ela tinha na cara e nos braços; eram, na sua maioria, arranhões. Provavelmente da areia.

Para quebrar o silêncio pesado que se intalara na sala, depois da saída da enfermeira, perguntei ao André se ele não queria ir comer algo, para quando a Rita acordasse, ele tivesse forças para a abraçar, porque, afinal, ele não comia nada desde as 18h, mais ou menos. E eram 3h21!

Depois de alguma persistência da minha parte, ele lá aceitou. Entretanto, eu já tinha chamado a enfermeira para ficar a cuidar da Rita, para o André ficar mais descansado.

Fomos ao McDonald's mais próximo, e eu paguei-lhe o jantar e ainda um gelado. Temi que ele não pegasse na comida, mas era do André que estamos a falar. Se há coisa que ele gosta, é de comida!

Voltamos para o quarto às 4h19. Consegui que ele falasse um pouco do dia deles. Ele inclusive contou-me que no dia a seguir fariam 3 anos de namoro, e que ele lhe tinha comprado o relógio que ela andava a poupar dinheiro para comprar.

Enquanto caminhávamos do parque de estacionamento do hospital para o quarto, consegui distraí-lo um pouco. Começámos a falar de carros e de jogos. É óbvio que ele não estava feliz, mas pelo menos as lágrimas já tinham parado, e consegui que ele esboçasse um sorriso ou dois.

Quando chegámos ao quarto e vimos a Rita, notei que a expressão carregada dele regressou ás suas feições. Uma lágrima tentou escapar-se pelo canto do seu olho, mas ele não a deixou sair.

Ele deu dois passos, virou-se e sentou-se aos pés da cama. Pegou na mão dela e começou a acariciá-la. Eu fui sentar-me numa cadeira que estava ao lado da mesinha de cabeceira dela, a observar a cena, com medo pela vida dela... e pela do André.

Passados dez minutos, oiço a voz dela debilmente a chamá-lo. Era ela. Ela tinha acordado.


Chamadas às 3 da manhã...Onde histórias criam vida. Descubra agora