Amélia

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Eu sei que o que vou dizer agora pode soar meio melodramático.

Finais felizes não existem. Não existe aquele amor a primeira vista que os filmes nos contam ou aquele amor eterno. Aff, isso não passa de um conto de fadas.

Então eu vou te contar um segredo, meu mantra de vida:

Não espere muito das pessoas.

Um cara não vai te amar incondicionalmente, aceite a verdade, pode durar alguns meses, alguns anos, e é só.

Eu sei o que está parecendo, que eu tive uma desilusão amorosa, e para falar a verdade, eu realmente tive uma. E acreditem em mim quando eu disser que uma é o suficiente.

Existem dois tipos de pessoas, as que dizem que o copo está meio cheio e as que dizem que está meio vazio. Eu sou a do segundo tipo, em compensação, Miguel, é a do primeiro. Acho que é por isso que nos damos muito bem juntos.

Miguel é meu melhor amigo desde a época do colégio, no começo brigávamos muito, discutíamos sobre qualquer assusto, ele tinha um poder sobrenatural de discordar de tudo que eu falava. Com o tempo as brigas foram parando e as discussões diminuindo e acabamos percebendo que tínhamos muitas coisas em comum. E eu acabei descobrindo que ele não era um babaca arrogante ou pelo menos não tão babaca e só um pouco arrogante.

Eu acho que a única coisa em que eu ganho dele (além das discussões e brigas) é na arrogância. Não que eu pense que sou melhor que todo mundo e essas coisas, mas eu sou grossa e rude, então todos acabam pensando que eu sou muito arrogante.

Enfim, deixando tudo para lá, hoje vou me encontar com Miguel em um parque. Eu só concordei em ir para fazê-lo parar de falar. Ele não calava a boca e eu não podia dar um beijo nele, isso seria estranho.

Estou indo para lá de bicicleta. Eu sei o que vocês estão pensando, que eu não tenho cara de garota que anda de bicicleta. Pois é, eu sou uma caixinha de surpresas.

Vou pedalando a uma velocidade razoável para quem está atrasada. Quem eu quero enganar, estou praticamente correndo com a bicicleta.

"Licença." Grito para as pessoas sairem da minha frente. "Licença." Grito mais uma vez.

"Desculpe!" Sou obrigada a dizer por quase atropelar uma senhorinha que com o meu quase esbarrão deixa cair um papel no chão e como minha mãe me deu educação paro e ajudo a velha senhora. Desço da bicicleta o mais rápido que consigo e pego o pequeno papel. Quando o olho mais de perto vejo que é uma foto bem velha de um jovem casal. "Desculpe, desculpe, desculpe." Digo depressa demais para que alguém me entenda. E sem me dar conta analizo a foto por tempo demais.

"É a senhora?" As palavras escapam da minha boca. Olho diretamente para seu rosto, seus olhos estão inchados e vermelhos. "Desculpa, não quis me intrometer." Digo tentando amenizar o solavanco de emoções que a velha senhora deve ter sentido com a minha pergunta.

"Meu finado marido e eu." Sua voz é meiga e  bem emotiva.

"Sinto muito." Não consigo me segurar e digo: "A senhora o deve ter amado muito."

"Ainda o amo." Sorri. Seu sorriso é sincero, talvez o mais sincero que eu já tenha visto.

"Ele também." Digo incapaz de mentir. Devolvo a foto para a senhora que a pega com as mãos em concha, como se fosse uma pequena joia (e talvez fosse).

"Obrigada." Diz bem suavemente, um agradecimento (quem sabe) não para mim, mas para si mesma.

Subo em minha velha companheira, de um azul escuro descascado. E sigo minha corrida pelo parque. Tínhamos marcado de nos encontar embaixo de uma árvore. E adivinha: há centenas de árvores aqui. Então continuo procurando e milagrosamente o encontro em um dos vários possíveis locais marcados.

Um Amor ImpensávelOnde histórias criam vida. Descubra agora