Parte Unica

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Gosto de guardar coisas pequenas. É uma mania estranha, mas bastante válida. Brincos que papai, mamãe e parentes me presenteavam eu tinha em caixinhas coloridas, organizados por tamanho cor e forma. Detestava que outra pessoa além de mi mexesse nelas, anéis, era o que papai mais me dava, e eram todos especiais, mas um sempre me chamava mais atenção. Ele tem uma pedra esverdeada e é dourado. Ele trouxe para casa e me deu, eu era ainda muito pequena, e naquela época nem cabia nos meus pequenos dedinhos.

Naquela tarde cinza e chuvosa, que estava na casa dos Nolan, cuidando dos filhos do casal. Minha mãe insistiu para que eu fosse, por causa do dinheiro que eles pagariam por dois dias e duas noites.

O casal viajava muito e nem sempre as crianças podiam acompanha-los.

Ana a antiga babá trabalhou na casa até se formar, e então foi embora sem muitas justificativas, depois de quatro anos ali. Depois disso, as babás eram diferentes quase todos os meses.

Eu estava ali assim, como muitas nas semanas anteriores, pelo pagamento. Televisão em todos os quartos, com serviço pago, comida a vontade, um cartão com uma conta onde o casal controlava os gastos, para os filhos. Eles eram até bem prestativos. Me deixaram controles e chaves de todos os cômodos, os quais os filhos não deviam mexer. Eu podia ligar para um taxista de confiança deles, que me levaria para onde eu quisesse, sem me preocupar.

Quanto aos garotos, não tinha muito com o que me preocupar também, pois eles era super quietos, na deles, não ficavam gritando ou correndo pela casa. Eu também não tinha muita paciência com crianças então era melhor que fosse assim mesmo.

- Loiza?

Chamou Camile, a menina havia completado seis anos a duas semanas, e ainda estava muito encantada e distraída, descobrindo os brinquedos que ganhara, e foram muitos. Entre eles uma casa de bonecas com um metro e meio de altura, quase maior que a menina. Ela veio com uma boneca quebrada ao meio.

Os raios e trovoes lá fora não paravam, havia só um chuvisco por hora, logo ia cair o céu em forma de chuva, em gotas de água pesadas, desesperadas por encontrar algo sólido.

- Arruma essa boneca para mim?

Pediu ela toda delicada e com a voz carregada de dengo, como se eu pudesse dizer não para ela sem ela contar aos pais depois.

- Claro querida.

Apanhei as duas partes da boneca e as uni novamente. A menina voltou para o quarto saltitando com a boneca nas mãos.

Jonas, seu irmão, estava na garagem com muito brinquedos espalhados pelo chão, ele montou uma pista para os carrinhos com uma pequena cidade no meio.

- Está muito bonito. – Disse a ele que apenas me olhou. – já tem nome.

Ele não me respondeu. Eu comecei a ajuntas as pequenas peças ao redor para que ele não se machucasse com elas. Ele era mais velho que Camile, tinha oito anos, e era bastante distraído. Fiquei ali por um certo tempo apenas olhando para ele brincar, que não se importou nenhum pouco com a minha presença.

Ouvi os cachorros do lado de fora latindo sem parar, e os ignorei no começo, mas eles não paravam. Fui até a janela para ver o que os estava perturbando, mas não vi nada, eles não calavam a boca, um segundo se quer.

Abri então a porta, e no mesmo instante eles pararam e olharam para mim. Um vento forte soprou para dentro, e me arrepiou inteira. Fechei a porta e massageei os braços para espantar o frio.

Jonas me olhava irritado arrumando a cidadezinha.

- Desculpe? – pedi, e levei a mão a boca para esconder um sorriso. – está com fome?

Ele disse que sim. Fui até a cozinha e arrumei um sanduiche para nós três com suco. Levei para Camile, que olhava pela janela, triste e confusa.

Fu até ela e me abaixei olhando para ela.

- O que houve Camile?

Ela apontou para fora. Eu sorri e olhei para onde ela apontava. Todas as suas bonecas estavam jogadas no pátio em frente a casa, desmontadas ou sem as roupas das pobres bonecas, tudo espalhado pela grama.

Fiquei olhando para aquilo, sem entender como foram parar lá.

- Por que fez isso Camile? – pedi a ela, ela tentou falar, mas antes que pudesse a interrompi. – Agora eu vou ter que ir até lá me molhar para pegar seus brinquedos.

Desci correndo, peguei um casaco, e fui para fora. A chuva era chata, o vento era forte, e logo meus pés estavam encharcados e sujos de lama. Tentei levar tudo de uma vez, mas não tinha espaço suficiente entre meu peito e os braços para todos, então teria de fazer duas viagens.

Entrei e coloquei a primeira parte dos brinquedos dela na poltrona próximo ao hall.

Levantei o corpo para voltar lá para fora, e vi a sala totalmente desmontada, as almofadas abertas, abajures no chão quebrados, a decoração toda destruída, as paredes sem os quadros, e tudo uma bagunça. Camile estava ao pé da escada, me encarando com os olhos baixos, demonstrando um divertimento sombrio que eu não imaginava encontrar na menina.

- Camile? – chamei irritada e decepcionada com ela. Ela nada disse. Se virou e correu para o quarto escada acima.

Jonas estava na porta da cozinha me encarando assustado.

- Você viu isso Jonas? Como ela conseguiu?

Pedi a ele. Balançou a cabeça negando , mas ainda me encarava assustado. Quando tentei me aproximar dele, ele apontou para mim.

- O que houve?

- Atrás de você.

Disse ele.

Eu me virei e um segundo depois dei um grito.

A sombra de um homem estava projetada na parede,

E ela parecia saltar para fora, não era a minha sombra pois era mais alta e de circunferência mais alargada também. Corri para o lado de Jonas e o abraçei.

- Vamos subir e ficar com Camile.

Corremos para o quarto da menina e lá estava ela agachada próximo a cama, chorando assustada abraçando as pernas. Chagamos e nos aproximamos o máximo possível dela. Tranquei a porta mesmo sabendo que aquilo era a coisa mais ridícula a se fazer.

Meu coração pulsava nos meus ouvidos, e um zumbido agitava meu cérebro, e fazia minha cabeça doer.

Ouvimos mais vidro se quebrando, e coisas sendo movidas, moveis sendo arrastados, e quebrados em seguida. Ele estava procurando alguma coisa.

Os cães lá fora latiam novamente sem parar. E o fim de tarde se aproximava. E se aquilo permanecesse ali por muito mais tempo eu carregaria os dois para a minha casa as pressas.

O ouvimos subir as escadas, e parar em algum momento, a fechadura da porta mexer, e de vagar abrir.

O vento que se seguiu fez a menina gritar e Jonas me apertar com toda a sua força. Aquilo veio para cima de nós e agarrou minha mão, como uma corda, e começou a me arrastar.

Me segurei na cama com força, mas foi inútil.

- fiquem aqui. Eu logo volto...

A sombra me arrastou para fora do quarto. E me deixou rolar escada abaixo. Cheguei ao fim tonta dolorida e já cheia de hematomas.

Ele me encarava, mesmo que não houvesse nada ali, eu sabia que me encarava, estava parado na minha frente, e eu morrendo de medo que ele viesse para cima de mim mais uma vez.

Senti algo mexer na minha cabeça.

"Sua mão?"

Ouvi, aquilo se formou na minha mente como uma frase sendo escrita. Automaticamente estendi minha mão. E aquele toque frio, veio até mim. Ficou assim por um tempo, como se o meu anel dissesse algo a ele. E depois o tirou. Foi como se o calor da sala tivesse sido roubado, e consumido por ele. Que desapareceu em seguida.

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⏰ Última atualização: Feb 16, 2016 ⏰

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Conto baseado em um sonhoOnde histórias criam vida. Descubra agora