Ser o melhor

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Fazia sete horas que ele estava ali.

O sol há muito já havia se posto. Antes resplandecente no céu, fervendo-o de baixo daquela quadra, agora já se ocupava trazendo o amanhecer para outros jovens, trazendo mais um dia de luta para aqueles que desafiam a vida cada dia em que ousam ser melhor que o anterior.

Kyoshi era uma dessas pessoas. Porém sua determinação ia além. Mesmo no meio da noite ele permanecia em sua luta particular, que, nesse caso, consistia em ser bom no basquete. Não só bom, o melhor.

Com seus dezesseis anos ele poderia muito bem – Como aconselhavam seus amigos – treinar menos. Afinal, havia era jovem e ele era o melhor jogador da região, talvez o melhor de todos colégios que já enfrentara. Mas Kyoshi sabia o que poucos sabem, a verdade interna, a diferença de ser bom e de ser glorioso. De cada dia romper as barreiras do dia anterior, de mesmo em plena juventude já ousar o maior dos títulos.

Era por isso que ele já estava ali fazia sete horas. Por isso nem por um segundo parou de encestar. De aperfeiçoar seus arremessos e pular cada vez mais alto.

Media somente 1,79cm. O que para o basquete era pouco. Porém sabia que jamais devia culpar seus gigantes oponentes por serem maiores, eles que no mano-a-mano faziam o sol desaparecer e uma enorme sombra tomar conta da quadra. Não era culpa deles serem tão grandes. Era sua de não supera-los. Se não conseguisse os passar era devido a sua falta de capacidade, de treino. Por isso pulava cada vez mais alto, por isso quebrava limites.

O suor que escorria a altura das suas têmporas e o queimado da pele era fruto de sua luta. O peito ofegante revelava esforço continuo. Não havia ninguém mais nem na quadra, nem em volta da praça. Era uma noite estrelada e quente de janeiro.

Seus olhos eram determinados, focados na cesta. Ele estava na "zona". Momento de extrema concentração onde todos os pensamentos externos de um jogador deixam de existir. Onde somente existe ele e a cesta. Um estado tão profundamente absorvido que poucos mesmo durante a partida conseguiam entrar. Para Kyoshi, inevitável era não entrar nesse estado.

Estava longe da cesta em que visava. Muito longe. Porém bastou uma piscada longa e seus braços firmes colocaram a bola a postos. Os dedos dos pés o impulsionaram para cima e logo se viu livre do chão. Os braços, antes recolhidos, impulsionavam a bola com grande firmeza, a fazendo desprender de suas mãos e cruzar o céu enquanto girava levemente. Kyoshi a observava em câmera lenta. As estrelas acima da bola criavam o mosaico perfeito, tornando ela própria parte do cenário espacial. Tudo isso pode ter durado menos de quatro segundos, contudo são tais segundos que valem mais que anos inteiros. E foi somente quando ela atingiu a cesta, sacudindo a rede, que Kyoshi se permitiu soltar um longo suspiro de satisfação.

Pouco depois ele recolheu suas coisas e partiu para casa, devia descansar se quisesse treinar no outro dia. E ele precisava se almejava se tornar o maior jogador do mundo.

E se tornou.

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⏰ Last updated: Feb 17, 2016 ⏰

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